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Estado de Minas

Quase metade dos brasileiros sobrevive com até um salário mínimo

Indicador do governo mostra que renda dos mais ricos subiu mais que a dos mais pobres. Rendimento das duas classe subiu, mas taxa de desemprego cresce


postado em 19/09/2014 06:00 / atualizado em 19/09/2014 08:38

Aposentado com um salário mínimo, José Francisco está na base da pirâmide e espera melhorar de vida (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Aposentado com um salário mínimo, José Francisco está na base da pirâmide e espera melhorar de vida (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
“Vim para BH em busca de emprego e uma vida melhor”, disse José Francisco Pereira dos Santos, um valadarense de 54 anos que perdeu as contas de quantas paredes e lajes levantou em mais de três décadas como pedreiro. Na quarta-feira, ele se aposentou. Sua renda mensal será de um salário mínimo (R$ 724). Seu maior patrimônio é um barracão na Vila Acaba Mundo, na Região Centro-Sul. Do portão de sua moradia, ele avista tanto o poluído córrego a céu aberto que corre no aglomerado quanto as mansões do vizinho Bairro Mangabeiras. É o retrato da distribuição de renda no país, que aumentou pela primeira vez desde 2001.


A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que o indicador que mede esse cenário teve uma sensível piora de 2012 para 2013. Trata-se do índice de Gini, que oscila de zero a um e quanto mais baixo significa que melhor é a distribuição de renda em um país. No caso da distribuição dos rendimentos do trabalho, o índice de Gini mudou de 0,496 para 0,498. Na mesma toada, o índice de Gini que mede as fontes de rendimento, como aposentadorias e transferências do governo, foi de 0,504 para 0,505.

A renda média do brasileiro até que melhorou de um ano para o outro, contudo, o crescimento maior ocorreu na parte de cima da pirâmide, o que ajuda a entender o aumento da desigualdade. Para se ter ideia, a renda dos 10% mais ricos subiu 5,7%, enquanto a dos 10% mais pobres avançou 3,5%. Na média geral, em números absolutos, a renda também aumentou 5,7%, de R$ 1.590 para R$ 1.681. Mas o total de lares que sobrevivem com até um salário mínimo por morador é grande: 44,8% dos 60,8 milhões de domicílios com algum tipo de rendimento. Portanto, isso ocorre em mais de 27,2 milhões de residências, como na do valadarense José Francisco.

Ele mora sozinho no mesmo aglomerado em que também reside seu xará José Augusto Gomes, de 73 e que também recebe o piso nacional. “Sou aposentado. O dinheiro dá para sobreviver, mas é uma sobrevivência de classe baixa. As coisas estão ficando mais difíceis no Brasil”, avalia José Augusto. A constatação dele não é a mesma da presidente do IBGE, Wasmália Bivar. Para ela, o sensível aumento nos indicadores do Gini não representa uma interrupção na melhora da distribuição de renda, mas sim uma estabilidade.

“Não há uma melhora porque o índice subiu. O que podemos dizer é que há uma estabilidade. Precisamos pensar agora em outras políticas para o país voltar a avançar em termos de igualdade. O Brasil, apesar da grande melhora que ocorreu nos últimos anos, ainda é um país bastante desigual”, disse a presidente do instituto. O país também precisa avançar na geração de empregos, pois, de 2012 para 2013, a taxa de desocupação subiu de 6,1% para 6,5%.

Fernanda Silva faz parte da população com acesso à internet, como mais de 50% dos brasileiros hoje (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Fernanda Silva faz parte da população com acesso à internet, como mais de 50% dos brasileiros hoje (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Foi a primeira alta desde 2009, no auge da crise internacional. A crise prejudicou Fernanda Silva, de 24. Ela perdeu o emprego numa mineradora, um dos setores que mais sentiu os reflexos da recessão econômica mundial. “Ainda estou em busca de uma vaga no mercado de trabalho. Quero conseguir me encaixar para poder fazer um curso superior”, planeja. O sonho dela é cursar arquitetura.

A Pnad, aliás, constatou que a escolaridade dos trabalhadores aumentou nos dois últimos anos. Nesse sentido, o relatório do IBGE concluiu que “reduziram-se de 2012 para 2013 as proporções de trabalhadores com fundamental incompleto (de 27,9% para 25,7%) e médio incompleto (6,7% para 6,5%) e aumentaram as dos sem instrução (6,6% para 7%), com fundamental completo (10,3 para 10,5%), com ensino médio completo (30% para 30,4%), com superior incompleto (5,2% para 5,4%) e com superior completo (13,1% para 14,2%)”.

Emprego doméstico  Essa é a primeira Pnad depois da nova lei trabalhista dos empregados domésticos. O estudo concluiu que o rendimento médio dos homens e mulheres que exercem algum trabalho desse grupo (empregada no lar, motorista particular, cuidadora de idosos etc) subiu mais entre aqueles que não têm carteira de trabalho assinada (5%). Já o percentual daqueles que trabalham com registro foi de 2,3%. Por outro lado, levando-se em conta o valor dos salários, a média dos que trabalham com carteira assinada (R$ 877) é superior ao do outro grupo (R$ 545).

 O IBGE concluiu que todas as categorias tiveram acréscimo no rendimento médio mensal real do trabalho principal de 2012 para 2013, de R$ 1.423,00 para R$ 1.511,00 – alta de 6,2%. “Os outros empregados sem carteira assinada tiveram o maior aumento, 10,2% (de R$ 869 para R$ 958), seguidos por militares e estatutários, com 5,9% (de R$ 2.576 para 2.728) e trabalhadores com carteira de trabalho assinada, com 4,4% (de R$ 1.483 para 1.548)”, informou o relatório do instituto.

Apesar do aumento do desemprego, houve uma boa notícia: a proporção do rendimento de trabalho das mulheres em relação ao dos homens aumentou de 72,8% para 73,7%. Em média, o sexo masculino recebeu, em 2013, R$ 1.890,00. O sexo feminino, por sua vez, R$ 1.392,00. “Houve algumas melhoras no Brasil no último ano, mas muita coisa pode melhorar”, concluiu José Francisco, o valadarense que se mudou para BH em busca de uma vida melhor.

 

Ainda mais conectados

 

Uma das diversões de Fernanda Silva, a jovem de 24 anos que deseja estudar arquitetura, é navegar na internet. Há alguns meses, ela comprou um computador e um notebook. Seu celular, claro, tem acesso à rede virtual. A proporção de percentual de internautas, de 2012 para 2013, foi de 49,2% para 50,1% em todo o país, o que mostra que o brasileiro está mais conectado à internet.

O estudo ainda apurou que 130,8 milhões de pessoas com 10 anos ou mais de idade tinham telefone móvel, o que representou um crescimento de 6,3 milhões de homens e mulheres no confronto com 2012. Portanto, em termos percentuais, o total de aparelhos em relação à população brasileira passou de 72,8% para 75,5%.

José Augusto Gomes, o morador da Vila Acaba Mundo, tem um celular. Ele não vê vantagem em ter um telefone fixo. E se recorda da época em que o aparelho ligado na tomada era um dos melhores investimentos dos brasileiros. “Telefone fixo era mais caro que imóvel. Valia uma fortuna”. A desestatização do sistema telebrás, em 1998, barateou o custo da telefonia no país.

Os eletrodomésticos também têm um capítulo especial na Pesquisa Nacional por Amostras de Domícilio (Pnad). A maioria dos lares brasileiros tem fogão (64.304 dos 65.346 domicílios), rádio (49.329 endereços), televisão (63.297), geladeira (63.322) e máquina de lavar roupas (37.927). Esse último equipamento era um sonho antigo de dona Maria Nilza Oliveira Silva, de 53. “Eu lavava as roupas com as mãos. Machucava. Agora é diferente. Eu coloco na máquina e ela lava e enxagua”, conta a mulher, que ganha em torno de R$ 500 como faxineira. Em todo o país, o total de lares com o aparelho aumentou 7,8%.


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