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Estado de Minas A ORIGEM DAS MINAS GERAIS

Bandeira de Fernão Dias em busca de esmeraldas, que deu origem a Minas, completa 340 anos


postado em 28/07/2014 06:00 / atualizado em 28/07/2014 07:39

A estátua de Fernão Dias na praça do Centro de Ibituruna, no Sul de Minas. Cidade foi fundada pelo bandeirante em 1674, como indica a placa comemorativa dos 300 anos do município (detalhe) (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
A estátua de Fernão Dias na praça do Centro de Ibituruna, no Sul de Minas. Cidade foi fundada pelo bandeirante em 1674, como indica a placa comemorativa dos 300 anos do município (detalhe) (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Ibituruna, Sabará, Brumadinho e Esmeraldas
– A multidão se aglomerou no largo do Mosteiro de São Bento, na Vila de Piratininga, para desejar sorte ao abastado senhor de 66 anos que guiaria 40 homens brancos e 600 mamelucos e índios em busca da lendária Sabarabuçu, a reluzente serra de esmeraldas, e da desejada Vupabuçu, a lagoa abarrotada da mesma pedra preciosa. Era manhã de 21 de julho de 1674, o sábado que entrou para a história como o dia em que a bandeira de Fernão Dias Pais (1608-1681) partiu da hoje São Paulo para iniciar a formação de Minas Gerais e ligar economicamente o Norte e o Sul do Brasil.

Foram sete anos desbravando o inóspito sertão do atual território mineiro e penando com doenças. O bandeirante morreu de febre amarela, em 1681, sem retornar vivo à vila natal – o corpo está sepultado no Mosteiro de São Bento. Apesar da longa jornada, ele não encontrou sequer uma pepita de esmeralda. Mas a expedição deixou um legado econômico para Minas e o Brasil. A bandeira fundou povoados que deram origem a cidades de diferentes portes. A primeira é Ibituruna, no Sul do estado. Na hoje Grande Belo Horizonte surgiram Piedade do Paraopeba, bucólico distrito de Brumadinho; Roça Grande, o berço de Sabará; e Sumidouro, em Pedro Leopoldo.

Já no Vale do Jequitinhonha, a expedição contribuiu para a formação de Itacarambira e Itamarandiba. As picadas abertas pela expedição inspiraram o traçado de corredores viários, como o trecho da BR-381 de BH a São Paulo. A certidão da estrada reconhece a importância da coluna: Rodovia Fernão Dias. Na pegada das picadas e pousos abertos pela expedição, outras bandeiras partiram de São Paulo. Surgiram mais cidades e, em 1720, diante da proliferação de vilas e povoados, a Coroa portuguesa decidiu criar a Capitania de Minas Gerais.

"Nossa agricultura é herança dos bandeirantes", diz José Antônio Filho, 69 anos (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
“Graças à quimera da serra das esmeraldas, da lagoa dourada e de outros mitos, a epopeia de Fernão Dias desencadeou, com os consequentes desdobramentos, a criação de Minas Gerais”, concluiu o historiador Raimundo da Silva Rabello, autor de O país do Pitanguy, livro que trata, entre outros assuntos, da bandeira de 1674. Em alusão aos 340 anos do início da expedição, o Estado de Minas publica a série A origem das Minas Gerais.

CAMINHO A tropa saiu de Piratininga, cruzou a Serra da Mantiqueira pela garganta do Embaú e montou o primeiro povoado mineiro. Ibituruna tem, hoje, cerca de 3 mil habitantes. Atrás da Capela do Rosário, uma placa de bronze instalada em 1974 pelo então governador do estado Rondon Pacheco homenageia a data. Atrás da matriz há uma estátua do explorador e outra moção: “Fernão Dias Pais, fundador de Ibituruna, primeiro povoado mineiro”. A tropa permaneceu no lugar, à espera do fim da temporada de chuvas, por seis meses. Nesse período, os homens plantaram milho, mandioca e outros.

O trabalho era em conjunto. Ainda é assim: agricultores de baixa renda dividem um terreno na entrada da cidade para plantar tomate, alface, repolho e outros legumes e verduras. Sérgio dos Santos, de 34 anos, ganha a vida com o que tira da terra: “Vou de porta em porta. Consigo uns R$ 500 por mês”. José Antônio Filho, de 69, é outro que ganha a vida na horta comunitária: “Nossa agricultura é herança dos bandeirantes”. A dupla e outros moradores deixam parte da renda na mercearia do Tião, apelido de Sebastião Alves, de 77.


“Trabalhei três décadas para o senhor que montou esse comércio. Recebi a venda como herança”, conta o empresário, um estudioso sobre a história da cidade e colecionador de notas antigas. Tião tem orgulho em mostrar as cédulas de cruzeiro, cruzado e outras moedas. “O real completou 20 anos este mês”, recorda. Mas o real não é o único dinheiro a movimentar a economia nacional. O país tem mais 104 moedas. Todas são reconhecidas pelo Banco Central e circulam em regiões carentes, geralmente sem agências bancárias, para fomentar a economia local.

Uma dessas moedas circula em Esmeraldas, na Grande BH, cuja origem está ligada aos bandeirantes. Tanto que o nome da cidade, que já foi Santa Quitéria, homenageia a pedra que Fernão Dias tanto procurou. No maior distrito de lá, Melo Viana, circulam notas de esmeraldas. “Há cédulas de 0,50, 1, 2, 5 e 10”, conta João Lopes, responsável pelo banco comunitário. Aberto em 2012, a instituição oferece linhas de crédito a pessoas físicas com juro zero. Como lá não há agência bancária, muita gente vai a outros lugares sacar dinheiro e aproveita a viagem para fazer compras, desabastecendo a economia local.

O dinheiro social começou a mudar essa realidade. Para isso, comerciantes concedem descontos de até 20% em compras pagas com esmeraldas. “Moedas sociais são instrumentos de políticas públicas de finança solidária, pois são compatíveis com a política monetária, sob a responsabilidade do Banco Central”, explica o economista Gabriel de Andrade Ivo, da Fecomércio-MG.

A 70 quilômetros de Esmeraldas, uma vanguarda da bandeira fundou o segundo lugarejo, conhecido hoje como Piedade do Paraopeba, distrito de Brumadinho e onde vivem cerca de 1 mil habitantes. Dezenas deles vieram de cidades maiores, como o casal Silvânia Gomes e Rossini Santos. Eles são donos da Pousada Matriz, localizada atrás da Igreja de Nossa Senhora de Piedade e no sopé da Serra da Moeda. “Tive um salão há 26 anos. Meu marido, há 20, uma loja de chaves. Trocamos a correria de Contagem pela qualidade de vida. Montamos o empreendimento há seis meses e os negócios vão bem”, diz Silvânia.

De lá, os exploradores seguiram para a margem direita do Rio das Velhas, onde fundaram Roça Grande, berço de Sabará, cidade com cerca de 130 mil moradores. Na praça principal, uma placa: “Nesta Roça Grande, planta-se a semente de um povo valoroso e guerreiro. Aqui nasceu Sabará”. A cidade lucra com o turismo, o artesanato, a gastronomia e a mineração. Nilton de Fátima, gerente do Restaurante Sabarabuçu, calcula que o movimento cresce 20% ao ano. O nome do estabelecimento é uma homenagem à lendária serra que Fernão Dias perdeu a vida tentando, em vão, encontrar. Em compensação, ajudou a formar o que hoje é o terceiro estado mais rico do país, com um Produto Interno Bruto (PIB) em torno de R$ 390 bilhões.


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