Países da América Latina e Caribe requerem cada vez menos energia para produzir, enquanto no Brasil a tendência é diferente, indicam dados do Anuário Estatístico da América Latina e Caribe 2012.
A publicação da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) mostra que, entre 1990 e 2011, a quantidade de energia (renovável ou não) necessária para produzir uma unidade monetária de produção caiu de 1,42 para 1,28, na região. No Brasil, esse indicador subiu de 1,38 para 1,42. Na Argentina o índice reduziu de 1,99 para 1,59. O mais elevado da região foi registrado em Trinidad e Tobago, com 5,03, em 2011, sendo que em 1990 era 3,58.
O indicador da Cepal é calculado com base no coeficiente de consumo total de energia e o PIB em dólares a preços constantes de 2005. O Anuário Estatístico também traz outros indicadores sobre desenvolvimento econômico, social e ambiental dos países da América Latina e Caribe e está disponível desde a última quinta-feira (10) na internet.
De acordo com a Cepal, a relevância desse indicador está no fato de que o aumento do consumo energético para alcançar um Produto Interno Bruto (PIB) maior se traduz em mais pressão sobre os recursos naturais.
O diretor da Divisão de Recursos Naturais e Infraestrutura da Cepal, Hugo Altomonte diz que não se pode afirmar concretamente que a intensidade energética do Brasil tenha crescido substancialmente. Pode-se afirmar que permaneceu aproximadamente constante, pois os valores encontrados e os supostos crescimentos estão no limite do estatisticamente significativo.
Para Altomonte, deveria se questionar por que a intensidade energética do Brasil não baixou quando isso ocorreu em outros países da região. “É possível apontar alguns fatores como causadores desta situação. Por exemplo, embora o setor de transportes e comunicações tenha se mantido quase constante em relação à sua participação econômica no PIB agregado, representando aproximadamente 7,5% do total, a participação deste setor [altamente consumidor de combustíveis] no consumo final de energia, cresceu nos últimos seis anos em torno de 3,6 pontos percentuais, tal como ficou demonstrado no balanço energético do país [em 2011, representa quase 1/3 do consumo de energia]. O crescimento de 3,6% ocorreu, basicamente, no transporte rodoviário, absorvendo, desta forma, as eventuais melhorias tecnológicas e os rendimentos dos motores”, explicou o diretor da Cepal.
Isso significa, de acordo com Hugo Altomonte, que a relação entre o consumo energético do setor e seu nível de atividades cresce em termos relativos, afetando o valor da intensidade energética quando se somam todos os setores.
Outro fator determinante, na opinião de Altomonte, é o forte crescimento que tiveram nos últimos anos outros setores produtivos energético-intensivos, como o setor de construção (que cresceu 11,6% em 2010, com relação ao ano anterior) e que é provável que siga crescendo nos próximos anos, fruto da realização do Mundial de Futebol e das Olimpíadas do Rio de Janeiro, ao impulsionar a realização de grandes obras de infraestrutura, como estádios, vilas olímpicas, hotéis, etc.); a indústria de manufatura, que vem crescendo bastante e, especialmente as indústrias extrativas e minerais (que cresceram 13,6% em relação ao ano anterior em 2010).
“Com o crescimento destes setores altamente consumidores de energia, mais que proporcionalmente em relação ao PIB agregado, é evidente que a demanda energética dos mesmos será equivalentemente maior. Por isso, este crescimento deverá se refletir como um incremento na intensidade energética agregada ou ao menos na estabilidade do seu valor, se considerarmos os esforços que o Brasil vem fazendo para promover o uso racional e eficiente da energia”, disse o diretor da Cepal sobre a questão da intensidade energética no Brasil.