
No Barro Preto, unidades abertas há poucos meses concedem descontos nunca antes praticados em outras lojas da rede. Na Sputinik, faixas na porta chamam a atenção com a frase “preço especial para revendedoras”. Em época de lançamento de coleção, é tradição fazer promoções, mas, segundo a supervisora de vendas, Miriam Machado, o percentual de desconto dobrou em relação ao praticado no ano passado. As “sacoleiras” pagam 50% menos sobre o mostruário – exceto calças jeans. O mesmo vale para as vendas no varejo. “Em promoções anteriores, adotávamos descontos de 20% a 25%. Agora, para o cliente não sair sem levar nada, olhamos o maior prazo e número de parcelas sem juros possíveis”, afirma. Nem assim o número de clientes tem sido maior que em anos anteriores. As ações resultaram em aumento da procura, mas o fluxo ainda está abaixo de anos anteriores.
Com estratégia semelhante, a loja da frente, Tempus, já começa a ver resultados com as ações promocionais. “Tem que ter uma carta na manga. Tem peça que sai quase pelo preço de custo”, afirma o gerente de vendas, Márcio Ribeiro. Ele acredita que a liquidação de julho e agosto favorece o aumento das vendas, mas ressalta ser necessário adotar medidas para chamar a atenção dos clientes, principalmente em uma época em que nem todos estão dispostos a gastar, em função da instabilidade econômica.
Em outros exemplos em áreas comerciais da cidade – Savassi e Centro –, lojistas adotam ações ousadas para atrair o público hoje distante. “Compre 3, ganhe 1”, diz faixa na porta de uma loja da Savassi. No Centro, muitas delas apresentam o valor máximo a se pagar em qualquer produto do estabelecimento.

No país, segundo números do IBGE, a retração para o semestre é 2,2% – maior baixa para o período desde 2003. No estado, o tombo foi de 2,1%. Apesar dos resultados críticos, o setor varejista mineiro respirou em junho, com crescimento de 0,6% no volume de vendas sobre o mês anterior, depois de seis resultados negativos consecutivos. “Os consumidores estão com baixa confiança, o que desestimula as vendas, principalmente de bens duráveis e alimentos, que têm reflexo direto com a renda”, afirma a gerente de Serviços e Comércio do IBGE, Isabela Nunes Pereira.
Desemprego preocupa
O aprofundamento da recessão econômica levou os empresários a intensificar a demissão de empregados num período em que, tradicionalmente, há contratação de mão de obra. Economistas projetam que, em julho, 100 mil vagas tenham sido eliminadas no mercado formal de trabalho. No primeiro semestre, 345,4 mil brasileiros foram dispensados do mercado formal, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), contabilizado pelo Ministério do Trabalho. A expectativa é que, até dezembro, esse número chegue a 1,2 milhão. A combinação perversa entre alta do desemprego e inflação descontrolada pressiona a renda dos assalariados e corrói o poder de compra das famílias, impactando o consumo e tornando mais difícil a recuperação da economia.
O aumento da desocupação também implicará retração da massa salarial nos próximos dois anos, o que não acontecia desde 2003. Segundo estimativas de consultorias privadas, a queda será de 3,8% este ano e de 2,8% em 2016, perfazendo retração acumulada de 6,7% no biênio. Como a soma dos rendimentos habituais do trabalho – exceto 13º e férias – chegou a R$ 2 trilhões em 2014, de acordo com Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), isso pode significar uma perda de R$ 134 bilhões no poder aquisitivo dos trabalhadores até o fim do ano que vem.
Se forem tomados como base cálculos do Banco Central, que apontam para um total de R$ 2,4 trilhões da massa salarial ampliada na PNAD, que inclui todos os outros rendimentos provenientes do trabalho, a perda pode superar R$ 160 bilhões em 2015 e 2016.
Nas contas do economista da Tendências Consultoria, Rafael Bacciotti, pelo menos 100 mil trabalhadores perderam o emprego formal em julho. Ele observou que isso é incomum, uma vez que, entre julho e outubro, normalmente há elevação do nível de contratações no país. “Isso tudo afeta a propensão dos brasileiros de consumir, diminui a renda e pressiona as famílias. O momento não é favorável”, comentou.
Bacciotti ainda comentou que, para ele, a indústria de transformação e a construção civil continuarão a ser os setores com maior nível de dispensas.
