
Segundo balanço da Polícia Rodoviária Federal (PRF), no fim do dia haviam 124 bloqueios em 34 estradas estaduais e 31 federais de nove estados. Ontem, os bloqueios atingiram as rodovias que dão acesso aos portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR), dois terminais vitais para as exportações do país. Em Minas, o protesto dos caminhoneiros já provoca desabastecimento em algumas cidades, situação que se repete por todo o país (leia abaixo).
Com o bloqueio nas estradas, motoristas buscaram alternativas para evitar prejuízos e satisfazer suas necessidades. Fazer uma feira livre no asfalto foi a estratégia de produtores rurais retidos no protesto ontem na BR-040, em Nova Lima, Região Metropolitana de Belo Horizonte. Frutas e verduras que estavam estragando foram vendidos a preços até 60% mais baratos do que eles receberiam na Ceasa. O morango, que estraga mais rápido, e que sairia a R$ 10 a caixa na Ceasa, era oferecida a R$ 4 para motoristas de carros pequenos que têm permissão para trafegar. Edson Fabiano Costa, de 34 anos, é produtor rural em Barbacena, no Campo das Vertentes, e estava preso no protesto desde as 19h de segunda-feira.
“Esta tudo perdendo e decidi vender tudo pela metade do preço. Meu prejuízo pode chegar a R$ 20 mil. Estou revoltado. Cargas vivas podem passar, mas as perecíveis não podem. Eu vendo o que planto e não sei o que vou fazer da vida”, lamentou. As bandejas de tomate, que ele venderia a R$ 5, baixou para R$ 3. A PRF quis impedir o comércio dos produtos, pois motoristas paravam seus carros na pista para comprar e atrapalhavam o trânsito. A solução foi abrir espaço entre os caminhões. Pelo menos 15 produtores rurais tentavam, a todo custo, passar adiante os seus produtos. “Vagem e giló na promoção”, gritavam. Os irmãos Edir, de 40, e Adalto Teixeira, de 32, baixaram o preço da caixa de alface de R$ 20 para R$ 10, com duas dúzias.

Dirson Júnior, de 32, que transportava bananas verdes, não teve a sorte de seguir viagem. Ele está parado na BR-040 desde as 2h da madrugada de ontem, indo de Janaúba, Norte de Minas, para o Rio de Janeiro. Para tomar banho, em um posto de combustível, Dirson andou mais de 1,5 quilômetro. “ A minha sorte é que tem uma nascente de água na beira da estrada para matar a sede”, disse. A mesma situação se repetia na BR-381, um dos principais pontos do protesto e Minas, principalmente nos municípios de Betim, São Joaquim de Bicas e Igarapé, onde o gaúcho Lairton Bakman da Silva, de 30 anos, reforça a paralisação na companhia da esposa, Maristela, de 26, e na do filho, Isaac, de 3. Eles interromperam a longa viagem do Paraná a Pernambuco, na tarde de domingo. O dia a dia dele e de outros caminhoneiros não é fácil.
O baiano Clodimar Mendes Freitas, de 33, e a esposa, Fernanda Cardoso, de 26, desembolsaram R$ 50 a um taxista que ofereceu ao casal uma ducha na própria casa. “Não havíamos tomado banho no primeiro dia. No segundo tivemos que pagar ao taxista pelo serviço do banho e do transporte”. Apesar disso, ele ressalta a importância da paralisação, que tem como uma das bandeiras a redução no valor do combustível. “Pagava R$ 2,30 no litro do diesel. Com o reajuste, há poucos dias, o valor foi para R$ 2,79. Já o frete continua a mesma coisa”, reclamou. Outros caminhoneiros contam a solidariedade de moradores próximos à estrada. O baiano Cícero Almeida, de 45, bebe água fornecida por um rapaz que reside no Bairro Citrolândia, em Betim. “Ajuda a amenizar o calor”, conta ele, que improvisou uma lona entre a carroceria e a grade de proteção às margens da estrada para se proteger do sol.
