(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas MEDO QUE AGORA BATE À PORTA

Brasileiros temem aumento do desemprego no país

Abertura de vagas caiu de 2 milhões em 2010 para cerca de 600 mil em 2014. Com taxa de desocupação de 6,8%, um dos patamares mais baixos, brasileiro teme sofrer perdas


postado em 02/01/2015 00:12 / atualizado em 02/01/2015 07:42

Brasília – Aos 20 anos, Karolina Sampaio acumula preocupações: divide com o marido os compromissos de casa, a criação do filho, de 2 anos, e ainda passa noite e dia à espera de um trabalho. O casal está sem emprego fixo. Ambos vivem de bicos para não deixar faltar o básico para a criança. A mãe e a sogra dela não se incomodam em ajudar com o que podem. Mas ela tem consciência de que o suporte dado pelas duas não será eterno.

Desde que concluiu o ensino médio, Karolina já trabalhou como secretária, recepcionista e auxiliar administrativa. Em fevereiro de 2013, caiu na vala do desemprego e de lá não consegue sair. “Ter apenas ensino médio no currículo, hoje em dia, não adianta mais nada. Mas não vou fazer faculdade. Não compensa. Não teria tempo nem dinheiro”, explica a jovem, que almeja um curso técnico — opção mais barata e de menor duração.

Ela disparou dezenas de currículos pela internet. E fez questão de deixar todos os conhecidos avisados de que persegue uma oportunidade. Por ora, garantiu serviços esporádicos no salão de beleza de uma amiga. O marido, que era estoquista numa empresa, foi demitido em novembro porque a firma fechou as portas. “Espero conseguir alguma coisa mais certa logo. Tenho família, um filho pequeno. Sem um mínimo de estabilidade, fica complicado”, angustia-se.

A dura realidade começa a bater à porta de Karolina e de milhões de brasileiros que ascenderam socialmente, mas que temem perder tudo o que conquistaram nos últimos anos. Muitos aproveitaram a onda de expansão da economia de 2004 a 2010, conseguindo melhores postos de trabalho, com ganhos reais de salário e levando a taxa de desocupação aos menores níveis da história. Nas contas do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), foram criadas 12,5 milhões de vagas nesse período.

Mas esse cenário de bonança começou a ruir desde a primeira posse da presidente Dilma Rousseff. Com menor rigor fiscal e aumento significativo de gastos, a inflação passou a corroer a renda dos brasileiros e a aumentar os custos das empresas. Além disso, o incentivo ao consumo deixou de ser um eficaz motor da expansão econômica, e o endividamento das famílias explodiu. O país passou a registrar expansão pífia do Produto Interno Bruto (PIB). A livre iniciativa, que sofre com a alta carga tributária, com a péssima infraestrutura e o excesso de burocracia da máquina pública, reduziu drasticamente os investimentos e a contratação de funcionários, diante da piora no ambiente de negócios.

A criação de empregos saiu de 2 milhões de postos em 2010 para pouco mais de 600 mil em 2014, conforme previsão de analistas. Entre os setores que mais fecharam vagas, estão a construção civil e a indústria de transformação. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que a taxa de desocupação no país está em 6,8%, um dos patamares mais baixos já registrados. Contudo, o resultado positivo esconde um problema. O total de brasileiros em idade ativa que busca oportunidades de trabalho não para de cair. A taxa de participação, que chegou a 61,7% no segundo trimestre de 2012, despencou para 60,9% no terceiro trimestre de 2014.

EXPECTATIVAS Rodolfo Peres Torelly, ex-diretor do Departamento de Emprego e Salário do MTE, lamenta que a baixa performance da economia esperada para os próximos anos será prejudicial ao mercado de trabalho. Para absorver o crescimento anual da população economicamente ativa, seria necessário gerar 1,8 milhão de postos. “Teremos uma geração abaixo de 500 mil empregos em 2015 e, depois, a situação tende a não melhorar caso o PIB não avance.”

Na opinião do especialista em mercado de trabalho da Fundação Getulio Vargas (FGV) Rodrigo Leandro Moura, os próximos anos não serão auspiciosos para geração de vagas e para aumentos reais de salário. Conforme ele, o baixo crescimento da economia e a inflação em alta, somados ao ajuste fiscal e às elevações dos juros, encarecem o custo de empréstimos para investimentos, corroem a renda das famílias e sinalizam redução de gastos do governo. Com isso, a confiança e o apetite dos empresários despencam e eles reduzem a folha de pagamentos para adequar os gastos à nova realidade.

 

Conflito de gerações

 

Analistas avaliam que, com o aumento do desemprego, muitos brasileiros tendem a migrar para a informalidade, sem a proteção da Previdência e das leis trabalhistas. Gedeão Alves Ferreira nunca fugiu de trabalho. Nascido em Catolé do Rocha, no sertão da Paraíba, aprendeu a pegar na enxada ainda criança: era a maneira de ajudar a família, que vivia na roça. Em 1989, estimulado por parentes, desembarcou em Brasília “muito mais jovem e bonito do que hoje”, lembra-se, bem-humorado, aos 42 anos.

Começava nova fase. Quando tirou a carteira de habilitação, se convenceu de que gostava de dirigir. Atuou dois anos como motorista de empresa, único período em que usou a carteira de trabalho, hoje esquecida no fundo da gaveta. “Tempo perdido. A firma cresce e o salário continua o mesmo”, protesta.

O especialista em mercado de trabalho da Universidade de São Paulo (USP) José Pastore lembra que dados do IBGE mostram brasileiros com idade de 45 a 55 anos com dificuldade para encontrar uma vaga após a demissão. Muitos não procuram capacitar-se, não se aposentam e passam a viver da renda dos cônjuges. “A situação é também ruim para quem tem nível superior. Isso levará a uma concorrência acirrada entre jovens e adultos por uma colocação”, avalia. (AT/DA)


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)