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Estado de Minas

Modernização do comércio faz surgir um Belvedere mais popular

Empresários investem no bairro, mas foco passa a ser produtos voltados para trabalhadores da região, o que faz o local se assemelhar às ruas movimentadas do Centro da capital


postado em 27/07/2012 06:00 / atualizado em 27/07/2012 13:17

Investimento de empresários em estabelecimentos voltados aos trabalhadores do Belvedere faz local se assemelhar às ruas movimentadas do hipercentro(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Investimento de empresários em estabelecimentos voltados aos trabalhadores do Belvedere faz local se assemelhar às ruas movimentadas do hipercentro (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)


Nem só de luxo vive o comércio do Belvedere. Considerado um  dos mais sofisticados de Belo Horizonte, o bairro vive a contradição de ter na Avenida Luiz Paulo Franco um comércio de rua que mescla negócios finos e populares, que se assemelham às lojas dos corredores movimentados do Centro da capital. Isso porque os proprietários dos estabelecimentos atendem diariamente funcionários de prédios vizinhos, do shopping, trabalhadores dos canteiros de obras da região, babás e empregadas domésticas, que surgem como público-alvo do comércio local.

 A modernização do bairro, que ocorre há 12 anos, é apontada como fator determinante para a chegada dos novos comércios. Restaurantes, lanchonetes, lojas de roupas e agências bancárias se instalaram dispostos a atender a demanda dos trabalhadores por alimentação, conveniência e entretenimento no intervalo do almoço. A partir de então, a oferta de produtos mais baratos se tornou recorrente. Refeição é o destaque. Pratos feitos custam de R$ 5,99 a R$ 9. Há ainda self-service sem balança, que cobra R$ 7,50. Entretanto, em restaurantes com maior oferta de pratos quentes e saladas, o preço do quilo da comida varia de R$ 23 a R$ 50. Lojas de roupas de moda feminina, de bebê e até de artigos importados também são encontradas no local.

Funcionando há mais de sete anos, a Cantina Tseknu Yaveh atrai centenas de clientes todos os dias. De acordo com o sócio-proprietário Chan Wang, que vende comida mineira e chinesa ao preço de R$ 23 o quilo ou R$ 9 o prato feito, o Belvedere é um espaço para todos os tipos de negócios. “Vendo principalmente para os trabalhadores da região, que têm tíquete médio que varia entre R$ 10 e R$ 12 por dia”, explica. “Os negócios de alimentação crescem aqui porque dificilmente eles fariam uma refeição pelo mesmo valor dentro do shopping, todos os dias”, acrescenta.

Ainda de acordo com Wang, a região tem atraído novos estabelecimentos comerciais, principalmente restaurantes e lanchonetes, porque o perfil do consumidor mudou. Segundo ele, a ascensão da classe média permitiu que as pessoas almoçassem em restaurantes mais vezes na semana. “Antes, os trabalhadores traziam uma marmita de casa, mas agora, com salários melhores, acabam almoçando mais vezes nos restaurantes e isso acabou atraindo a atenção de novos empresários que vieram para o bairro em busca desse público”, completa.

Todas as tribos

Instalada na Avenida Luiz Paulo Franco há oito meses, a loja Mercado das Modas está tendo sucesso ao vender roupas com um preço mais acessível. A empresária Stefanie Sousa Vieira, o marido e um sócio, que já tinham uma loja de moda masculina em um shopping popular do Centro, resolveram comprar o ponto do Belvedere para diversificar os negócios. Lá, encontraram uma demanda a ser suprida. “Vendo mais para as mulheres que trabalham nos prédios comerciais, para as babás e empregadas, que vão pouco ao shopping”, conta Stefanie. “Foi uma mudança brusca porque é uma região nobre, mas vi que aqui, curiosamente, tem espaço para o que é mais barato também”, reforça.

Prova de que os clientes aprovam os negócios mais populares instalados na avenida é a assiduidade da doméstica Dircélia Luiza de Almeida, que trabalha há mais de seis anos no bairro, na loja. “Tenho uma hora e meia de almoço, então venho ver as novidades. Essa semana comprei uma calça e agora estou procurando uma blusa”, afirma. Ela garante que possibilidade de fazer suas compras a um preço mais acessível é aproveitada por todos os trabalhadores do bairro. “O Belvedere é mais afastado e se não tivéssemos variedade de lojas aqui teríamos que ir ao Centro resolver nossas coisas”.

Movimento justifica preço do aluguel

As lojas populares se instalam na região que possui um dos metros quadrados para locação comercial mais caros da cidade, cerca de R$ 37 – valor que fica entre os R$ 27,75 e R$ 42 –, segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead). Hoje, só na Avenida Luiz Paulo Franco são mais de 40 pontos comerciais, além de nove agências bancárias abertas. Outros 10 pontos comerciais seguem disponíveis para serem alugados. Por lojas de até 160 metros quadrados, os empresários chegam a pagar alugueis que vão de R$ 4 mil a R$ 6 mil.

A grande circulação de pessoas e localização justificam os altos preços praticados pelo mercado imobiliário. “Este empresário acaba se aproveitando do movimento gerado pela expansão do bairro e acaba pagando muito menos que no shopping, que por 40 metros quadrados cobra R$ 20 mil”, explica o corretor de imóveis Fabiano Araújo, da Belve Imóveis.

A atratividade da região fez com que a empresária Bogênia Hoffman, que trabalha com alimentação há 55 anos, visse no Belvedere a oportunidade de reerguer o seu negócio. Depois de ter o antigo ponto comercial na Savassi solicitado pelos proprietários, ela começou a pesquisar os preços e movimento do Belvedere para inaugurar a lanchonete e doceria Girassol. “Vi a carência de uma lanchonete como a minha e que existia espaço para oferecer um serviço de mais qualidade”, conta.

Segundo os empresários, durante a semana, o movimento é maior no atendimento de balcão e aos finais de semana são os moradores os principais frequentadores dos estabelecimentos. A advogada Lina Soares acompanha o perfil de quem vive na região. “Uso os serviços mais específicos como farmácia, academia, banco e, às vezes, vou a alguma loja de roupas ou restaurante. Acredito que ainda exista uma divisão dos tipos de negócio para os moradores e os trabalhadores”, afirma.

É exatamente a procura de serviços mais sofisticados que mantém o restaurante Graciliano há mais de 13 anos na Luiz Paulo Franco. “Temos que estar preparados para manter o ritmo imposto pela concorrência. Investimos em promoções e parcerias com as empresas do entorno”, conta a coordenadora de equipe do restaurante, Mirani Nunes Freitas.

Briga saudável

Para a executiva de vendas Raielle Pereira, que almoça diariamente no bairro, a briga entre os populares e os restaurantes finos, além dos restaurantes do shopping, permite que eles tenham opções e preços que caibam no bolso. “O shopping ainda é para poucos e precisamos de opções de qualidade, higiene e bom preço”, diz. “Acredito que o comércio ainda tenha muito espaço para crescer porque a região também está crescendo e quanto mais oferta para quem trabalha aqui, melhor”, finaliza. 


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