No dia em que o mercado estimou, pela primeira vez, um resultado negativo para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2015, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, admitiu a investidores norte-americanos que o Brasil poderá ter recessão neste ano. Apesar disso, o país conseguirá, garantiu, cumprir a meta de superávit primário prometida por ele quando foi indicado ao cargo mais importante da economia brasileira, ainda em 2014, de 1,2% do PIB ou R$ 66 bilhões. Em palestra para investidores em Nova York, o ministro reconheceu que o Brasil derrapou no quesito fiscal em 2014, mas afirma que a situação já está sendo corrigida. Segundo ele, “há muito ainda a ser feito” e a “consolidação vai continuar”. Na apresentação para os 185 presentes, Levy estimou um superávit — economia realizada pelo governo para pagamento dos juros da dívida — de 2% do PIB para 2016 e 2017 e garantiu que a projeção está em linha com o mercado.
“Ainda não considero um superávit de 1,2% impossível, mas acho muito difícil que o governo consiga entregar um resultado fiscal nessas proporções”, analisa o economista sênior do Besi Brasil, Flávio Serrano. Ele avalia que, diante do cenário de baixo crescimento da economia brasileira — especialmente se houver, de fato, racionamento de água e energia elétrica —, o país não vai conseguir gerar receitas suficientes para o pagamento dos juros da dívida. Serrano estima que um racionamento moderado pode gerar um impacto negativo de 0,5% no PIB. “À medida que não temos crescimento, a dificuldade de gerar receitas é maior. Além disso, o Orçamento brasileiro é muito rígido, e isso impede um corte maior nas despesas”, completou. Para o economista, no entanto, um resultado menor do que os 1,2% previstos por Levy não necessariamente seria um indício ruim. “Quanto mais próximo de 1,2% melhor, mas, dependendo da forma como a situação fiscal for conduzida, um resultado pouco menor não seria completamente ruim. Não nesse cenário de baixo crescimento e inflação alta”, disse.
Investimento Para o ministro da Fazenda, a possibilidade de que o desempenho da economia desaponte este ano está ligada ao declínio do investimento. Com o objetivo de minimizar o gargalo, a promessa de Levy é aumentar o diálogo com o mercado, além de priorizar a transparência na política fiscal. Para os especialistas, o maior fantasma do ministro, no momento, é a possibilidade de um rebaixamento da nota soberana brasileira pelas agências de classificação de risco, o que afastaria ainda mais os investidores e dificultaria a já complicada situação da economia.
Na tentativa de manter a confiança dos empresários e evitar uma debandada diante dos riscos de racionamento de energia e água, do baixo crescimento e da crise na Petrobras, o ministro viajou na terça-feira aos Estados Unidos onde, além da reunião com os investidores em Nova York, ministrou uma palestra em Washington. Ontem mesmo ele voltaria ao Brasil.
