(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Setor hoteleiro em BH tem mais leito que turistas

Levantamento do Fórum dos Operadores Hoteleiros do Brasil aponta risco de superoferta em BH ainda em 2013, depois da Copa das Confederações. Investidores contestam e mantêm lançamentos


postado em 07/02/2012 06:00 / atualizado em 07/02/2012 07:40

A polêmica possibilidade de superoferta de leitos de hotéis em Belo Horizonte, pesadelo que ronda os investidores do ramo e tem como último efeito a redução forçada no preço das diárias, pode sacudir o mercado hoteleiro da cidade e região metropolitana antes mesmo do esperado. Já há quem diga que há chances de esse cenário, inicialmente previsto para o período pós-Copa do Mundo, em 2014, ser realidade na capital mineira já no ano que vem, depois da Copa das Confederações. “Se todos os hoteis licenciados forem de fato erguidos, a superoferta vai ser um problema para este mercado já em 2013”, diz Silvana Capanema, vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Belo Horizonte (ABIH).

Na avaliação de Capanema, a atual capacidade hoteleira da cidade precisa de incremento de 20% para que supra a demanda dos eventos esportivos de porte internacional e garanta ocupação sustentável para os negócios no intervalo entre os torneios e depois que os torcedores deixarem os estádios em 2014. “Imagino que as pessoas terão bom senso e não iniciarão novas obras. O que já está em construção já modificará o mercado. A proposta, com todos os licenciamentos, é de que a atual capacidade seja expandida de maneira absurda, impraticável em qualquer lugar do mundo”, defende.

Lançamento

Na contramão dessa avaliação, o grupo Maio/ Paranasa e o grupo Accor anunciaram ontem a construção de mais um hotel na Savassi, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. O empreendimento terá a bandeira Ibis Budget - nova marca mundial da Accor para os hotéis de categoria supereconômica, antiga Formule 1. O empreendimento será construído de frente ao encontro das avenidas Getúlio Vargas com Contorno, ao lado do Novotel, já anunciado pelas duas empresas. O investimento total será de R$ 140 milhões. Confiante no sucesso do negócio, o diretor de empreendimentos do Grupo Maio/Paranasa, Jânio Valeriano descarta a sobreoferta de leitos em Belo Horizonte.

Novotel da Savassi vai dividir espaço com empreendimento supereconômico da bandeira Ibis Budget (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
Novotel da Savassi vai dividir espaço com empreendimento supereconômico da bandeira Ibis Budget (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
De acordo com Valeriano, os estudos para o lançamento do empreendimento - um site constituído pelos dois hotéis - foi iniciado há dois anos. “Analisando o crescimento da economia para os próximos anos e o conceito de segmentação que apresentamos, não existe esse risco”, sustenta. De acordo com ele, entre 2004 e 2010, a demanda hoteleira de Belo Horizonte praticamente dobrou, saindo de uma ocupação média de 40% para 75%. “Além disso, os hóspedes podem optar por ficar em hotéis novos, em detrimento dos que não se atualizaram”, pondera.

“O PIB de BH está crescendo mais do que a média nacional. Isso significa que as pessoas estão vindo à cidade para fechar negócios. Por outro lado, o turismo de eventos também vem crescendo na capital mineira”, afirma o executivo. Valeriano argumenta ainda que ninguém sabe ao certo quantos hotéis serão viabilizados na cidade. “Uma coisa é projeto aprovado, a outra coisa é hotel viabilizado.”

Alerta

O último levantamento do Fórum dos Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB) deu cartão vermelho para os projetos de hotelaria em Belo Horizonte. A capital é uma das oito cidades sedes da Copa do Mundo em que o risco de superoferta é considerado alto após o evento. Segundo o Placar da Hotelaria 2015 do FOHB, a atual taxa de ocupação média da rede hoteleira de BH, de 74%, cairá para 52% no pós-Copa. Haverá avanço de 78,4% no número de leitos, enquanto a demanda deve subir apenas 24,4%. “Quem pode se dar mal com isso é o investidor, que vai apostar alto em um empreendimento cuja viabilidade de lucro é, no mínimo, questionável”, sinaliza Capanema. Nos bastidores, está em jogo a briga entre os novos empreendimentos, muitos deles de grandes redes internacionais, e o mercado local.

O erro de planejar os investimentos apenas para a Copa passa pelas obras de infraestrutura e também pela hotelaria, na opinião de Hugo Ferreira Braga Tadeu, professor de logística da Faculdade IBS/ FGV: “As grandes redes consideram que teremos crescimento, com adendo de 1 milhão de turistas durante a Copa do Mundo. Só que Belo Horizonte não é uma cidade turística. Os dados são muito claros: teremos superoferta de leitos já depois da Copa das Confederações”. Ele cita conversa que teve com um investidor: “Perguntei qual era a expectativa para antes e depois da Copa e ele estava bem consciente de que o preço investido deve cair 40% no pós-evento, por conta da pouca demanda”.

Braga Tadeu acredita que mesmo a euforia com o que chama de “senhora ocupação” durante os eventos esportivos pode não ser tão certeira assim: “Pelo que percebemos de atraso em obras de infraestrutura e mobilidade, pode ser que as pessoas nem consigam chegar até esses hoteis, que têm chance de não encher tanto assim nem mesmo enquanto os eventos estiverem sendo realizados”. O alerta é para que investimentos correlatos não se percam de vista.

CAPACIDADE
Por meio da assessoria de imprensa, o Comitê da Copa, da Prefeitura de Belo Horizonte, confirma que a capacidade hoteleira da cidade, atualmente em 18 mil leitos, deve dobrar até 2014. Na RMBH, são 30.194 leitos. Para a prefeitura, a taxa de ocupação média é de 80%, mas de terça a quinta-feira chega a 100%. Para 2014, projeta-se um total de 50.919 leitos para a região de BH.

A prefeitura explica que “a Fifa não exige número mínimo de quartos e leitos para a Copa do Mundo. O que existe são estatísticas de mercado mostrando que a demanda de leitos em cidades sede, durante o torneio, é de um terço da lotação do estádio – isso, num raio de 100 quilômetros. No caso de BH, o Mineirão terá a capacidade para 64 mil torcedores, o que significa que a demanda será de 22 mil leitos, aproximadamente. O que existe hoje já atende à demanda de mercado; mas faltava maior oferta de hotéis de alto padrão. Com os novos empreendimentos, atenderemos também a essa demanda”.

Assunto divide empresários

O tema da superoferta de leitos é espinhoso e cutuca com vara curta investimentos milionários no setor. Dentro da mesma associação, a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), há posicionamentos distintos. O presidente nacional, Enrico Fermi Torquato, acredita que “um investimento em hotelaria se dilui em 10, 20 anos. Ninguém é louco de apostar em algo que só renderá bem durante 40 dias. Não estamos falando só em turismo internacional. Trinta milhões de brasileiros passaram a consumir turismo nos últimos 10 anos”. “Até 2020, serão 80 milhões. A superoferta não vai existir porque temos um mercado interno crescente”, avalia.

É a mesma aposta do Comitê da Copa, da prefeitura. Na nota encaminhada à reportagem, o comitê aposta que “Belo Horizonte vem se firmando como um dos principais destinos do turismo de negócios. Os principais espaços para congressos e feiras, como Expominas e Minascentro, têm taxa de ocupação média de 80%, chegando, em alguns meses, a 100%”. Ainda segundo o Comitê, “para cada quarto de hotel construído estima-se que sejam gerados em média quatro empregos diretos. Isso significa que, até a Copa em 2014, somente o setor hoteleiro vai gerar cerca de 60 mil empregos em Minas. Além do impacto no comércio local, essa cadeia produtiva envolve muitos setores, como têxtil, moveleiro, tecnologia da informação, telefonia, jardinagem, tradução”.

Para a diretora da Belotur Stella de Moura Kleinrath, a prefeitura não pode trabalhar com um número ideal de licenciamentos: “A prefeitura não tem controle sobre o número ideal, essa é uma questão de mercado”. Segundo ela, o esforço é trabalhar para preparar a cidade rumo à internacionalização e atuação no turismo nacional também de maneira mais incisiva. Para os que alertam quanto ao risco de superoferta, o estímulo dado pela prefeitura para atração de investimentos na construção de novos hoteis, com o aumento da proporção da área construída em terrenos que abrigariam hoteis, foi definitivo. O comitê se defende, via assessoria de imprensa, lembrando que a operação especial, aprovada pelo Conselho Municipal do Meio Ambiente (Comam), foi válida apenas para os empreendimentos cujos projetos foram protocolados para aprovação até 31 de julho de 2011. (FB)


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)