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Estado de Minas

Aumento de preços azeda a feijoada

Valores de produtos do tradicional prato mineiro sobem mais que inflação oficial. Oferta do milho pressionou custo da carne suína


postado em 09/07/2013 06:00 / atualizado em 09/07/2013 11:40

(foto: Lea Donnat/divulgação )
(foto: Lea Donnat/divulgação )
Fã de uma feijoada, o administrador Dênnis Teixeira de Lacerda, de 30 anos, lamentou a disparada dos preços de alguns ingredientes indispensáveis ao tradicional prato inventado pelos escravos e destaque na culinária mineira: “Aumentaram bastante nas últimas semanas”. Pesquisa elaborada pelo site Mercado Mineiro, a pedido do Estado de Minas, traduziu em números a constatação de Lacerda. Os valores em alguns ingredientes subiram dois dígitos apenas entre junho e julho, superando – e muito – a inflação oficial do país, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), no acumulado dos últimos 12 meses.

Enquanto a inflação oficial teve alta de 6,7% em 12 meses, encerrados em junho, o preço da orelha suína saltou 14,84% apenas entre junho e julho, de R$ 3,64 para R$ 4,18. O do toucinho comum ficou 14,63% mais caro, de R$ 2,94 para R$ 3,37. O do rabinho teve alta de 7,46%, de R$ 7,78 para R$ 8,36. Por outro lado, o valor médio do quilo do feijão-preto diminuiu em 2,12% em igual intervalo, de R$ 4,72 para R$ 4,62. Mas, quando observado o acumulado dos últimos 12 meses, o percentual de alta do preço do grão no mercado nacional (23,6%) ficou bem acima do IPCA.

O que ocorreu com os preços do feijão e cortes suínos indispensáveis a uma feijoada completa? Pierre Viella, coordenador da assessoria técnica da Federação da Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Faemg), explica que o preço da carne do porco aumentou em razão das dificuldades enfrentadas pelo setor em 2012: “Para reduzir custos e equilibrar o mercado, muitas matrizes foram abatidas no ano passado. Houve redução de oferta de leitões”.

O aumento do custo a que Vilela se refere teve origem nos Estados Unidos, onde uma grande seca prejudicou parte expressiva das plantações de milho. O país do Tio Sam, maior consumidor mundial do grão, precisou importar milho de outros países. Dessa forma, parte da produção nacional foi exportada para lá, desabastecendo o mercado interno e encarecendo o produto para os criadores de suínos, uma vez que o milho é um dos principais componentes da ração de porcos.

“Para não sair do setor, o produtor começa a abater matrizes. E essa recomposição no plantel é lenta. Outro motivo é a abertura de novos mercados internacionais para o consumo da carne de suínos, como o da Ucrânia”, acrescentou o superintendente de Política e Economia Agrícola da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), João Ricardo Albanez. Tanto ele quanto Vilela apostam que os preços vão subir no segundo semestre. Tradicionalmente, explicam, há um aumento do consumo da carne de porco em razão das festas de fim de ano.

Já o preço do feijão-preto, que subiu 23,6% no acumulado dos últimos 12 meses, encerrados em junho, começa a cair. Em julho, a redução foi de 2,12% em relação a junho, segundo o IPCA. “Como não é um alimento de primeira necessidade, começará a ser rejeitado pelos consumidores e ficará esquecido nas gôndolas. Ainda há a possibilidade de importação, equilibrando os preços”, acredita o especialista da Faemg. O superintendente da secretaria recorda que, há menos de dois meses, o governo federal reduziu a alíquota de impostos para importação do grão, justamente para equilibrar os preços no mercado interno.

Uma feijoada completa leva também laranja e couve. De junho para julho, informa Feliciano Abreu, diretor-executivo do Mercado Mineiro, o preço da couve subiu 2,8%. O da laranja, 1,7%. Os percentuais ganham maior peso quando comparados com a última variação mensal do IPCA, de maio para junho, que registrou percentual menor tanto no Brasil (0,26%) quanto em Belo Horizonte (0,28%).

Feliciano sugere aos consumidores pesquisar os melhores preços. “O valor da orelha suína, por exemplo, oscilou 250,75% entre estabelecimentos da capital. O do toucinho comum, 201%”. Ele explica, porém, que tão importante quanto o preço é a qualidade da mercadoria.

Lanche


O Mercado Mineiro aproveitou as férias de julho para comparar os preços de alguns alimentos vendidos no terminal rodoviário da capital e no aeroporto Internacional de Confins, na Grande BH. A diferença entre os preços médios da tradicional coxinha simples variaram 95,5%: R$ 2,90 na rodoviária e R$ 5,67 no aeroporto. A variação entre as cifras médias do pão de queijo também é exorbitante (91,05%): R$ 1,90 na rodoviária e R$ 3,63 em Confins. O suco de laranja é outro exemplo. A variação, de 84,62%, se deve aos preços médios de R$ 3,25 na rodoviária e de R$ 6 no aeroporto.

Boi e frango na onda dos avanços

Não é só o preço da carne de porco que deve subir ao longo do ano. A de boi e a de frango também. Os valores de alguns cortes da ave dispararam entre junho e julho, segundo pesquisa do Mercado Mineiro. “O maior, de 15,03%, ocorreu com o frango resfriado. O preço médio subiu de R$ 4,59 para R$ 5,28. O da asa resfriada teve alta de 12,21%, de R$ 7,29 para R$ 8,18. O da coxa resfriada cresceu 6,14%, de R$ 6,19 para R$ 6,57”, listou Feliciano Abreu, diretor executivo do site.

Wallisson Lara, analista de agronegócio da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), explica que a alta da carne de frango se deve às exportações. “O frango teve aumento significativo nas vendas externas. Dessa forma, o mercado interno foi um pouco prejudicado”. A tendência, acrescenta o especialista, é de novos aumentos.

Por dois motivos: “O Brasil está na imininência de abrir novo mercado com o México, que está em franca expansão. Além disso, há a questão do câmbio. O dólar valorizado estimula a venda externa”. O analista da Faemg também prevê uma subida de preços na carne bovina. Uma das explicações é a mesma que afligiu os produtores de porcos: abatimento de matrizes em razão da alta dos custos.

Reajuste à vista

“As fêmeas abatidas estariam criando bezerros nessa época”, acrescentou Wallisson. A oferta começa a ficar enxuta. Para piorar há possibilidade de os pecuaristas optarem pelo dólar valorizado, reduzindo a oferta no mercado interno. Tal possibilidade não agrada dona Juliana Maria Reis, de 47 anos: “Acho que o aumento não vai demorar a chegar”. (PHL)


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