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Estado de Minas ENTREVISTA/HÉLIO MAGALHÃES

Presidente do Citi no Brasil acredita que a crise será longa

"O problema é a prática de gastar mais do que arrecada"


postado em 20/09/2015 00:12 / atualizado em 20/09/2015 07:21

(foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
(foto: Euler Junior/EM/D.A Press)

A crise econômica brasileira vai ser longa. Ao contrário de outros períodos da história, quando o comportamento da economia era revertido em curto prazo, agora a recessão vai esquentar lugar na vida dos brasileiros. A decisão da Standart & Poor’s de tirar do Brasil o grau de investimento (selo de país seguro para os investidores) deve ser seguida por outras agências de classificação de risco, embora em um primeiro momento a Fitch e a Moody’s tenham negado que vão rever a perspectiva para o país. A avaliação é do presidente do Citi no Brasil, Hélio Magalhães. “O resultado nominal das contas públicas, que foi déficit de 6,2% do PIB em 2014, este ano deve chegar a 8,7% do PIB e com a dívida crescendo de 51% para 67% do PIB do ano passado para este”, afirma o executivo para lembrar que a mudança na avaliação das agências de risco se dá em função da “disciplina fiscal”.

Para Magalhães, que retornou ao Citi Brasil em julho de 2012 para reestruturar os negócios do banco no país, o aspecto positivo do rebaixamento do país está no fato de despertar o governo para a necessidade de ter mais rigor na gestão fiscal (o que explica as medidas anunciadas pelo governo na semana passada). “O Brasil tem reservas. O problema é a prática de gastar mais do que arrecada, o que deixa o país numa condição de risco maior para os investidores”, afirma o presidente do Citi no Brasil, que passou por Belo Horizonte para uma série de compromissos, no início do mês. Em entrevista ao Estado de Minas, ele avaliou que a economia brasileira terá queda neste e no próximo ano, mas com a inflação caminhando para o centro da meta. Além das perspectivas para o país, falou sobre os negócios do banco no Brasil e em Minas Gerias. Veja os principais pontos:

Rebaixamento do país

O downgrade (rebaixamento da nota de crédito) do Brasil pela Standart & Poor’s não é uma atitude isolada. Se você olhar o resultado nominal das contas do governo, incluindo os juros, no ano passado foi negativo de 6,2% do PIB e este ano deve ficar em –8,7%. Então, são três anos seguidos de déficit e as agências olham isto: como está a disciplina fiscal, como estão os gastos e a dívida como está. E a dívida do Brasil está crescendo, ela vai sair de 51% do PIB neste ano para 67% neste ano. O Brasil tem reservas, mas o problema é essa pratica de gastar mais do que arrecada. Com isso, as agências veem um risco maior para os investidores. Além disso, o Brasil está adiando decisões importantes, como a questão da Previdência Social. Uma em três agências rebaixou a nota do país e embora não seja uma decisão que eu acredite que saia no curto prazo, mas o país deve ter downgrade de outra agência.

Fuga de capital


Os fundos de investidores estrangeiros no Brasil tinham R$ 950 bilhões no Brasil e desse valor, metade está na renda fixa (em títulos do governo) e metade na renda variável (em ações). Desses, alguns não vão querer sair para não realizar um prejuízo com a venda dos ativos ao fazer a conversão de real para dólar. Então, tem fundo que não vai sair. Agora, os que forem obrigados a sair vão fazê-lo. Na renda-fixa, se 20% dos investidores estrangeiros saírem estamos falando de R$ 150 bilhões a R$ 200 bilhões. Na bolsa é um pouco pior porque quando o capital estrangeiro sai a ação perde valor. Mas se considerarmos que do volume de investimento estrangeiro na bolsa 20% podem sair num movimento rápido, estamos falando de outros R$ 150 bilhões a R$ 200 bilhões. Então, estamos falando de uns R$ 400 bilhões.

Impacto na economia


Com o rebaixamento do Brasil e o downgrade das empresas, o financiamento do país e dessas companhias vai ser mais caro. Já a saída de investidores estrangeiros vai pressionar a cotação do dólar, que por sua vez vai pressionar a inflação. Como o dinheiro está mais caro e houve uma subida anterior, por diversos fatores, nós acreditamos que o dólar passa de R$ 4 até o fim do ano. Para os exportadores melhora e não há risco maior porque com as crises passadas, quando a desvalorização do real gerou prejuízo, hoje a dívida em dólar das empresas está protegida. Nos negócios nós observamos menos apetite pelos produtos de crédito, com as empresas postergando planos de expansão, em compasso de espera. Antes o Brasil entrava em recessão e saía rapidamente. Agora, a crise vai ser mais longa. Sem contar os efeitos do downgrade da S&P, 2016 vai ser um pouco melhor, mas ainda recessivo. Nós estávamos estimando um PIB de -2,75% este ano e de -0,7% no próximo, para em 2017 ter um crescimento modesto.

Saída da crise


Antes o Brasil entrava em recessão e saía rapidamente. Agora a crise vai ser mais longa. A nossa visão é que a inflação este ano seja de 9,2% e em 2016 fique em 5,7% porque a inflação dos preços controlados que houve este ano não ocorrerá no próximo, mas, mesmo assim, os juros vão permanecer altos durante todo o ano que vem, nos 14,25% ano. Para o desemprego nós imaginamos que a taxa feche este ano em 7% e fique em 8,5% no próximo ano. Com isso se está preparando as bases para 2017 retomar o crescimento econômico. Para o governo, o caminho é implementar o ajuste fiscal e para isso é preciso existir um alinhamento político, porque 90% das despesas estão na lei e tem o problema da Previdência, o problema da folha de pagamento, que torna mais difícil cortar gastos, mas que precisa ser feito. Nesse aspecto, o downgrade talvez ajude a convencer vários segmentos da necessidade dos ajustes. O governo tem que mostrar que vai ter energia para enfrentar o déficit e alinhar a economia para produzir superávit.

Negócios no Brasil


O Citi está completando 100 anos de Brasil. Chegou em 1915 e nunca saiu. Passou pelas crises de 1929, pela Revolução de 1930. O Citi foi financiador do Brasil, participou das negociações do Clube de Paris e viu vários planos econômicos. Nosso negócio é de longo prazo e o importante agora é que nós fizemos o dever de casa, reposicionando o banco nos segmentos onde é competitivo tanto nas empresas quanto nas pessoas físicas. Nós vendemos a Credicard para fortalecer a posição de que somos um banco global, com atuação em mais de 100 países, o que é vantagem, por exemplo, se a empresa é exportadora. O Citi é o número um em câmbio no Brasil e 15% de todo o movimento cambial passa pela tesouraria do banco.  A partir de 2012, nosso foco passou a ser o banco principal, do dia a dia, dos clientes, e fazer esse reposicionamento ajuda agora neste momento. O Citi passou de 101 agências para 71, sendo que em BH eram cinco e agora são quatro. Isso sem impactar para os clientes.

O Citi em Minas


Minas Gerais é o terceiro mercado do Citi, que chegou na região em 1959. Hoje são mais de 100 funcionários em Minas e nós temos quatro agências, todas em Belo Horizonte. São aproximadamente 23 mil e nos negócios, 50% são indústrias e 35% comércio.


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