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Estado de Minas

Uma indústria chamada futebol: jogos movimentam cifras milionárias

Jogos em BH mobilizam um batalhão de operários do esporte, que vão dos bilheteiros ao pessoal responsável pela limpeza das arenas


postado em 11/08/2013 07:00 / atualizado em 11/08/2013 07:32

Pedro Rocha Franco

Confira quantos profissionais são envolvidos na estrutura de um jogo de futebol em BH(foto: Paulinho Miranda / EM / DA Press)
Confira quantos profissionais são envolvidos na estrutura de um jogo de futebol em BH (foto: Paulinho Miranda / EM / DA Press)
Os holofotes ficam voltados para os 22 jogadores em campo. Das arquibancadas, a atenção é toda para eles. Enquanto a bola rola por 90 minutos, no entanto, fora das quatro linhas, um batalhão de trabalhadores vive de olho em uma fatia do valor gasto pelos milhares de torcedores que vão ao estádio. Ambulantes, atendentes, donos de bares e seus funcionários, pipoqueiros e seguranças, além dos servidores públicos (policiais, bombeiros, guardas e agentes de trânsito), são alguns dos profissionais que compõem uma equipe gigantesca que está presente em todos os jogos, mas não toca na bola e, muitas vezes, nem assiste à partida. Somados, os que atuam dentro e fora das dependências do gramado em uma tarde de Mineirão lotado são mais de 3,5 mil pessoas envolvidas no mais movimentado evento da cidade, o equivalente a 37% dos empregos gerados pela indústria na Região Metropolitana de Belo Horizonte em junho.


E a "convocação" extra-campo se justifica: somente este ano, incluindo Campeonato Brasileiro e Libertadores, os valores arrecadados já superaram R$ 30 milhões, somado o recorde da renda de R$ 14 milhões da final entre Atlético e Olimpia. A principal receita em um estádio está vinculada à venda de ingresso, mas não para por aí. Em um jogo de Mineirão lotado, como a final da Libertadores, o faturamento nos bares supera os R$ 300 mil.


Engana-se quem pensa que o esporte preferido dos brasileiros começa com o apito do juiz. O "jogo" começa com dias de antecedência. A partir da definição do adversário, clubes e organizadores se comunicam para definir quantas pessoas serão chamadas para dar suporte à partida. A convocação é feita com base na estimativa de público. No Mineirão, em dias de arquibancada lotada (62 mil pessoas), o pessoal alocado para trabalhar no estádio é significativamente maior que em dias de jogos do América no Independência, por exemplo, que recebem entre 1 mil e 3 mil pessoas.


Tais características são importantes para saber quantos banheiros, bares e bilheterias funcionarão no dia da partida e, por consequência, quantas pessoas atuarão em cada posto. “A organização de um jogo para 5 mil pessoas, no Campeonato Mineiro, é bem diferente da de uma partida para 20 mil, na semifinal da Libertadores”, afirma o gerente operacional da Arena Independência, Helber Gurgel, que, em dias de casa cheia, permite a entrada de aproximadamente 2 mil trabalhadores de apoio, número que aumenta com os agentes de trânsito, policiais e demais profissionais que atuam nas proximidades do estádio.

Para isso, um batalhão é designado para preparar entre duas e três toneladas de feijão-tropeiro e 300 vagas são preenchidas para atendimento nos bares. Tradicional, o tropeiro é o preferido entre os torcedores, consumido por um em cada cinco que vão ao estádio. Tanto é que o Independência, que inicialmente não oferecia a iguaria, também se viu obrigado a incluí-lo no cardápio. O açougueiro Jonatas Dias Silva abre mão até de tomar a tradicional cerveja gelada para gastar os R$ 10 com o tropeiro. “Tenho que ficar só no tropeiro e no refrigerante”, diz o atleticano, que ganha um salário mínimo e meio e, para ver o time do coração, gasta quase 10% do rendimento mensal.


Os postos de trabalho abertos, no entanto, não se resumem aos bares. Segundo a Minas Arena, são vários tipos de profissionais atuando. A equipe de operação é formada por profissionais da área de limpeza, alimentação, hospitalidade, bilheterias e acesso. Uma equipe de cinegrafistas se dedica a produzir imagens para transmissão ao vivo; do controle de operações, técnicos de áudio e vídeo nos intervalos interagem com a torcida pelo telão; comunicadores prestam assessoria para jornalistas e interessados, produzindo reportagens e atualizando sites e redes sociais, e profissionais do setor financeiro acompanham o movimento da bilheteria para fechar o borderô.

PÚBLICOS DIFERENTES
No Independência, a empresa contratada pela BWA para operar os bares e cuidar do serviço de alimentação no interior do estádio tem dois modelos de preparação para dias de jogo. Nas partidas do Atlético, que desde a reinauguração perdeu somente uma partida na arena e, com isso, tem constantemente atraído muitos torcedores, 22 dos 32 bares ficam abertos. O formato segue o padrão Fifa, no qual é recomendadoa um ponto de alimentação para cada 1 mil torcedores. São 110 funcionários – somando os 60 ambulantes, responsáveis por vender água, salgadinhos e outros produtos industrializados arquibancada afora. Em jogos com mais de 15 mil torcedores são comercializadas, em média, 10 mil unidades de bebida, incluindo refrigerantes, água, suco e cerveja sem álcool.


Por outro lado, nas partidas do América, a meta é manter o faturamento equilibrado. Para isso, o coordenador-geral da Super Eventos, Aloísio Anunciação Júnior, explica que o número de empregados escalados é menor e até mesmo ele se desloca para o atendimento nos bares. “Em 90% dos jogos do América a gente só consegue empatar. Por isso, é preciso fazer essa rearranjo”, explica.

Tropeiro à tarde, banheiro à noite

Além do adversário, da competição e da posição do time na tabela, o horário e o dia dos jogos são fundamentais para saber a frequência nos bares, dentro e fora do estádio. Tanto no Mineirão quanto no Independência, as partidas das 18h30 ou das 19h30 disputadas durante a semana são aquelas com maior volume de vendas de tropeiro. “Parece que as pessoas vão jantar no Mineirão quando o jogo é nesse horário”, explica a Minas Arena, concessionária responsável pela operação do Gigante da Pampulha. Enquanto isso, nos jogos das 21h50 os torcedores preferem fazer o aquecimento fora do estádio. Em vez dos bares, os banheiros são os mais procurados.


A necessidade do torcedor de ir ao banheiro depois da cerveja fez o dono do Bar Tiaê (ao lado do Independência), Ronaldo Motta, inovar. Para que os clientes não precisassem parar de beber para entrar no estádio. A promoção dá direito ao torcedor de usar o banheiro na compra de três cervejas por R$ 10. “Cheguei a vender 100 caixas de cerveja nos jogos do Galo pela Libertadores.”


Prova da relevância do horário é que o faturamento da concessionária com bares foi idêntico nos jogos do Galo contra o Atlético-PR, às 19h30 (Brasileirão), e contra o Newell's Old Boys (semifinal da Libertadores), às 21h50, apesar de a segunda partida ter tido 5 mil torcedores a mais que a primeira.
O maior consumo do tropeiro nas arquibancadas, no entanto, resulta em mais sujeira, quando se compara com salgados, pipoca e sanduíches. Com isso, o efetivo necessário para limpar as arquibancadas depois do jogo é maior, assim como o tempo gasto para realizar o serviço. (PRF)

 


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