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Estado de Minas CONJUNTURA

Incertezas derrubam a confiança do consumidor

Otimismo da população cai 3,5% no país e 5,3% em BH em junho na comparação com maio. Inflação e juros em alta travam impulso de consumo e aumentam o medo do desemprego


postado em 29/06/2013 08:20 / atualizado em 29/06/2013 08:27

A perversa combinação entre inflação alta e minguado crescimento está destruindo a confiança dos consumidores em relação à economia. Pior: elevou, de forma substancial, o temor de aumento do desemprego. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Índice Nacional de Expectativa do Consumidor (Inec) caiu 3,5% em junho na comparação com maio, para os 110,1 pontos, o nível mais baixo desde junho de 2009, quando o Brasil ainda se debatia para sair do atoleiro no qual se meteu depois do estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos.

Nos cálculos da CNI, são levados em consideração seis indicadores: estimativa de inflação, expectativa de desemprego, renda pessoal, situação financeira, endividamento e compra de bens de maior valor. Todos os componentes do Inec caíram neste mês. Segundo a pesquisa, mais da metade (52%) dos entrevistados acredita em elevação do desemprego nos próximos meses, ante 41% em maio. O levantamento mostra ainda que mais de dois terços esperam aumento da inflação. Com isso, o otimismo com relação à renda caiu 1,1% e o índice que revela a disposição dos consumidores para comprar produtos de maior valor cedeu 3,6%.

Na capital mineira, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC), medido pela Fundação Ipead, órgão responsável pela apuração do índice de preços em Belo Horizonte e vinculado à Universidade Federal de Minas Gerais, também apresentou queda. Em junho, a retração foi de 5,39%, na comparação com maio. No acumulado deste ano, a queda é de 13,67%. Ainda de acordo com o Ipead, outro item que apresentou variação negativa foi a pretensão de compra, que recuou 7,01%, em relação a maio. Embora o momento seja de contenção de gastos, o índice apurou ainda que entre grupos que lideram a lista dos bens e serviços que os consumidores desejam adquirir estão veículos (14,29%), vestuário e calçados (12,38%), móveis (10,95%) e eletrônicos (7,14%).

“Esse quadro de desconfiança não me surpreende”, disse o economista Sílvio Campos Neto, da Consultoria Tendências. “Do ponto de vista das famílias, tudo piorou. A inflação continuou subindo, corroendo o poder de compra dos trabalhadores, o endividamento alcançou patamar recorde e o mercado de trabalho já não apresenta o dinamismo do passado”, assinalou. Como não há perspectiva de melhora tão cedo, a tendência é de piora do sentimento da população.

Para Alexandre Póvoa, presidente da Canepa Asset Management, o medo dos trabalhadores pode se tornar realidade no segundo semestre. Como, nos últimos dois anos, a economia cresceu muito pouco, as empresas preferiram sacrificar parte dos ganhos para não cortar funcionários, uma vez que demissões custam caro no Brasil. O problema é que as margens de lucro diminuíram demais e, como a atividade não deslanchará — o crescimento ficará abaixo de 3% —, as companhias tenderão a reduzir o quadro de pessoal. “Por isso, o desemprego será maior nos próximos meses”, assinalou.


Precaução A alta nos preços em itens de supermercado e roupas foi o que mais chamou a atenção da auxiliar de escritório Marciene Sousa, que mora em Ipatinga e passou por Belo Horizonte ontem. “Estou impressionada com os preços. Antes fazia compras aqui, mas agora só posso comprar o que é essencial”, afirma. Com a economia brasileira caminhando em corda bamba a prioridade, segundo ela, é manter a vida financeira da família organizada, sem o acúmulo de dívidas. “Como a gente nunca sabe se os preços e os juros vão subir, optei por parar de consumir. Só compro quando tenho dinheiro e procuro fazer poucas prestações no cartão.”

Com a inflação pressionando seus ganhos, o aposentado Elio da Silva também não quer fazer dívidas. Para ajustar o orçamento, os itens supérfluos foram os primeiros a serem riscados da lista. “O lazer ficou em segundo lugar. Antes fazia mais viagens e passeios com a minha família”, lembra. A principal justificativa para a mudança de hábitos, segundo ele, é o cenário econômico pouco animador. “A sensação é de que o país tem crescido menos e o nosso poder de compra está reduzido. Então a gente fica com medo de não ter como honrar as prestações e dívidas”, comenta.

Vendas Prova de que os consumidores estão cada vez mais cautelosos na hora de comprar é o esvaziamento já sentido no comércio. Luana Rodrigues Pereira, gerente de uma loja de calçados há quatro anos, reclama da maior baixa nas vendas dos últimos anos. “Antes, as pessoas vinham e compravam um sapato para cada membro da família. Agora, quando vêm, compram o que precisam e vão embora”, conta. “Desde dezembro o movimento caiu muito. Esperávamos que isso fosse ser revertido depois do primeiro trimestre, mas não foi o que aconteceu”, acrescenta. Nem mesmo as datas comemorativas, como Dia das Mães e Dia dos Namorados, salvaram o faturamento. “O comércio está muito ruim. As pessoas estão endividadas e com medo da inflação”, conclui a gerente.

Pessimismo no comércio é menor

O Índice de Confiança do Comércio (Icom) da Fundação Getulio Vargas registrou média no trimestre terminado em junho 3% inferior à de igual período de 2012. A média do indicador trimestral fechado em maio havia apurado uma retração de 3,6% frente a igual trimestre do ano passado. De acordo com a FGV, a queda de junho foi determinada inteiramente pela melhora de expectativas em relação aos próximos meses, sugerindo ritmo ainda mais moderado de atividade no segundo trimestre, com aceleração gradual do nível de atividade econômica no terceiro trimestre.

A FGV informou que o Índice de Expectativas (IE-com) recuou 2,5% no trimestre encerrado em junho, resultado mais favorável do que a retração de 4,3% verificada em maio. Na mesma base de comparação, o Índice da Situação Atual (ISA-COM) apresentou queda de 2,9% em junho, ante os 2,6% de maio. Quatro dos cinco níveis de agregação pesquisados pela FGV evoluíram favoravelmente. O indicador de varejo restrito passou de queda de 6,2% em maio para retração de 5,7% em junho. O segmento material para construção passou de recuo de 4,8% para baixa de 3,2% no mesmo período. Na mesma comparação, o índice de confiança de setor de veículos, motos e peças saiu de 4,2% para 2,4%.

Preços Mesmo com a pequena melhora na confiança, redes varejistas fizeram um “pacto” para não repassar aos consumidores o aumento nas alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para móveis e produtos de linha branca, como geladeira e fogão. O fim dos descontos no IPI, que foram concedidos a partir de dezembro de 2011, estava previsto para este mês. Na noite de ontem, o governo anunciou que as alíquotas vão subir gradualmente a partir de segunda, até atingir os seus valores integrais em setembro.

Segundo o Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), representantes das 42 empresas associadas estiveram reunidos ontem e fizeram um acordo para não repassar o aumento do tributo para os preços. Em troca, o setor pede que a medida provisória que trata da desoneração da folha de pagamento entre na pauta do Congresso Nacional na terça-feira.


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