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Estado de Minas

Estado de Minas entrevista Fernando Henrique Cardoso

No começo foi muito difícil convencer o Congresso e o país de que não se tratava de uma fraude eleitoreira


postado em 29/06/2014 06:00 / atualizado em 29/06/2014 08:41

Fernando Henrique Cardoso
Sociólogo, 83 anos
Ex-presidente da República

 

Quem observa o real em perspectiva percebe mais facilmente o sucesso do plano do que os percalços. Mas o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ainda se lembra bem deles. Na lista de agruras destaca-se o período do início de 1999. Em meio à instabilidade global e ataques especulativos contra a moeda brasileira, o governador de Minas, Itamar Franco, decretou a moratória da dívida do estado. Poucos dias depois, o Banco Central (BC) permitiu a flutuação do câmbio – de R$ 1,32, o dólar passou a R$ 2,16 em dois meses. Sem citar nomes nem entrar em detalhes, Fernando Henrique, nesta entrevista concedida por escrito ao Estado de Minas, atribui a situação de 1999 à “crise internacional e à irresponsabilidade política nacional”. O ex-presidente identifica uma série de desafios para que o país conclua a agenda inacabada do real.

Vinte anos depois, como o senhor avalia os resultados do Plano Real? Foram plenamente alcançados?
O Plano Real visava à estabilidade ao longo do tempo, com melhoria contínua das condições de vida do povo, não só de renda. Ou seja, melhores serviços públicos. Conseguimos manter a inflação sob relativo controle, iniciou-se um processo de recuperação de salários e de redução da pobreza. Mas a reestruturação do Estado para assegurar serviços de melhor qualidade ficou pela metade. De modo que os objetivos foram apenas parcialmente alcançados.


O que ainda precisa ser feito para consolidar a estabilidade e o dinamismo da nossa economia, de modo a acelerar o crescimento do PIB sem criar desequilíbrios?
O principal para consolidar a economia é retomar o aumento das taxas de produtividade, olhando para o longo prazo. Não se precisa de um “arrocho”, mas de correção de rumos na política econômica (mais respeito às metas de inflação e maior controle nos gastos). Mas, sobretudo, precisamos de mais e melhor investimento público e privado. Para isso, é conveniente restabelecer a confiança quebrada na continuidade de políticas sérias que favoreçam o crescimento.

O senhor acha que os governos posteriores ao seu trabalharam em direção a esses objetivos? Como?
Certamente, os governos posteriores ao meu deram ainda maior impulso à melhoria de salários e à distribuição de renda. Verdade também é que, principalmente entre 2004 e 2008, se beneficiaram enormemente da situação mundial favorável. Entretanto, paralisaram as reformas necessárias para assegurar o crescimento da produtividade e a oferta de bons serviços públicos, além da penetração de interesses partidários na máquina pública. Mais ainda, principalmente no governo atual, foi criado um clima de desconfiança com relação ao setor privado e foi levada ao máximo o lema lulista: para crescer basta aumentar o crédito público e o consumo. Resultado: estamos entrando num período de estagflação, com baixo crescimento e um pouco de inflação.

Em algum momento o senhor achou que o Plano Real poderia não funcionar, seja durante a sua concepção, seja nos primeiros anos após sua implantação?
Sim. No começo foi muito difícil convencer o Congresso e o país de que não se tratava de uma fraude eleitoreira. Em 1999, por outros motivos — crise internacional e irresponsabilidade política nacional — temi que a estabilização naufragasse. (PSP)

 


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