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Estado de Minas SEGUNDO MANDATO

Anúncio da troca de comando na equipe econômica fica para semana que vem

Joaquim Levy deve assumir o Ministério da Fazenda e Nelson Barbosa o do Planejamento, enquanto Tombini será mantido no BC


postado em 22/11/2014 06:00 / atualizado em 22/11/2014 07:23

Joaquim Levy deve ocupar a Fazenda e Nelson Barbosa o Planejamento (foto: Agência Brasil )
Joaquim Levy deve ocupar a Fazenda e Nelson Barbosa o Planejamento (foto: Agência Brasil )

Brasília – A escolha de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa para o Planejamento e a manutenção de Alexandre Tombini no Banco Central, definida nessa sexta-feira pela presidente Dilma Rousseff mas que será anunciada oficialmente apenas na semana que vem, reforça a certeza da presidente de que terá de ‘puxar o freio’ em 2015. Isto, se não quiser perder quatro anos de mandato, como ocorreu com os primeiro quadriênio em que governou o país. E a força da pisada no freio, o próprio governo mostrou ontem ao reduzir a previsão de superávit primário para apenas R$ 10,1 bilhões este ano. O número está muito abaixo até do piso da meta inicial, de R$ 49 bilhões.

Segundo interlocutores palacianos, há uma percepção clara de que “a largada precisa ser forte e precisa”. A presidente entrega a ela mesma um país com crescimento zero, contas em desalinho, inflação em alta. Um cenário bem diferente do herdado em 2010, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva repassou um Brasil crescendo em um ritmo chinês de 7,5%. O perfil mais conservador e ortodoxo, que combina especialmente com Levy, integrante da equipe econômica durante o governo Fernando Henrique e secretário do Tesouro na gestão de Antonio Palocci, também agrada o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lula tem criticado em eventos públicos e privados a condução da política econômica de sua sucessora e defendido uma mudança de rumos.

Tudo estava pronto para que o anúncio fosse feito ontem. A dúvida, até então, era se os nomes seriam divulgados antes ou após o término do pregão do Ibovespa. Os boatos sobre os nomes ao longo do dia fizeram com que as ações negociadas fechassem com alta de 5,02%, indicando que as opções ventiladas – sobretudo o nome de Levy – agradaram ao mercado. Já o dólar fechou em queda de 2,10%, a R$ 2,52. Mas, no fim do dia, Dilma telefonou para a assessoria suspendendo o anúncio de qualquer ministro, incluindo os novos titulares do Ministério da Agricultura (Kátia Abreu) e Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Armando Monteiro Neto).

Pedras no caminho Algumas coisas emperraram o anúncio de ontem, segundo apurou o Estado de Minas. O principal deles é a polêmica sobre a indicação dos nomes para presidir os bancos públicos – Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Levy quer ter autonomia para indiciar os nomes dessas instituições, mas enfrenta resistências e lobbies partidários e de pessoas que já ocupam cargos na equipe econômica.

Para o Banco do Brasil, os nomes cotados são: o atual secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Paulo Caffarelli; o atual vice de varejo do Banco, Alexandre Abreu, defendido pelo ex-presidente Aldemir Bendini; e o atual diretor de Política Monetária do Banco Central, Aldo Mendes, nome preferido pelo presidente da instituição, Alexandre Tombini.

Na Caixa Econômica Federal, Levy enfrenta o lobby do governador da Bahia, Jaques Wagner, que pleiteia a manutenção do também baiano Jorge Hereda, apesar de todos os problemas provocados por ele no episódio que culminou com a corrida de beneficiários do Bolsa-Família às agências bancárias. Dilma confia em Hereda para conduzir a Caixa, banco essencial para o financiamento do programa Minha Casa, Minha Vida.

Aliados da presidente Dilma também atribuíram à polêmica tramitação da proposta de alteração na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2014 que extingue a meta de superávit primário (economia para o pagamento dos juros da dívida pública). Segundo assessores, como há uma guerra com a oposição em torno do tema, seria melhor deixar a atual equipe econômica arrematar as negociações com o Congresso. A proposta deve ser votada novamente na segunda-feira à noite na Comissão Mista de Orçamento (CMO).

Desafio O substituto de Mantega terá um desafio hercúleo de recuperar a confiança dos empresários, do mercado financeiro e dos investidores nacionais e estrangeiros. Levy, para não ser pego de surpresa e poder aplicar seus princípios ortodoxos na política econômica, estaria negociando muito bem o espaço que terá para atuar no novo governo de Dilma. O ex-secretário do Tesouro Nacional tem interesse em indicar o novo nome do organismo que ele chefiou e é considerado por técnicos o melhor chefe que passou por lá. E, para recuperar a desgastada credibilidade do Tesouro, teria mais tempo para pensar em um nome.

Por outro lado, apesar de a saída de Arno Augustin no comando do cofre da União ser um alento para o mercado, o fato de ele (Arno) poder ir para o Planalto e assim ficar mais próximo de Dilma tem deixado especialistas de cabelo em pé. O medo é que Augustin continue interferindo na política fiscal, tirando da manga suas mirabolantes ideias de contabilidade criativa, o que não ajudaria a melhorar a imagem das contas públicas para os investidores.

O economista Tony Volpon, diretor e estrategista chefe para a América Latina da Nomura Securities, lamentou o adiamento do anúncio da nova equipe econômica, uma vez que o mercado financeiro reagiu bem à indicação de Joaquim Levy para a Fazenda. “Levy é bem conhecido como um ortodoxo e formulador de políticas pró-mercado, o que deve ajudar na difícil tarefa de ajustes na política econômica”, destacou. Na avaliação de Volpon, a nomeação de Levy seria fundamental para restaurar a confiança do mercado financeiro. “Seria de esperar o anúncio de um ajuste fiscal de longo prazo para buscar um equilíbrio nas contas públicas mais adequado a fim de evitar um aumento da dívida pública e do deficit em conta corrente”, explicou.

Joaquim Levy: controle de gastos

Simone Kafruni

Indicação do presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, que recusou o convite de Dilma Rousseff para comandar o Ministério da Fazenda, Joaquim Vieira Ferreira Levy é bem visto pelo mercado. Para especialistas, ele poderá recuperar a credibilidade das contas públicas, pois agrega capacidade, experiência e personalidade para fazer os ajustes necessários. Levy já chefiou a assessoria econômica do Ministério do Planejamento, no governo de Fernando Henrique Cardoso, e comandou a Secretaria do Tesouro no primeiro mandato de Lula, quando se notabilizou por controlar as despesas com mão de ferro.

“O Meirelles perto do Levy chega a ser desenvolvimentista em termos de gasto público”, ironizou um parlamentar da base governista. A indicação foi comemorada pelos técnicos da Fazenda, informou uma fonte do Planalto. “Ele é um economista ortodoxo e alinhado com as diretrizes do Fundo Monetário Internacional (FMI)”, disse.
Dilma Rousseff e Joaquim Levy se conheceram no início do governo Lula, quando a atual presidente ainda era uma estreante em Brasília e Levy assumiu o Tesouro por indicação de Pedro Malan, ministro da Fazenda de FHC, que o recomendou ao sucessor na pasta, Antonio Palocci.

Atualmente diretor superintendente do Bradesco Asset Management, o futuro ministro nasceu em 1961, no Rio de Janeiro, onde se formou em Engenharia Naval. Obteve doutorado em Economia pela Universidade de Chicago em 1992 e mestrado em Economia pela Fundação Getulio Vargas (FGV) em 1987. Iniciou a carreira em 1984 no Departamento de Engenharia da Flumar Navegação.

Nelson Barbosa: sem grandes novidades


Rosana Hessel

O economista fluminense Nelson Barbosa é bem visto no meio acadêmico, especialmente, entre os desenvolvimentistas contemporâneos, que seguem a linha de pensamento dele e da presidente Dilma Rousseff. Todavia, para conduzir política econômica do novo governo da petista, ele é visto com ressalvas por especialistas do mercado, uma vez que há dúvidas se ele conseguiria dar a autonomia necessária para o Banco Central atuar já que, conceitualmente, ele defende a tese de que um pouco de inflação não é ruim.

“Essa estratégia (de permitir que o custo de vida fique próximo do teto da meta, de 6,5% ao ano) não funcionou no primeiro governo e a economia está cambaleante. Pelo desafio, é preciso uma pessoa que consiga ter uma agenda econômica mais desenvolvida. Com Barbosa, seria mais do mesmo”, lembrou a economista da consultoria Tendências, Alessandra Ribeiro.

Doutor em Economia pela New School for Social Research, Barbosa graduou-se em Economia na Universidade Federal Fluminense (UFF), onde foi professor substituto entre 1993 e 1994. Fez mestrado em Economia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde é professor titular licenciado para lecionar na Fundação Getulio Vargas (FGV) desde o segundo semestre do ano passado, quando deixou o governo Dilma.

A carreira pública de Nelson Barbosa sempre esteve muito ligada à do ministro Guido Mantega, com quem trabalhou no governo petista de 2003 a 2013, quando deixou o ministério da Fazenda por divergências com o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin.

Alexandre Tombini: ministro feito em casa


Deco Bancillon

O gaúcho Alexandre Tombini, 50 anos, foi indicado pela presidente Dilma Rousseff para permanecer à frente do Banco Central (BC), no segundo mandato da petista, a partir de 2015. Tombini chegou a ser cotado para ocupar o principal posto da equipe econômica, no Ministério da Fazenda, por sua atuação considerada bem-sucedida no BC. Só não foi efetivado no cargo porque demonstrou pouco interesse em mudar de posição.

A decisão diz muito sobre quem é Alexandre Tombini, um técnico aplicado no trabalho e reservado na vida pessoal, que sempre procurou se manter fora dos holofotes. Formado em economia pela Universidade de Brasília (UnB), em 1984, ele fez carreira dentro do próprio BC, onde ingressou por concurso público, em 1995.

A aplicação nos estudos rendeu-lhe uma bolsa para estudar fora do país. De volta ao Brasil, galgou cargos importantes no governo. Foi coordenador de Análise Internacional no Departamento de Assuntos Internacionais da Secretaria de Planejamento, de 1991 a 1992, e coordenador-geral da Área Externa da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, de 1992 a janeiro de 1995, ano que ingressou no BC. Ao mesmo tempo, com apenas 30 anos, já lecionava no mestrado de economia da UnB.

A ascensão no BC também foi meteórica. Tombini ocupou cargos importantes no banco durante os oito anos em que Meirelles foi presidente, de 2003 a 2010, entre os quais o de diretor de Assuntos Internacionais e de Estudos Especiais, entre 2005 e 2006. Antes de se tornar presidente, em 2011, ocupou ainda a Diretoria de Normas e Organização do Sistema Financeiro, entre 2006 e 2010.


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