(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Classe C está mais exigente

Consumidores emergentes se preocupam mais com a qualidade do que compram. A intenção é ter aparelhos de última geração


postado em 21/11/2011 08:07 / atualizado em 21/11/2011 08:23

Na escolha da TV, a dona de casa Maria do Carmo prefere pagar caro a levar algo de que possa se arrepender(foto: Ed.Alves/Esp/CB/D.A/Press)
Na escolha da TV, a dona de casa Maria do Carmo prefere pagar caro a levar algo de que possa se arrepender (foto: Ed.Alves/Esp/CB/D.A/Press)
Brasília – Tevês de LCD, tablets, blu-ray e celulares de última geração povoam os sonhos de consumo de 96 milhões de brasileiros da classe C, que se tornaram a principal aposta de crescimento das vendas do varejo neste Natal. Além de consolidar uma tendência iniciada na década passada, puxada pelo avanço da renda e da formalização do emprego, as intenções de compra desses consumidores trazem desafios novos às lojas. Preços em conta e facilidades na hora do pagamento continuam pesando nas escolhas da nova classe média. Mas esse contingente, que se transformou no verdadeiro motor da economia brasileira, está cada vez mais exigente e passou a cobrar qualidade, variedade de opções e inovação.

O economista Alcides Leite, da Trevisan Escola de Negócios, avalia que o expressivo clube do consumo emergente, equivalente à metade da população, refinou o gosto, concentrando os desejos em produtos eletroeletrônicos antes inacessíveis. Segundo ele, até o ano passado, o grande fenômeno do comércio foi a migração de 31 milhões da classe D para a C, com renda familiar entre R$ 1 mil e R$ 4 mil. A nova onda é ter um segundo celular de última geração ou trocar o aparelho televisor por um mais moderno. “Depois de conquistar a cultura de consumo, o grupo que vem embalando a economia do país no ritmo do seu poder aquisitivo e do aumento do próprio tamanho empreende uma virada em favor da qualidade e não apenas da quantidade”, ilustra.

A família da dona de casa Maria do Carmo é um exemplo dessa nova atitude. Seus dois filhos estão antenados nas novidades da indústria da telecomunicação e querem trocar de celular todo ano. Maria prefere pagar mais caro a levar para casa algo de baixa qualidade e depois se arrepender. “Eu não compro qualquer coisa. Primeiro, pesquiso se o produto é bom. Minha próxima tevê virá depois de procurar muito”, afirma ela, enquanto analisa vários aparelhos numa loja de eletrodomésticos.

O estudante Murilo Furtado, 24 anos, resolveu equipar seu quarto com uma tevê de LCD. “Minha televisão ainda funciona, mas está ultrapassada. Quero substituí-la por uma que ofereça melhor qualidade de imagem”, justifica. Em sua casa, não faltam eletrônicos: celulares, videogame e iPod. “Agora, penso em comprar um iPhone”, declara. Ele admite que os produtos da Apple, novos ícones do consumo mundial, estão entre suas prioridades. “Gosto de tecnologia e da facilidade que ela traz ao meu dia a dia.” O economista Ricardo Rocha, da Fundação Vanzolini, tenta explicar o que vem ocorrendo: “Se alguns só querem ir além do celular, muitos desejam também agregar algo mais ao produto que já incorporou ao seu cotidiano”.

Impulsos Eliana Bussinger, especialista em educação financeira e autora do livro A Dieta do Bolso, vê com preocupação o ímpeto consumidor das classes emergentes. “Milhões tiveram acesso a bens e passaram a buscá-los. Mas eles ainda são as vítimas preferenciais dos malefícios do crédito farto associado a juros elevadíssimos”, afirma. Segundo ela, apesar do risco de recessão em 2012, esse grupo não parece se preocupar com as perspectivas negativas da economia e continua aplicando recursos em “gastos excessivos ou simplesmente desnecessários”.

Além do apelo de produtos que até há pouco eram acessíveis apenas aos mais ricos, Eliana salienta que nem as classes mais baixas conseguem escapar das tentações dos modismos. “A grande procura por celulares no fim de ano e a ansiedade dos adolescentes pelo tênis novo do colega são um retrato disso”, diz. A pesquisadora percebe uma escalada do consumo baseado apenas em impulsos. Após duas décadas de restrições, os trabalhadores de renda menor agora nadam nas facilidades de crédito, apesar dos juros altos. A possibilidade de faltar dinheiro para honrar os compromissos não os assusta.

Palavra de especialista

Novos alvos do governo

“Ao adquirir aparelhos eletroeletrônicos e celulares, com base no aumento real do salário mínimo e do emprego formal, a Classe C acabou se tornando o principal fator dinamizador da economia brasileira. Mas a incorporação de consumidores ao grupo parece ter parado de crescer. Assim, as camadas D e E da população passam a ser os alvos preferenciais das políticas sociais e de transferência de renda. Essa é a opção para continuar agregando consumidores ao mercado.”

Alcides Leite, economista da Trevisan
Escola de Negócios


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)