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Estado de Minas

Dólar sobe a R$ 4,05 e bate recorde

Cotação comercial da moeda norte-americana frente ao real atinge o maior valor da história e reflete o nervosismo dos investidores com a situação política e econômica do país


postado em 23/09/2015 06:00 / atualizado em 23/09/2015 12:47

São necessárias pouco mais de quatro moedas para comprar uma das verdinhas(foto: Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas)
São necessárias pouco mais de quatro moedas para comprar uma das verdinhas (foto: Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas)

O dólar atingiu ontem o maior preço da história ao encerrar o dia cotado a R$ 4,054, uma alta de 1,83%. É a maior cotação nos 21 anos do Plano Real – antes, o pico ocorreu em 10 de outubro de 2002, quando a moeda dos EUA, entre o primeiro e o segundo turnos das eleições presidenciais, fechou a R$ 3,99. A crise política que assola o país e as ameaças à execução do ajuste fiscal – com a possibilidade de derrubada de vetos pelo Congresso Nacional que aumentam as despesas públicas – levaram os investidores a buscar proteção na divisa norte-americana. A falta de previsibilidade em relação à economia brasileira também levou a Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) a encerrar o pregão em queda de 0,7%, aos 46.264 pontos.

A cotação do dólar turismo chegou a R$ 4,270. Nem mesmo as intervenções do Banco Central estão freando a disparada da moeda dos Estados Unidos frente o real. Ontem, o BC não fez intervenções extras no mercado. Na segunda-feira, a autoridade monetária havia promovido leilões de linha (venda de dólares com compromisso de recompra) de até US$ 3 bilhões, que contiveram a alta do dólar por apenas quatro minutos.

No mercado, os analistas temem que a possível elevação de gastos do Executivo tenha como consequência o rebaixamento da nota de crédito do país por mais uma agência de classificação de risco. Caso isso ocorra, haverá uma fuga de capitais para mercados maduros, e a moeda estrangeira encarecerá ainda mais. Os brasileiros sentirão no bolso essa alta do dólar na hora de viajar para outros países ou até mesmo quando forem à padaria comprar um pão. O trigo, matéria-prima para fazer o pão francês, subirá, em média, 5% e isso será repassado aos consumidores.

Em meio às incertezas políticas, o real já desvalorizou 52,6% em relação ao dólar desde o início do ano. Essa depreciação só é menor do que a do rublo, moeda oficial da Rússia, que já perdeu mais de 60% do valor ante a divisa norte-americana. Sem a certeza de que o país conseguirá executar os ajustes para equilibrar as contas públicas, os agentes econômicos preferem comprar a moeda estrangeira para se proteger do que investir diretamente no Brasil.

Dados do Banco Central comprovam que não há falta de dólares no país. De janeiro a agosto, o fluxo cambial é positivo em US$ 11,2 bilhões e nos primeiros 18 dias de setembro, de US$ 383 milhões. O gerente de Câmbio da Fair Corretora, Mário Batistel, explicou que há oferta da moeda norte-americana na economia brasileira, mas as incertezas em relação ao futuro levam os investidores a desconfiar dá capacidade do governo de ajustar as contas públicas para tornar o país atrativo para receber investimentos.

“O preço do dólar está totalmente atrelado ao cenário de crise política. Sem previsibilidade para os próximos meses, os investidores montam posições em dólar para se proteger de qualquer problema maior. Nesse ambiente, o mercado toma uma posição defensiva. Todos temem que ocorra uma ruptura maior, que levará o país para o buraco”, comentou. Os investidores agora vão na direção oposta à que o então ministro da Fazenda, Guido Mantega, pregava em outubro do ano passado. “Vai quebrar a cara quem apostar na alta do dólar”, disse ele quando a cotação comercial da moeda dos EUA estava em R$ 2,43.

Efeitos Na opinião do sócio da Rosenberg Partners Marcos Mollica, além da crise política, o mercado questiona a capacidade do governo de executar as medidas anunciadas para equilibrar as contas públicas. Conforme ele, poucos cortes de despesas foram anunciados e o ajuste passa pelo aumento de receitas por meio do aumento de tributos. “Há uma preocupação com a falta de âncora fiscal”, disse. Para Mollica, o encarecimento do dólar aumentará as pressões inflacionárias nos próximos meses.

Na opinião dele, se nos últimos meses os repasses da alta da divisa norte-americana para os preços foram moderados em meio à recessão econômica, a tendência é de que aumentem daqui para frente. “Se o dólar permanecer nesse patamar, os empresários terão que reajustar os valores de mercadorias e serviços. E o BC será obrigado a aumentar juros, porque há um efeito carregamento para o próximo ano”, destacou. O economista-chefe da GO Associados, Alexandre Andrade, afirmou que a tendência é de que o dólar termine o ano próximo de R$ 4 e que em 2016 ultrapasse esse patamar em virtude da crise política.

Análise da notícia

Injeção direta na taxa de inflação


Marcílio de Moraes

Mais do que encarecer as viagens ao exterior, a disparada do dólar vai pesar no bolso de todos os brasileiros. É uma injeção direta na taxa de inflação do país no curto prazo, capaz de anular a desaceleração provocada pela redução dos preços dos alimentos. Com a economia desaquecida, o repasse da alta da moeda dos Estados Unidos para os preços internos não será imediato, mas será inevitável. Do trigo importado aos componentes eletrônicos para os mais diversos aparelhos, passando pela gasolina, o Brasil ampliou nos últimos anos o grau de inserção dos importados na sua economia e o preço a ser pago virá agora. Com forte influência da crise política e sem sinais claros de que ela se dissipará, o dólar seguirá sua trajetória de alta. Já há quem aposte que ele chegue a R$ 4,50. Benéfica para as exportações, uma cotação nesse patamar vai ser danosa para a grande parte da sociedade brasileira.


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