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Estado de Minas DIA DA MULHER

Donas de casa desbravam as ruas para coletar preços para calcular inflação

Medição de preços que formam o índice da inflação é trabalho de donas de casa


postado em 08/03/2012 06:00 / atualizado em 08/03/2012 07:34


Viviane Von Rondow circula o Centro de BH e a Savassi com o palm top no gatilho. simpatia e muita disposição(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Viviane Von Rondow circula o Centro de BH e a Savassi com o palm top no gatilho. simpatia e muita disposição (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

Em meio às coroas, caixões e outros artigos fúnebres, ela abre um sorriso: "Bom dia, tudo bem? Sou a Viviane, pesquisadora da Fundação Getulio Vargas (FGV), e gostaria de saber o preço do serviço funerário completo". É assim, com os pés no chão dos mais improváveis mercados, que começa o dia da dona de casa Viviane Leite Von Rondow. Do trabalho-formiguinha de gente como ela, saem cálculos avançados que resultam em índices como a inflação. O questionamento ao atendente da funerária se soma à pesquisa que a mulher de 41 anos, tênis confortável, calça jeans, blusa com motivos floridos estilizados, brincos, colares e esmalte azul celeste nas unhas faz no sacolão, no açougue, no supermercado, na farmácia, no estacionamento, na padaria, na papelaria e até nas igrejas e cartórios.

Outras 10 donas de casa em Belo Horizonte fazem o mesmo, três vezes por mês, e o resultado do trabalho é aquela sigla que pontua, periodicamente, as páginas dessa nossa Economia, o IPC (Índice de Preços ao Consumidor). O índice é fracionado em várias pesquisas divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Economia - Ibre, da FGV). O Estado de Minas acompanhou esse trabalho, caminhando com Viviane atrás dos preços, em Belo Horizonte.

Antes de dar bom dia ao atendente da funerária, ela despachou os filhos Luís Eduardo e Laura para a escola, e encarou o ônibus 2190 lotado, do Bairro Água Branca, em Contagem, onde mora, até o Santo Agostinho. Da Avenida Amazonas, ela segue a pé, pelo Centro, e sobe até a Savassi, onde, 45 estabelecimentos depois, está encerrada a jornada de trabalho que se repete três vezes ao mês. Estabelecimentos? Ela corrige: "A gente chama de 'informantes'. Meu marido até brinca, porque 'informante' parece coisa de espionagem".



Na verdade, a coleta de informações que municiam os computadores da FGV que calculam o IPC-S (variação semanal do índice), é feita às claras. Cada 'informante' que contribui com a prestação de dados é previamente cadastrado. A prospecção desses parceiros também é função de Viviane e da equipe de donas de casa. "Tenho que ir, procurar o gerente e fazer o primeiro contato, explicando o programa da fundação".

Da funerária, ela se vai, de palm top em punho, para uma lanchonete e, no caminho, explica: "Em alguns informantes, a gente não precisa nem perguntar, só chega e olha os preços mesmo". Os valores referentes a salgadinhos, pães, suco, refrigerante, café e café com leite, estampados no painel da parede poupa o tempo da pesquisadora. A entrada de novos informantes na lista depende de critérios técnicos que definem também o peso dos novos itens. Redimensionam a importância dos gastos para os consumidores brasileiros. É a maneira de garantir que o índice de inflação consiga mensurar adequadamente a variação de preços em prateleiras, gôndolas e outros suportes. Toda vez que Viviane vai até o prédio da FGV e descarrega uma pesquisa, o equipamento já é configurado para a semana seguinte. "Recentemente pediram para a gente incluir igrejas, onde pesquisamos preços de cerimônia, e cartórios, onde olhamos até reconhecimento de firma".

Mudanças da modernidade Ajoelhada diante da prateleira de camisinhas e géis lubricantes, na farmárcia, ela se surpreende ao perceber que os itens que imaginou que se destinariam à pesquisa esporádica de carnaval acabam de entrar definitivamente no cotidiano da pesquisa de inflação. E dá-lhe gargalhada: "Tem com cheiro, sabor, textura, efeito prolongador". As mudanças nos padrões de consumo colocaram a camisinha na tabela e o preço de cada uma ajuda a compor a média que formará o IPC. Para completar a situação, naquela tarde, nenhuma das nove variedades de gel lubrificante estava devidamente etiquetada, nem constava no cadastro do leitor automático de código de barras. Viviane perguntou o preço de um a um no caixa e a quem olhava torto ela esclarecia: "É pesquisa de preços da inflação".

A entrada e saída de itens no palm top de Viviane impacta a média total. Mas ela não tem essa percepção. Também não consegue acompanhar a variação, a partir do programinha simples que se restringe à coleta dos dados. Tudo é computado nas centrais do Ibre. "Só quando dá uma variação absurda é que a maquininha pergunta se eu tenho certeza de que o número é aquele mesmo. Para ser bem sincera eu acho esse negócio de inflação meio complicado de entender", confessa. Quando conta para as amigas que trabalha coletando preços que vão se transformar nos dados da inflação, muitas veem nela a figura que pode dar informações em primeira mão: "Mas não é bem assim porque eu pego os preços no setor que chamamos de Centro e Savassi. Os valores de lá são bem diferentes da minha realidade lá em casa". Quando dá sorte e encontra promoção "mais em conta", aproveita para levar o item pesquisado para casa.

Sugestão do marido Viviane entrou para o seleto time de donas de casa pesquisadoras por sugestão do marido Nílton Von Rondow Jr., que é professor. "Há um ano, ele viu na internet que estavam recrutando uma dona de casa para o grupo. Mandei o currículo e depois recebi o treinamento", conta. As donas de casa que contribuem com a pesquisa são terceirizadas e o grupo é fechado, segundo Viviane: "Só entra uma nova se alguma desiste ou morre mesmo". Pelas três pesquisas por mês, ela recebe R$ 356. "Quanto mais insumos, que é como chamamos os itens pesquisados, coletarmos, maior é essa remuneração, por faixa."

Perguntada se esse ordenado é reajustado segundo a inflação, ela responde que nunca parou para pensar nisso. "É bom que eu distraio, saio de casa, vejo gente." Se é mais cansativo um dia de dona de casa ou de pesquisadora? Ela diz que nem sabe. Toca o trabalho com vigor, garra e fôlego. Ao fim da tarde, andou para burro e não está nem suada. No horizonte, se enxerga voltando para o mercado de trabalho, para exercer a profissão de relações públicas, na qual é graduada. "Deixei o trabalho porque meu marido trabalhava em três turnos quando tivemos filhos e alguém tinha que abrir mão. Realmente não me importo de ter feito isso, mas acho que vou voltando aos poucos, agora que eles estão mais grandinhos. Hoje em dia o mercado não tem mais idade. Acho mesmo que até preferem a gente que está mais velha. A gente tem mais compromisso."

Solteiras são mais felizes?

Desde sempre o homem busca a felicidade, que, como costumam dizer, não tem preço. Mas afinal quem é mais feliz, o homem ou a mulher? E no mundo qual a mulher seria a mais satisfeita com a vida e otimista quanto ao futuro, a solteira ou a casada? O que pesa na felicidade feminina? Filhos, casamento, liberdade? Segundo o ranking de Expectativa de Satisfação com a Vida divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), a mulher brasileira não só é mais feliz que o homem, como é a campeã mundial no quesito felicidade futura, que mede essa expectativa de satisfação com a vida para 2015.

O índice que revela o complexo sentimento no mundo mostra que em uma escala de 0 a 10 a felicidade futura da mulher brasileira é de 8,98 contra o percentual masculino de 8,56. A média feminina brasileira é maior que mundial de 6,74 pontos e superior também a felicidade da mulher nas Américas, que atinge 7,22.

As mulheres solteiras têm uma expectativa de felicidade futura maior que as casadas e também que as divorciadas e viúvas, nessa ordem. O índice da satisfação com a vida mostra que quando tem filhos a felicidade feminina cresce, mas ainda assim não supera a expectativa otimista das solteiras quanto à vida em 2015. A menor expectativa de felicidade futura no Brasil foi mostrado pelas viúvas.

Ao redor do mundo a expectativa de felicidade futura cai com a idade. As mulheres mais jovens são mais otimistas em relação à vida daqui a três anos. As primeiras colocadas no ranking com a nota 7,51 são as de 21 anos. Já quanto ao presente, as mais otimistas são as de 65 anos e quanto ao passado as octogenárias revelam maior satisfação. Geograficamente o estudo mostra que as mulheres que vivem nas grandes cidades estão mais otimistas quanto ao futuro. Apresentam o índice de 6,74. Aquelas que vivem nas cidades de menor porte estão em segundo lugar no ranking.

A medida que a população brasileira melhorou a renda, também aumentaram os índices de satisfação com a vida. No ranking dos países, o Brasil ostenta o primeiro lugar em felicidade futura. A Síria tem o menor percentual. Comparado aos Brics, a colocação fica assim: África do Sul (27ª), Rússia (105ª), China (111ª) e Índia (119ª).


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