Ser pobre no Brasil vai além de ter pouco dinheiro, significa pagar mais impostos e juros e viver em um mundo à parte, onde a inflação é maior do que para o restante da população. Em abril, o custo de vida dessa parcela de brasileiros, medido pelo Índice Nacional Preços ao Consumidor (INPC) registrou alta de 7,16% no acumulado de 12 meses — o pior resultado em 10 anos para o mês. Em abril, o indicador, que mede a alta de preços para a polução com renda de um a cinco salários mínimos, subiu 0,59%. Essas famílias também pagam caro por serviços e produtos financeiros porque são classificadas pelos bancos, de acordo com a renda, ou seja, quanto menos o consumidor tem, mais ele paga em tarifas e taxas de administração. Nos investimentos, é o que recebe as menores rentabilidades.
A vendedora Rafaela Caldeira, de 21 anos, tem um filho de 4 anos e ganha um salário mínimo por mês. Com o dinheiro que recebe, ela paga conta de telefone, internet e ajuda a mãe com as despesas de casa. A mãe é manicure e recebe, em média, dois salários mínimos por mês (R$ 1,35 mil). “Tudo subiu muito. O litro do leite era pouco mais de R$ 1 e agora está R$ 2,50. O pacotão econômico de fralda também encareceu. Era R$ 25 e hoje está entre R$ 30 e R$ 32”, comenta Rafaela. Para tentar driblar os gastos, ela tem comprado só a verdura de época. “Arroz e feijão também esta mos evitando comprar. Usamos salada e macarrão no lugar. Vamos tentando equilibrar para comprar as coisas mais baratas”, diz.
Peso no bolso
Segundo um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) publicado em 2011, Maria tem razão. Enquanto 32% da renda dos mais pobres se transformam em pagamento de tributos, a maioria deles indiretos, a parcela de brasileiros com renda maior desembolsa menos, 21%. “Essa disparidade entre pobres e ricos é no mundo todo, não só no Brasil, é do capitalismo”, observa Haroldo Mota, professor de economia da Fundação Dom Cabral.
“A renda do pobre é pequena e, para proteger os pobres ou tornar a tributação mais justa, poderia haver uma desoneração de produtos essenciais. O problema é que alguém teria de pagar no lugar deles e aí começa toda uma disputa e a elite tem mais capacidade de barganhar e se proteger”, argumenta o professor da FDC. Maria, em função dos juros e tarifas que pagavam achou mais barato não ser cliente de banco algum. Quebrou todos os cartões e cancelou a conta-corrente que tinha. “Anuidade de cartão é muito caro e até encerrei minha conta porque era tarifa demais. Agora, só no dinheiro”, justifica.