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Estado de Minas

Felicidade fica entre desejo de consumo e controle das finanças

Muitas pessoas só se sentem felizes quando conseguem adquirir alguma coisa, mesmo que supérflua. Mas satisfazer as carências emocionais sem conter gastos pode gerar só tristeza


postado em 26/12/2014 00:12 / atualizado em 26/12/2014 07:35

(foto: Paula Baptista escolhe roupa para o Ano-Novo em loja da Savassi. Ela reconhece que quando está feliz se sente inspirada e pode gastar mais)
(foto: Paula Baptista escolhe roupa para o Ano-Novo em loja da Savassi. Ela reconhece que quando está feliz se sente inspirada e pode gastar mais)

Ser feliz, entre tantas definições, pode ser entendido pela segurança de que não faltará nada para si nem para as pessoas de quem a gente gosta – o que implicitamente traz a ideia de um futuro em que será possível desfrutar do afeto delas com maior tranquilidade. “Felicidade é consumo”, resume, sem rodeios, o professor da escola de negócios Ibmec Marcos Sarmento Mello.

Então, as pessoas que já passaram por metade da trajetória da vida aproveitaram seus prazeres e ainda construíram algum patrimônio devem ser as mais felizes da sociedade, certo? Não é bem assim. Essa hipótese não se confirma pelas evidências encontradas pelo Núcleo de Estudos sobre Felicidade e Comportamento Financeiro, da Fundação Getulio Vargas (FGV) em São Paulo, um centro de pesquisas dedicado à nova onda da economia da felicidade.

Pesquisa realizada pelo núcleo entre os paulistanos encontrou altos índices de satisfação entre os mais jovens e entre os mais velhos. Os piores números ficaram na faixa de 40 a 49 anos, formando um gráfico na forma de u. “Essa é a faixa etária com maior ansiedade, porque concentra pessoas que acham que já deveriam ter realizado muitas coisas, mas veem que as metas estão incompletas, aquém do que esperavam”, comenta Fábio Gallo, coordenador do núcleo da felicidade da FGV. “A partir dos 50, as pessoas tendem a se conformar, pensando que aquilo que elas têm é o que foi possível conseguir, portanto está bom”, completa.


A ideia agora é partir para uma pesquisa nacional envolvendo satisfação e dinheiro. Gallo criou o núcleo exatamente por ter identificado carência de estudos envolvendo essa relação. “Havia tanta gente estudando a felicidade, por que não nas finanças?”, questiona. Trata-se de um viés, aliás, mais apropriado para entender as carências do que as realizações neste momento pouco auspicioso que atravessa quase todo o mundo, mas especialmente aqui. “Na Europa, as pessoas tiveram de adiar a aposentadoria por causa da queda de valor dos ativos com a crise iniciada em 2008. E, aqui, os bancos estão mais arredios para emprestar”, conta.

Especialistas afirmam que a origem das angústias no orçamento familiar está na distância entre o padrão de vida que se quer e o que cabe na renda. Evita-se essa rota de dois modos: buscando um emprego melhor ou adaptando suas expectativas à realidade. “As pessoas que se dizem mais felizes são as que conseguiram cumprir o que planejaram para as suas vidas”, afirma Gallo.

Doutor em filosofia, ele aponta para o fato de que há muitas interpretações possíveis para a felicidade. Exemplifica com o pensamento do pai da psicanálise, Sigmund Freud, para quem esse sentimento era algo externo ao homem, uma meta sempre inatingível, a não ser por breves momentos especiais de cada dia. Na linha da ironia germânica, o poeta Goethe dizia que não poderia haver nada mais chato do que uma série de dias felizes.

Paraíso e inferno


Divergências acadêmicas à parte, uma certeza para Gallo é que “não é o grau de riqueza que determina a felicidade”, mas sim a capacidade de usufruir da vida em comunidade, compartilhando o tempo, principalmente com a família e os amigos. Se, como dizia o filósofo Jean Paul Sartre, “o inferno são os outros”, o paraíso também parece estar no próximo.

Até mesmo pesquisas com foco em consumo corroboram essa ideia. Entre os brasileiros, 69% dizem que sua prioridade é equilibrar a vida profissional e a pessoal, mostra levantamento que acaba de ser realizado pelo Instituto Qualibest a pedido da American Express. E, para isso, 55% estão dispostos a ganhar menos a longo prazo, desde que isso não os deixe com a conta bancária no vermelho.

Para o presidente da American Express no Brasil, José Carvalho, essa disposição das pessoas em agir com equilíbrio no lado pessoal e nas finanças “permitirá que tenham uma vida mais enriquecedora”. Mas há informações preocupantes em pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) demonstrando que grande parte dos brasileiros compra por impulso em momentos de angústia, apenas para se livrar da tristeza. Isso está longe de ser um padrão saudável de consumo.

Se comprar sem pensar com frequência é algo negativo, sobretudo para neutralizar a tristeza, “é bom que a gente se permita fazer isso de vez em quando, sem comprometer a conta bancária”, nota Sarmento, do Ibmec. É como dar um presente para si. Mas pesquisas mostram que presentear os outros também é uma grande fonte de alegria. Aliás, proporciona prazer mais duradouro do que quando se adquire algo para uso próprio. O dinheiro ajuda, portanto, a comprar a felicidade, só que, no caso da felicidade alheia, a relação custo-benefício é ainda melhor.

Três perguntas para... Rubens Sakay, engenheiro estudioso da felicidade

O que faz a pessoa ser feliz?

A explicação genética fica com 50%. Outros 40% têm a ver com o que o indivíduo traz de dentro de si: a intencionalidade, a atitude frente à vida. Aquilo que quase todo mundo aposta como a razão para a felicidade – o emprego bom, o bem-estar financeiro – representa apenas 10% da pizza. É difícil a pessoa ser feliz se apostar tudo em cima de coisas materiais. O cheiro do carro novo passa logo. Isso explica por que pessoas pouco abastadas conseguem ser felizes.

As pessoas não deveriam se preocupar com dinheiro?
A preocupação deveria ser calibrada pela compreensão de que isso significa 10% da felicidade. Se a pessoa colocar o foco no crescimento pessoal, nos 40%, vai se beneficiar de algo interessante que se observa: os 10% conjunturais serão valorizados. E até o que você é pode ser usado a seu favor, conforme mostra a epigenética, uma fronteira da ciência. Mas, se não se esforçar, a pessoa perderá a grande chance de ser feliz. Correrá o risco de se dar conta de que a velhice chegou cedo demais e a sabedoria, tarde demais.

Como é isso do ponto de vista das empresas?
A pessoa feliz vende o dobro, erra menos, tem menos conflitos, não rouba, resolve mais problemas. Médicos felizes fazem diagnóstico mais rápido e mais preciso. O maior benefício é para a saúde, o que reduz custos enormemente. A pessoa infeliz é debilitada.


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