
O ano já está praticamente perdido para a indústria. Em Minas, os resultados estão piores que os do país. Segundo levantamento divulgado ontem pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), de janeiro a setembro, a queda no faturamento é de 7,62%. A previsão da entidade é de que a retração no ano chegue a 9,1%. Em setembro, no entanto, depois de uma sequência de sete meses de queda no faturamento, o setor respirou, com alta de 2,68% frente a agosto. Foi a primeira vez no ano que o indicador apresenta alta em relação ao mês anterior
Já no país, a produção da indústria caiu 0,2% em setembro na comparação com agosto, revelou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado frustrou analistas de mercado, que esperavam ligeira alta, de 0,2%. O resultado acumulado negativo desde o início do ano, está em 2,1% e, em 12 meses, a queda é de 2,9%.
No estado, apesar da alta mensal, nove setores mantêm queda no faturamento no acumulado dos três primeiros trimestres. As reduções mais expressivas foram notadas nos setores de veículos automotores (-21,03%) e produtos de metal (-20,95%). A indústria extrativa também engrossa a lista, com recuo de 13,09%. O presidente do Conselho de Política Econômica Industrial da Fiemg, Lincoln Gonçalves Fernandes, afirma que nem o aumento do volume produzido tem conseguido compensar a queda dos preços no mercado internacional. Isso porque a alta da oferta e o acúmulo de estoques no mercado asiático contribuem para a queda dos valores das commodities.
Apesar da queda no faturamento, o número de postos de trabalho em Minas se mantém praticamente estável, com leve queda de 0,36% de janeiro a setembro. As horas trabalhadas na produção tiveram redução de 2,35% e o rendimento médio apresentou alta de 4,02%. Na prática, isso significa que houve perda de produtividade na indústria. “O custo maior diminui a rentabilidade”, afirma Fernandes, ressaltando que o cenário dos empregos é “preocupante” para os próximos meses.
Lincoln Gonçalves Fernandes, defende que o governador eleito, Fernando Pimentel, seja o interlocutor na adequação das dívidas dos estados. A redução do indexador daria margem para o petista tomar medidas importantes para a retomada do setor industrial, como a redução da alíquota do ICMS da energia elétrica.
ESTIAGEM No país, os produtos alimentícios lideraram a queda de setembro, com retração de 4,1% — a principal influência foi do setor de açúcar, fortemente influenciado pela seca em São Paulo. Em seguida de petróleo e biocombustíveis, com variação negativa de 1,3%. A redução veio depois de duas altas seguidas, em julho e agosto. No início do ano, a indústria também vinha em trajetória ascendente. Mas o economista André Macedo, gerente da pesquisa, afirma que esses aumentos são insuficientes para salvar o ano. “Houve crescimento sobre algo que já havia caído bastante”, explicou. A indústria teve queda de produção nos meses de março, abril, junho e agosto.
Analistas de mercado compartilham a avaliação pessimista do resultado. “A melhora observada em julho e agosto foram pontuais e não mostraram tendência”, escreveu a economista do Banco ABC Brasil Mariana Hauer, em relatório enviado a clientes. O economista Rodrigo Miyamoto, do Itaú, destacou em seu relatório que, com a queda de setembro, a produção brasileira voltou aos níveis anteriores à Copa do Mundo.
O economista Rogério Cézar de Sousa, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), projeta queda de 2% para a indústria brasileira no ano, o que deverá ter impacto de 0,5 ponto percentual negativo na variação do Produto Interno Bruto (PIB), que deve crescer apenas 0,24%, segundo as últimas projeções do Boletim Focus, do Banco Central, divulgado na segunda-feira.
Siderúrgicas sem competitividade
A apreciação do dólar frente ao real, que levou, ontem, a cotação da moeda norte-americana a R$ 2,50, maior valor no fechamento das operações cambiais desde 27 de outubro, ainda representa pouco como estímulo às exportações da indústria siderúrgica brasileira, um dos setores mais duramente afetados pelo baixo crescimento da economia. O nível de paridade monetária considerado realista para fazer expressiva diferença a favor da participação das empresas no mercado internacional seria, em tese, a partir de R$ 3 por dólar, avalia o presidente-executivo do Instituto Aço Brasil (IABr), Marco Pollo de Mello Lopes.
Ainda que o dólar se mantenha na faixa de R$ 2,40, como preveem analistas de bancos e corretoras, a demanda deprimida de produtos siderúrgicos no exterior combinada ao excesso de capacidade de produção das usinas, estimado ao redor de 500 milhões de toneladas, deverá continuar impondo restrições às exportações brasileiras, nas projeções do IABR. “Pode-se buscar nichos de mercado específicos e experiências localizadas de entrada no mercado externo, mas a perspectiva das exportações é muito limitada, com esse excedente monumental que o setor enfrenta”, afirmou o executivo, que fez palestra, ontem, em Belo Horizonte, sobre a situação da indústria siderúrgica no Brasil e no mundo.
Se corrigida uma defasagem estimada em 22% do dólar, a expectativa tende a ser melhor, embora não mude a convicção de que a solução vislumbrada pelas empresas estaria mais voltada para o mercado interno. “Se o câmbio seguir para um patamar realista, haverá grande melhoria de competitividade, para que a indústria brasileira enfrente as importações e possa colocar a cabeça para fora”, disse Mello Lopes. As vendas externas do Brasil de produtos siderúrgicos somaram US$ 5,6 bilhões no ano passado, com um volume de 8,1 milhões de toneladas, representando 26,2% do total dos negócios das empresas.
De acordo com levantamento do IABr, de janeiro a setembro as exportações alcançaram 6,8 milhões de toneladas, com receita apurada de US$ 4,9 bilhões. Houve aumento de 16% em faturamento, ante avanço de 10,4% em volume, frente aos registros em idêntico período do ano passado. As importações atingiram 3,1 milhões de toneladas, um acréscimo de 13,6% ante 2013 e US$ 3,2 bilhões, queda de 1,5% na mesma base de comparação. Empresas a exemplo da Usiminas têm trabalhado no fortalecimento dos embarques ao exterior para compensar perdas no mercado interno.
O presidente-executivo do IABr observou que as estimativas de crescimento do consumo de produtos siderúrgicos no mundo, de 2% no ano que vem, estão longe de absorver os excedentes de capacidade produtiva. Estudo divulgado recentemente pela consultoria Mckinsey & Company indica que para a indústria siderúrgica retomar a rentabilidade seria necessária a retirada de 300 milhões de toneladas excedentes.
