
Há uma década, os brasileiros que quisessem dobrar o poder de compra do seu capital aplicado em renda fixa, sem fazer aportes, levariam 11 anos para alcançar o seu objetivo. Hoje, para fazer o mesmo, seriam necessários 50 anos. Para dobrar apenas o volume do capital, sem garantir o poder de compra, o prazo passou de quatro para 10 anos. Os cálculos foram feitos com base num rendimento de 100% do CDI de 2002 pela V10 Investimentos, a pedido do Estado de Minas. Ainda segundo a V10, em 2002, para atingir o primeiro milhão aplicando R$ 3 mil ao mês seriam necessários 11 anos. Em 2012, mantidas as taxas de juros atuais, com a mesma reserva mensal, o tempo para juntar a bolada passou para 16 anos.
“Poucas pessoas conseguem poupar essa quantia por mês. Em média, no Brasil, os investidores poupam entre 10% e 20% de sua renda mensal. Isso quer dizer que quem poupa R$ 3 mil tem renda entre R$ 15 mil e R$ 30 mil”, diz Lucas Roque Castro, sócio da V10 Investimentos. De acordo com ele, se quiser manter uma atitude conservadora em matéria de investimentos, o brasileiro terá que aceitar ganhar menos, com o risco de obter rendimentos negativos ao fim do período de um ano. “A saída será diversificar e fazer um esforço maior para poupar.”

Corretoras e bancos diversificam foco
Nas corretoras de valores, que até então estavam acostumadas a lotar as salas de palestras sobre investimentos com temas voltados para o mercado de capital, o cenário também mudou. “Hoje, o foco são as opções mais rentáveis na renda fixa.” Numa apresentação realizada pela Ativa na semana passada em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, o tema atraiu mais de uma centena de pessoas, o que era impensável no passado. “Quando se chega ao ponto de uma poupança render 5,07% ao ano contra inflação estimada em 5,30%, todo mundo quer saber para onde correr”, diz Leonardo Lima, economista da Ativa.
O movimento é tão forte que, em setembro, o Banco do Brasil lançou um fundo imobiliário para promover investimentos em 94 imóveis de sua propriedade, entre 26 agências bancárias e imóveis de ocupação mista, como edifícios com agências e outras repartições do banco, além de imóveis residenciais que podem ser usados como apartamentos funcionais. A demanda foi 10 vezes superior à oferta. “A meta era alcançar R$ 1,6 bilhão, mas, para cada R$ 100 ofertados pelos investidores, só R$ 10 conseguiram ser realmente alocados”, explica Arnaldo Curvello, sócio- diretor da Ativa para a área de gestão de recursos.
Luiz Cláudio Silva, analista de sistemas, empresário e investidor, começou a alterar o seu perfil de investimentos a partir da redução da Selic neste ano, à medida que os fundos de renda fixa foram deixando de ser compensadores, principalmente nos grandes bancos. “Percebi que havia oportunidades em bancos de menor porte, mais agressivos, mas também mais arriscados. Mudei para a renda fixa atrelada ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A rentabilidade é muito maior”, diz.
Segundo o empresário, com isso, a rentabilidade que era de 9% ao ano saltou para até 28%. “Pesquisei, olhei o mercado, busquei orientação. É preciso ficar ligado.” Para ele, com o atual patamar de juros básicos na economia brasileira, não dá mais para ficar acomodado nas aplicações tradicionais da renda fixa e do CDB. “Você tem que ser mais dinâmico e sair procurando no mercado ativos mais rentáveis”, ensina. (ZF)
