
Até 2007, a China era só o terceiro destino das exportações brasileiras, com apenas 6,7% do volume total, atrás de Estados Unidos (15,6%) e Argentina (6,7%). O aumento dos investimentos em infraestrutura e no setor imobiliário impulsionaram a demanda por commodities, principalmente o minério de ferro. De lá para cá, a maior demanda resultou em um troca-troca no topo do ranking do comércio internacional: a China lidera desde 2008, com 18% do total exportado pelo Brasil. No comparativo entre 2007 e 2013, o volume negociado com o país asiático subiu de US$ 10,74 bilhões para US$ 46 bilhões, alta de 328%. No ano passado, com o recuo de preços, as exportações foram de US$ 40,6 bilhões.
Minas Gerais também tem na China o seu maior parceiro comercial, destino da maior estrela da pauta de vendas externas do estado, o minério de ferro. De acordo com a Coordenadoria Especial de Comércio Exterior da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, a China comprou 23,9% do total exportado por Minas em 2014, até novembro. O percentual corresponde a quase o mesmo que importaram dos mineiros juntos Estados Unidos (11,4%), Japão (7%) e Alemanha (5,9%). Isso contribui para que o item minérios metalúrgicos seja disparado o principal da pauta de exportação do estado, com 32% da receita total.
O pesquisador do Brics Policy Center e professor de Relações Internacionais da PUC-RJ Paulo Wrobel afirma que é normal o sobe e desce do preço das commodities no mercado internacional. O problema, segundo ele, é que a economia brasileira tornou-se altamente dependente de alguns produtos. O resultado foi o déficit da balança comercial no ano passado. O total importado superou o exportado em US$ 3,93 bilhões, pior resultado desde 1998 e primeiro negativo desde que o PT assumiu a Presidência da República. “Nada contra ser um exportador de commodity, mas não dá para ser só um exportador de commodity”, afirma Wrobel.
No relatório “China: os impactos no Brasil de um novo modelo de crescimento”, o economista Artur Passos, do Itaú BBA, mostra que o consumo de soja apresentou alta de 116% entre 2000 e 2008. A produção de aço teve ainda mais forte crescimento, de 298% no período, resultando em maior demanda por minério de ferro. “O estímulo à demanda global impulsionou os preços internacionais de commodities, que subiram 227% no período”, diz o estudo. A mudança no modelo chinês, no entanto, faz a demanda por ferro desacelerar.
O pesquisador do Brics Policy Center vê boa oportunidade de o Brasil inverter a lógica de exportação brasileira, com maior foco em produtos manufaturados. Mas isso está longe de ser algo imediato. Antes, é preciso forte recuperação da indústria, tornando-a mais competitiva. A exportação de produtos transformados em vez de brutos possibilitaria maior retorno financeiro, pondo fim ao que Wrobel chama de lógica colonialista (exportação de matéria-prima e importação de manufaturados).
CUSTO BRASIL Entrar no mercado chinês é algo mais complexo devido aos custos de produção. A retomada da parceria com os Estados Unidos poderia ser algo mais fácil. “Por que o Brasil não procurou ou insistiu em algum tipo de acordo comercial com os Estados Unidos? Só vejo motivo pelo viés ideológico”, afirma o pesquisador do Brics Policy Center.
O economista do Itaú BBA Artur Passosressalta que o incentivo ao consumo familiar também é acompanhado do aumento de renda. Com isso, a diferença entre salários na China e no Brasil se reduz. Em 2006, a razão do salário médio do chinês para o brasileiro era de 15,8%, enquanto em 2013 subiu para 30,3%, segundo o relatório do banco. “Não é preciso chegar a 100%. Mas a diminuição da distância possibilita que alguns setores possam equiparar a produtividade”, afirma. E acrescenta: “Apesar dos potenciais impactos negativos sobre o saldo comercial e sobre os investimentos, o rebalanceamento da economia chinesa apresenta uma oportunidade para a indústria brasileira, particularmente para o setor manufatureiro”.
Marcha à ré
O crescimento econômico da China pode desacelerar para um intervalo entre 6,9% e 7,1% neste ano, num momento
em que o país enfrenta riscos de deflação, previu, ontem, o chefe do departamento de pesquisas do banco central
chinês, Lu Lei. Ele disse que a destinação de investimentos a ativos fixos na segunda maior economia do mundo deve
esfriar ainda mais em 2015, em razão de problemas no mercado imobiliário e da queda no investimento estatal.
A maior incerteza de médio prazo para a economia é o risco de queda generalizada dos preços.
