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Estado de Minas RESULTADO DA FELICIDADE

Empresas investem na satisfação dos colaboradores e ganham em produtividade

Fatores como horário flexível, lazer, alimentação, entre outras ações, reduzem a perda de talentos


postado em 25/12/2014 07:00 / atualizado em 25/12/2014 10:59

Os engenheiros Bruno Rossi e David Faria jogam no horário de trabalho. Tempo livre exige responsabilidade(foto: RAMON LISBOA/EM/D.A PRESS)
Os engenheiros Bruno Rossi e David Faria jogam no horário de trabalho. Tempo livre exige responsabilidade (foto: RAMON LISBOA/EM/D.A PRESS)
Desde que estreamos no primeiro emprego até a aposentadoria, vão-se embora metade de nossos dias, considerando a média do que os brasileiros esperam viver. Durante esse período, de segunda a sexta-feira, ao menos, ficamos mais tempo no trabalho do que em qualquer outro lugar enquanto estamos com os olhos abertos. Convivemos mais com os colegas, clientes e fornecedores, com quem muitas vezes também nos sentamos à mesa para almoçar, do que com o cônjuge ou os filhos.

Considerado o tempo em que se passa imerso na produção, é impossível imaginar uma pessoa que seja feliz se tiver uma vida profissional terrível ou mesmo insatisfatória. E é uma ilusão pensar que tem sorte quem não precisa trabalhar ou quem consegue um trabalho de baixa exigência. “Uma das realizações das pessoas é serem produtivas”, explica Mario César Ferreira, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em relações profissionais.

Para o professor de administração da Fundação Getulio Vargas (FGV) André Barcaui, que estuda a felicidade nas empresas, as companhias que ignoram a felicidade dos funcionários podem ter cada vez mais problemas para encontrar talentos. Os profissionais mais jovens, da chamada geração Y, não topam qualquer situação de trabalho. “Eles sofreram com a ausência dos pais, que trabalhavam demais. Não querem isso para eles”, destaca.

Na prática, parte da felicidade pode estar relacionada à liberdade de ir e vir, segundo os sócios da mineira KOT Engenharia, Bruno Miranda e João Gabriel Sá. Por ano, os investimentos na autoestima e realização profissional que podem levar à felicidade dos coloboradores ultrapassam R$ 170 mil. Entre os benefícios estão a flexibilidade de horário, sala Google com TV, games, sofá, pufs para descontração, tempo para ginástica laboral, estrutura moderna, sem divisões entre as pessoas, alimentação saudável todos os dias com frutas, torradas e biscoitos, festas de confraternizações e aniversários, investimentos em capacitação e treinamentos, entre outras.

“Não custa nada ser feliz, o custo que temos é o de implementar projetos que podem contribuir para a felicidade dos colaboradores, mas os benefício que eles trazem, como alta produtividade, não tem como mensurar”, afirma João Gabriel. De acordo com os sócios, os efeitos são a isonomia no tratamento com as pessoas, transparência entre os colaboradores e chefes de equipe, abertura de diálogo, além da elevação da satisfação dos clientes, que atualmente chega a índices de 90% e, principalmente, baixa rotatividade de pessoal. “Toda a liberdade na empresa é atrelada também a responsabilidades. Ninguém tem horário fixo, por exemplo, mas sempre tem um prazo para entregar um projeto”, afirma Bruno.

É por isso que os colaboradores David de Oliveira Faria, de 25 anos, engenheiro civil, e Bruno Rossi, 27, engenheiro mecânico, não pensam em sair da empresa. “Não penso em sair daqui, principalmente se for para uma empresa tradicional, onde temos que ter horários fixos. São muito benefícios que temos que afetam na nossa produtividade e é difícil até mensurar quanto a mais podemos produzir num ambiente desses”, afirma David. “Estou feliz aqui, consigo otimizar meu tempo, praticar esportes, investir em capacitação. Posso conciliar duas coisas”, completa Bruno que cursa mestrado.

Parte do negócio Também na capital mineira, na Plan B, agência de comunicação, a felicidade dos colaboradores é um dos princípios da empresa. O sócio da empresa, Clécio Wains, afirma que, por ser uma agência de comunicação, depende muito da produção intelectual, diferente da indústria, que depende de uma produção por hora. “Nós procuramos uma solução fantástica de comunicação para o cliente e se não temos um bom ambiente de trabalho, onde as pessoas são felizes, não conseguimos chegar com uma boa solução para os nossos clientes”, reflete. Recentemente, os sócios da agência investiram em uma nova sede da empresa, por meio de um projeto colaborativo que envolveu toda a equipe, que proporciona mais dinamismo e criatividade aos colaboradores.

Os investimentos no novo espaço chegaram a R$ 700 mil e os colaboradores passaram a contar com área pet (eles podem levar seus cachorros para trabalhar com eles), lounge para descanso, cozinha, minirrampa de skate e chuveiros para quem vai para o trabalho de bicicleta. “Os próprios empregados deram ideias para planejar o ambiente, se envolveram com o projeto o que faz agora com que eles se sintam um pouco donos do negócio e trabalhem mais felizes, afirma Clécio. “Não importa quantas horas o colaborador trabalhou, talvez esse seria o preço da felicidade, mas não há como medir isso. Ganhamos sendo felizes”, completa.

A colaboradora Paula Albino, de 27 anos, trabalha na empresa há cinco anos e não pensa em sair. Todos os dias leva seu cachorro Luke para trabalhar junto com ela. “O trabalho é a coisa mais difícil e esse relacionamento que a Plan B proporciona, essas coisa de poder trazer nosso cachorro, não ter horários fixos, esse clima legal, tudo isso influência de forma positiva na nossa felicidade. E se somos felizes, somos mais produtivos. A gente ganha e a empresa ganha”, diz.

Outra realidade e queixas


O administrador de empresas Guilherme Pereira decidiu, depois de trabalhar em várias empresas grandes, que não queria mais isso para ele. Criou, com outras pessoas, o Movimento Buenaonda, uma consultoria com sede em São Paulo que tem por objetivo exatamente prestar assessoria a empresas que pretendem se reorganizar para garantir mais felicidade no ambiente de trabalho. Com grandes clientes, incluindo multinacionais, o Buenaonda não oferece os serviços: trabalha apenas para quem bate à sua porta. O foco da atuação é desenvolver a comunicação, a autonomia e a excelência do resultado, que a equipe considera essenciais para a felicidade. “Em alguns casos, há pessoas que concluem que estão no lugar errado”, explica.

Mas conquistar o emprego dos sonhos pode não ser necessário. Um caso famoso é o de um faxineiro da estação Grand Central, em Nova York. Ele trabalhou lá durante décadas, sem mudar de função, limpando o local por onde passam milhares de pessoas por dia, e onde não se tem ideia se há sol, chuva ou neve lá fora. Ele se dizia uma pessoa extremamente feliz. E quem o encontrava não tinha dúvidas disso.



A psicologia positiva, que, no lugar de decifrar as mazelas humanas tem como foco identificar o que o homem precisa para ser feliz, chegou à conclusão de que 50% das razões estão na genética – e o faxineiro de estação provavelmente teve uma sorte grande nesse quesito, ainda que não em outros. Outros 40% dependem do esforço pessoal, sobretudo o autoconhecimento. E apenas 10% são o resultado das contingências, incluindo o emprego que conseguimos conquistar, a economia do país e os infortúnios que ocorrem em nosso percurso.

Reclamações Na combinação das nossas escolhas e das contingências, porém, há grande chance de enfrentarmos problemas de menor ou maior gravidade. Do ponto de vista do patrão, as queixas são de funcionários que erram, faltam ou deixam de cumprir com suas responsabilidades. Para Mario César Ferreira, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em relações profissionais, as empresa teriam menos problemas caso colocassem o bem-estar no foco de suas atenções. “Em vez disso, fazem uma espécie de ofurô corporativo. Colocam atendentes de call center para fazer ioga por dez minutos. Só que eles saem de lá e encontram todos os problemas novamente. O resultado é uma enorme rotatividade. E os empresários acham que não tem outro jeito nesse tipo de atividade”, afirma.

Estresse é algo necessário e benéfico, explica Ferreira. Com o estímulo, fica-se alerta, pronto para executar o trabalho. O problema é quando esse estímulo passa do limite, situação em que, tecnicamente, o que existe é o distresse. Se os trabalhadores da base são vítimas disso, não estão sozinhos. É grande o número de executivos que padecem do problema, conta o pesquisador e professor de administração da Fundação Getulio Vargas (FGV), André Barcaui, que estuda a felicidade nas empresas.


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