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Estado de Minas

Real fortalecido e Europa em crise coloca o Brasil na rota de turnês internacionais


postado em 19/04/2012 06:00 / atualizado em 19/04/2012 11:16

Bob Dylan ou Paul McCartney? Blind Guardian ou Megadeth? Jennifer Lopez ou Madonna? Se há uma década a presença de artistas renomados no Brasil dependia de ‘reza brava’ e, mesmo sob a hipótese de Deus ser brasileiro, era raro quando um deles pisava em solo verde e amarelo, de três ou quatro anos para cá o cenário é outro: é possível escolher a que ídolo assistir em um mesmo fim de semana. Real fortalecido, Europa em crise e o aumento do poder aquisitivo de parcela da população antes excluída formam o tripé que possibilita a inclusão do Brasil na rota das turnês internacionais, inclusive em meses do primeiro semestre, quando eram raros eventos internacionais no Brasil. Além disso, o enfraquecimento do mercado de CDs obriga os artistas a subirem ao palco mais vezes para encher suas contas bancárias. Em contrapartida, os fãs esvaziam seus bolsos para pagar o preço de ingressos mais caros do mundo.

Estimativa de faturamento com bilheteria feito pelo Estado de Minas (considerando o público divulgado pela imprensa regional e também o ingresso de meia-entrada) mostra que em quatro dos grandes eventos internacionais de 2012 – Roger Waters, Lollapalooza, Joe Cocker e Morrissey – somente a venda de ingressos resultou em arrecadação superior a R$ 100 milhões. E a agenda está lotada até dezembro: de Madonna a Buddy Guy e ainda Demi Lovato, shows para todos os gostos. “A bilheteria é vital para o show, teatro, cinema ou circo. Sem público, não há como um espetáculo ser realizado. Mas outros fatores são importantes, como patrocínio, venda de alimentos e bebidas e merchandising”, afirma o diretor artístico da Time For Fun, Alexandre Faria, responsável por trazer ao Brasil no ano passado U2, Pearl Jam, Aerosmith, Britney Spears, Ozzy Osbourne, Ricky Martin e outras dezenas de artistas.

Clique aqui para ampliar a foto(foto: Quinho/Marcelo Monteiro/EM/D.A/Press)
Clique aqui para ampliar a foto (foto: Quinho/Marcelo Monteiro/EM/D.A/Press)
Faria diz que, na década passada, a venda de discos representava 80% do faturamento de um artista, enquanto o restante vinha de shows e direitos autorais. Atualmente, no entanto, as turnês e produtos que a cercam é que têm enchido os cofres das estrelas, sendo que o patrocínio de bancos, cervejarias e operadoras de telefonia são responsáveis por mais da metade do custeio dos eventos, segundo as produtoras.

O ritmo de contratações tem sido tão rápido que apenas nesse fim de semana tocarão no país Bob Dylan, que se apresenta em São Paulo – depois de passar por Rio, Brasília e BH –, Megadeth e outros cabeludos, no Metal Open Air, em São Luís (MA), e, perto dali, no Recife (PE), numa mesma noite, mas em palcos diferentes, se apresentarão o beatle Paul McCartney e as bandas de metal Exodus e Brujeria, que tocam na 20ª edição do Abril Pro Rock. O produtor do festival pernambucano, Paulo André Pires, conta que a concorrência para trazer shows ao país encarece o cachê dos artistas. Segundo ele, somente nos últimos 12 meses o Brasil teve quatro grandes festivais de pop e rock (Rock in Rio, SWU, Planeta Terra e Lollapalooza) e, com isso, criou-se uma disputa pela melhor banda. “Nem o economista mais renomado seria capaz de prever que Paul McCartney tocaria no Paraguai e numa capital nordestina na mesma semana”, afirma Pires.

Se por aqui as portas estão escancaradas para os gringos, Pires diz que na Europa é perceptível a redução nos convites para brasileiros se apresentarem. Ele se lembra de quando, em 2005 – Ano do Brasil na França –, viajou com DJ Dolores, Nação Zumbi e Siba e a Fuloresta para tocar em cinco capitais europeias, além de Paris. Repetir a turnê hoje é quase impossível. “A Europa não tem o mesmo dinheiro de há 10 anos. Se isso é válido para Paul, Bob Dylan e outros, imagine para os brasileiros”, diz o produtor.

PREÇO ALTO Vencido o desafio de trazer os astros, o problema agora é o preço dos ingressos, que custam até oito vezes mais no Brasil. Levantamento feito pelo Estado de Minas mostra que o menor valor das entradas da turnê mundial de Bob Dylan no Rio de Janeiro é de US$ 267, enquanto em Santiago, no Chile, ficou em US$ 32. Em Belo Horizonte, onde o cantor se apresenta hoje em arena semelhante à da capital chilena, o menor valor equivale a US$ 96. Das cinco cidades com ingressos mais salgados para os shows de Dylan, quatro são brasileiras (veja quadro).

A justificativa para os altos valores é o fato de por aqui ser obrigatório o desconto de 50% para estudantes. Como a fiscalização é falha e a falsificação, grande, em alguns eventos, a maioria do público é formada por pagantes de meia-entrada, o que desequilibra o caixa. O produtor Paulo André Pires diz que a estimativa é que 80% dos ingressos de cada dia do Abril Pro Rock sejam destinados ao público que paga metade. “No show do Foo Fighters, por exemplo, quem fez a conta viu que era mais barato ir para Buenos Aires do que para São Paulo”, diz o produtor.

SEM LUGAR A alegria do público de Belo Horizonte, no entanto, é limitada. A ainda continua fora da rota dos grandes shows. A falta de uma arena adequada para eventos com mais de 20 mil pessoas é uma crítica antiga de produtores locais e não vai ser resolvida com a reforma do Mineirão ou do Independência. Isso porque os projetos, tocados sem consulta aos profissionais do setor cultural, não contemplam estrutura adequada para entrada e montagem de palco e aparelhagem. A alternativa da cidade segue sendo o Mineirinho, cujo projeto de reforma também não contemplou aspectos como acústica.


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