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Estado de Minas

Falta planejamento nos comércios de bairro

Pesquisa do Sebrae mostra que pequenos empreendimentos de comunidades da Região Leste de Belo Horizonte têm alto índice de mortalidade e são abertos sem considerar concorrência


postado em 29/09/2014 06:00 / atualizado em 29/09/2014 07:22

Gilmar de Souza tem uma papelaria e uma sorveteria no Alto Vera Cruz:
Gilmar de Souza tem uma papelaria e uma sorveteria no Alto Vera Cruz: "A formalidade nos traz muitos benefícios" (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

Regiões menos abastadas de Belo Horizonte são alvo de estudos econômicos para apresentar sugestões de melhoria na renda dos empresários e na da própria comunidade. O primeiro levantamento considerado completo pelo Sebrae Minas, cabeça das pesquisas apoiadas por outras entidades, como a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-BH) e a União Brasileira de Favelas (Ubrafa), fez o raio-X num polígono da área Leste da capital formada por cinco bairros (Alto Vera Cruz, Granja de Freitas, Baleia, Cidade Jardim Taquaril e Taquaril), um conjunto habitacional (Taquaril) e a Vila da Área. A região abriga 719 empresas de pequeno e médio portes e quase 48 mil moradores.

A estimativa da despesa total anual dessas pessoas é de aproximadamente R$ 397 milhões. A intenção dos levantamentos é fomentar o varejo nessas comunidades para que a renda dos moradores não migre para outras bandas e até para os shoppings. Na prática, os especialistas vão analisar problemas de cada região e detectar predicados que possam ser usados no aumento da receita e na geração de empregos. Ações semelhantes serão feitas em vilas do entorno da Avenida Silva Lobo, na Região Oeste da cidade; no Aglomerado da Serra, formado por seis comunidades da Centro-Sul; e na Pedreira Prado Lopes, local de baixa renda da Noroeste.

Pizzaria Bruneri emprega quatro pessoas e teve crescimento nas vendas este ano
Pizzaria Bruneri emprega quatro pessoas e teve crescimento nas vendas este ano
São áreas com problemas semelhantes, mas cujas propostas para melhorar a economia levarão em conta particularidades de cada uma. O primeiro estudo apurou, por exemplo, que muitos empreendimentos do Alto Vera Cruz e vizinhança enfrentam dificuldades para manter as portas abertas. Um dos motivos é a falta de planejamento na escolha de alguns ramos. O comércio varejista de vestuário e acessórios, por exemplo, conta com 165 empresas – 23% dos 719 empreendimentos. O número é considerado exagerado para a área, o que torna a concorrência ainda maior.

“São negócios que surgem a partir da necessidade de sobrevivência de pessoas com pouca instrução formal e que, por isso, são geridos de maneira precária. O resultado é um alto índice de rejeição e mortalidade das empresas”, avalia Márcia Valéria, analista do Sebrae Minas. É o chamado “empreendedorismo por necessidade”.

CAPACITAÇÃO
O relatório do Sebrae alerta para o risco: “As pessoas dos bairros mais vulneráveis tendem a escolher atividades com menor barreira de entrada e menor capacitação pessoal. Este pode não ser o caminho correto para o sucesso do empreendimento, gerando muitos estabelecimentos na mesma categoria ou mesmo sem diferenciação (lojinhas de vestuário, bijuterias, alimentação menos elaborada, entre outros)”.

Uma das propostas para a região é explorar o turismo oferecido por um mirante no Taquaril. “Como o local permite uma visão privilegiada de BH e está no limite de uma área com feições mais rurais, novas atividades econômicas poderiam ser desenvolvidas no local. Considerando a região do Taquaril como um todo, em diversos pontos se tem uma bela visão da cidade, o que pode representar um potencial de exploração turística”, sugere o relatório.

Pizzaria Bruneri emprega quatro pessoas e teve crescimento nas vendas este ano (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Pizzaria Bruneri emprega quatro pessoas e teve crescimento nas vendas este ano (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Outra proposta é a necessidade de formação profissional e gerencial contínuas nos empresários e suas equipes de colaboradores. No caso da área pesquisada, o relatório concluiu que “dada a dimensão da necessidade, a região poderia até abrigar uma escola técnica de varejo para acelerar o processo e garantir longevidade ao tratamento deste tipo de problema. Porém, enquanto essa ideia não se viabilizar, medidas pontuais podem ser lideradas pelo próprio Sebrae para acelerar o processo de profissionalização do local”.

O empresário Gilmar de Souza Lima, de 57 anos, concorda com a conclusão. Ele é dono de uma papelaria e de uma sorveteria que funcionam no mesmo imóvel. “Herdei a indústria de sorvete de meu pai há quase duas décadas. Era um empreendimento informal. Migrei para a formalidade e, há cinco anos, abri a sorveteria. A formalidade nos traz muitos benefícios”, disse o rapaz. Um deles é a possibilidade de conseguir capital de giro em instituições financeiras.

O que os consumidores querem

Os estudos sobre a economia das regiões carentes de Belo Horizonte são importantes, entre alguns motivos, porque sinalizam aos empresários os segmentos que mais recebem dinheiro dos consumidores. No caso do polígono da Região Leste pesquisado pelo Sebrae, a maior parte dos R$ 397 milhões que serão gastos pelos moradores da área irá para o grupo alimentação em casa: R$ 54 milhões.

É um prato cheio para o casal de empresários Vagner Luciano Neri e Ana Aparecida Neri, ambos de 40 anos. Eles fundaram, há 15 anos, a Pizzaria Bruneri, que hoje emprega quatro pessoas. “Nossas vendas cresceram cerca de 30% no primeiro semestre deste ano”, comemora Vagner. O percentual é bem maior do que a média calculada pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-BH) para todo o varejo da capital no período: 1,9%.

Parte do aumento apurado pelo casal se deve às estratégias que Ana aprendeu em cursos de capacitação. “Por exemplo, no relacionamento com os colaboradores”, conta ela. Esse tipo de medida, além de gerar maior confiança entre patrões e empregados, torna o ambiente mais harmônico. A alimentação fora do lar é o segundo grupo que mais atrai as despesas dos moradores da região (R$ 18,09 milhões).

O Sebrae dividiu esses grupos em duas categorias: coletivo, cujos gastos são feitos para toda a família, e pessoal. “Considerando o total da região, 51% das despesas são coletivas (com a família) e 49%, pessoais”, concluiu o relatório. Contudo, o estudo apurou que quatro dos cinco primeiros grupos são gastos coletivos. A exceção neste corte é o gasto com alimentação fora de casa. Na prática, significa que essas despesas são feitas por meio do compartilhamento do orçamento doméstico. A pesquisa ainda apurou que o montante consumido pelas famílias da região é maior no Alto Vera Cruz (54% do total), seguido pelo Conjunto Taquaril (29%).


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