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Estado de Minas

Famílias brasileiras devem R$ 1,1 trilhão aos bancos; valor é quase 25% do PIB

Calote soma R$ 53,2 bi. Consumidor já diminui o ritmo das compras


postado em 27/04/2013 06:00 / atualizado em 27/04/2013 07:20

Brasília – A dívida das famílias brasileiras com os bancos chegou a R$ 1,1 trilhão, quase 25% do Produto Interno Bruto (PIB). Uma fatura considerada pesada por especialistas e com inadimplência elevada. Apenas no crédito com recursos livres, aqueles empréstimos que não têm subsídio do governo, o calote chega a 7,6% do total – o equivalente a R$ 53,2 bilhões. Esses atrasos, porém, parecem longe de se resolver, sobretudo com a piora da inflação e com o orçamento do consumidor cada vez mais comprometido com itens essenciais que encareceram. Em 12 meses, a inadimplência cedeu apenas 0,3 ponto percentual.

O avanço do endividamento do brasileiro nos últimos cinco anos, segundo economistas, chama a atenção. Desde setembro de 2008, o estopim da crise financeira internacional e quando o governo deu início a uma série de estímulos ao consumo, a dívida das famílias mais que dobrou: cresceu 115,3% no período. A base de clientes, ao mesmo tempo, aumentou em ritmo mais moderado, foi incrementada em 24,9%. Ou seja, praticamente todo o crescimento do crédito no país foi gerado pela elevação do endividamento e por juros.

Apesar de a taxa média das operações estar em 34,5% ao ano, depois de ter recuado 6,6 ponto percentual em 12 meses e 0,6 pontos percentuais entre fevereiro e março, os juros no Brasil ainda estão entre os mais altos do mundo. O cheque especial, que recuou 32,2 pontos percentuais no último ano, ainda é uma das modalidades mais elevadas: cobra 137,9% ao ano (veja quadro).

SACOLAS VAZIAS Segundo o estudo Consumer Insights, da consultoria Kantar Wordpanel, com a inflação e o endividamento elevados, o brasileiro, sobretudo os das classes D e E, botou um freio nas compras. “Entre todas as medidas que o governo vem adotando, duas delas têm claramente o objetivo de alavancar o consumo: desoneração de produtos da cesta básica e redução da conta de energia elétrica. No entanto, 2013 começa incerto e com uma desaceleração nítida do consumo em todas as classes sociais”, observou Christine Pereira, diretora comercial da Kantar Worldpanel no Brasil.

Essa desaceleração pode ser observada também nos dados de crédito do Banco Central. No acumulado do primeiro trimestre, as concessões de empréstimos e financiamentos para as famílias recuou 9,7%. No crédito com recursos livres o tombo foi um pouco menor, de 1%. No segmento de crédito que recebe subsídio do governo, chamado de direcionado e que inclui financiamento imobiliário, a queda foi de 20,5%.

Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), avalia que o trimestre foi de poucas operações. “Houve uma desaceleração dos negócios neste início de ano, os bancos estão em busca de clientes. Mas o consumo parece mais fraco e a inflação também tem inibido as compras”, argumentou.

Em março, apesar do resultado ruim do trimestre, os dados deram algum sinal de melhora. As concessões para as famílias cresceu 7% no mês. Para Túlio Maciel, chefe do Departamento Econômico do Banco Central, o primeiro trimestre do ano é naturalmente mais fraco. Ele pondera que a partir de abril e depois no segundo semestre os números devem se mostrar mais robustos. “O crédito mantém um padrão moderado de crescimento. Isso é observado em diversos níveis”, disse. O saldo das operações, que é quanto o brasileiro deve, cresceu 1,4% entre fevereiro e março e 3% no trimestre. Na visão do economista, o avanço tem sido mais moderado nas linhas relacionadas ao consumo. “Aquisição de veículos tem moderação mais clara pela antecipação de compras gerada pelo benefício de IPI reduzido. O uso do cartão à vista também desacelerou”, explicou.

João Augusto Salles, economista da consultoria Lopes Filho, observa que no curto prazo as coisas devem permanecer em ritmo moderado, o crédito em avanço lento e a inadimplência em queda gradual. “Ainda vamos estar nessa de inflação pressionada, o que dificulta a inadimplência cair. Isso também deixa o mercado mais cauteloso”, disse. “Quando os bancos percebem que a inflação está mais forte e com a tendência de alta dos juros, eles ficam mais cautelosos porque isso pode significar inadimplência no futuro”, argumentou.

Juros antecipados


O consumidor passou a pagar mais pelo crédito antes mesmo de o Banco Central elevar os juros. Segundo Túlio Maciel, chefe do Departamento Econômico da instituição, o mercado se antecipou à autoridade monetária. Dados divulgados pelo BC mostram que a taxa média das operações com recursos livres, os empréstimos e financiamentos que não têm subsídio do governo, subiu de 25,3% em dezembro do ano passado para 26,2% ao ano em janeiro. Os juros cobrados das famílias se elevaram de 33,9% para 34,6% no período.


“Como as taxas de juros estão se comportando com a Selic? O que aconteceu, aparentemente, é que teve uma antecipação da taxa básica em janeiro”, disse Maciel. Segundo ele, porém, essa alta não se sustentou. “De janeiro para cá as taxas de juros estão oscilando e agora está tendo uma estabilidade”, observou.

Segundo o economista, o processo de alta da Selic, iniciado na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em 16 e 17 de abril, não deve gerar aumento do calote. “Os aumentos de juros não vão elevar a inadimplência porque as mudanças na taxa são pequenas frente à mudança de patamar dela no último ano”, argumentou.

CONCORRÊNCIA Maciel lembrou ainda que a mudança de patamar dos juros no Brasil foi determinada não apenas pela redução da Selic em 5,25 ponto percentual entre julho de 2011 e outubro de 2012, mas também por um aumento da concorrência entre as instituições financeiras. Desde que o Palácio do Planalto decidiu derrubar os juros do Banco do Brasil e da Caixa, o custo do crédito caiu consideravelmente no país e obrigou o setor privado a também reduzir os spreads (diferença entre o que o banco paga para captar e o que ele cobra ao emprestar).

Na visão do economista do BC, há ainda espaço para novas reduções de juros e spreads. “À medida que aumente a produtividade e eficiência do sistema, que é a melhor maneira de reduzir spreads, sempre há espaço para mais quedas”, afirmou. (VM)


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