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Estado de Minas

Jeceaba inaugura siderúrgica de US$1,6 bilhão

Pequena cidade pleiteava fábrica de alimentos para contratar 30 pessoas. Construção da unidade chegou a empregar 11 mil pessoas


postado em 01/09/2011 06:00 / atualizado em 01/09/2011 09:39

Complexo siderúrgico Vallourec Sumitomo Tubos do Brasil que será inaugurado na pacata Jeceaba (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press )
Complexo siderúrgico Vallourec Sumitomo Tubos do Brasil que será inaugurado na pacata Jeceaba (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press )

 

Jeceaba - Era para ser uma pequena indústria de doces para aproveitar a produção local de leite. Mas a pacata Jeceaba (Campos das Vertentes), a 125 quilômetros de Belo Horizonte, recebeu uma siderúrgica de US$ 1,6 bilhão e 1,5 mil empregos diretos. O município está preparado para inaugurar hoje a Vallourec & Sumitomo Tubos do Brasil (VSB). As 600 mil toneladas de tubo de aço sem costura produzidas ali serão transportadas pela Ferrovia do Aço, cartão postal da cidade, rumo a Santos (SP) ou ao Rio de Janeiro (RJ). Os tubos de alta resistência poderão ser usados, por exemplo, na construção dos gasodutos para transportar o petróleo do pré-sal.

"A principal atividade de Jeceaba era a agropecuária e, por isso, tentamos convencer o Estado a trazer uma fábrica de doces para cá. Em 2007, contudo, Wilson Brumer (então Secretário de Desenvolvimento Econômico) nos informou que, em vez da pequena indústria para gerar 30 empregos, receberíamos a siderúrgica, que empregaria 3 mil pessoas", conta o prefeito Júlio César Reis (PT).

Nesses quatro anos, desde o início da implantação da joint venture entre a francesa Vallourec (56%) e a japonesa Sumitomo Metals (44%), o município de pouco mais de 5 mil habitantes se transformou.

Por volta de 1910, chegaram às terras do município portugueses, italianos e espanhóis para a construção do Ramal Paraopeba da Estrada de Ferro Central do Brasil (EFCB). Muitos ficaram e fundaram Jeceaba. Hoje, bandeiras do Brasil, da França e do Japão indicam o caminho para o complexo siderúrgico, que será inaugurado hoje com a presença da presidente da República Dilma Rousseff (PT).

"É um orgulho um município tão simples, onde a tranquilidade me permite deixar a porta de casa aberta e a chave do carro na ignição, receber pela segunda vez um presidente da República", afirma João Emídio Dias, jeceabense de 55 anos. Entre o curral e o asfalto, que chegou nesta semana, ele diz que continuará entregando os 120 litros de leite de porta em porta e na cooperativa da região, mas que comemora as perspectivas profissionais para o casal de filhos. "Ele presta serviços de transportes para a VSB e ela estuda metalurgia."

O primeiro presidente a visitar Jeceaba foi José Sarney, em 1989, para inauguração da Ferrovia do Aço, que corta Jeceaba, assim como a extinta EFCB, hoje operada pela MRS Logística. Aliás, essa infra-estrutura de transportes foi um dos atrativos para a instalação da VSB no município. São dois investimentos que conectam histórias como a de Maria Inez Chaves e de seu marido, José Sabino Chaves, proprietários do Hotel Camapuã, primeiro nome da localidade e que significa "Morro Redondo".

"Zé é de Morro do Pilar (Serra do Cipó) e, como é topógrafo, veio para a construção da Ferrovia do Aço, em 1973. Foi quando nos conhecemos", relembra Maria Inez. Eles se casaram, tiveram três filhas e construíram o primeiro hotel de Jeceaba. "Com o anúncio da VSB, resolvemos expandir", acrescenta. Hoje, o Camapuã tem 18 apartamentos e 16 quartos e emprega seis pessoas.

Terraço


A chegada da siderúrgica também deu uma guinada no Restaurante Dona Efigênia. "Nossa história começou com a minha mãe vendendo marmita para os homens da construção da ferrovia. Já tivemos um restaurante no pátio da MRS. Agora, transformamos a cobertura da nossa casa em um salão que atende mais de 250 pessoas por dia que estão aqui por causa da VSB", detalha Aparecida Vasconcelos. A horta que tem nos fundos já não consegue suprir a demanda e os dez funcionários suam a camisa para dar conta do movimento. "Passamos a comprar de produtores locais e de empresas de outras cidades que vêm fornecer aqui. Temos concorrentes, mas eles não nos incomodam porque é gente demais", diz.

Um mundo de aço e empregos


No pico das obras, o complexo siderúrgico chegou a empregar 11 mil trabalhadores. "Em 2,5 milhões de metros quadrados de obra foram usadas 40 mil toneladas de estruturas metálicas tubulares produzidas pelo grupo Vallourec, o equivalente a quatro torres Eiffel (Paris)", informou a VSB.

É lá que Daniele Fernandes Silva conseguiu, aos 23 anos, seu primeiro emprego com carteira assinada. A técnica em mineração trabalha como auxiliar administrativa na empresa e, em razão da estabilidade, iniciou a faculdade de direito. "Antes, quando os jovens daqui encerravam o ensino médio tinham que sair da cidade. Agora é possível conquistar independência financeira e fazer carreira aqui", diz.

Junto com o complexo siderúrgico, também chegou a especulação imobiliária. Um lote de 360 metros quadrados que custava R$ 2 mil antes do anúncio da VSB pode ser encontrado hoje por até R$ 40 mil. O aluguel de uma casa de dois quartos, ou de uma loja, pulou de R$ 150 mensais para um salário mínimo, R$ 540. "O aumento dos custos, ruim para muitos, levou as pessoas a correrem atrás da casa própria", afirmou José Fernandes da Mata, dono do Comercial Faria e Fernandes, de venda de material de construção. Nos últimos dois anos ele dobrou o tamanho de sua loja e viu as vendas subirem mais de 30%. "Agora, com a inauguração, é torcer para a estabilização", ponderou.

Para fazer frente ao crescimento, o prefeito informou que investiu R$ 25 milhões nos últimos 12 meses em infra-estrutura e pretende repetir a cifra para próximo ano. Além da arrecadação mensal de R$ 24 milhões mensais com as atividades da siderúrgica, ele estima incremento da receita vindo da expansão da economia local. "Os hotéis cresceram, as padarias se modernizaram, temos laboratórios de análises clínicas, lojas de eletrodomésticos, centro de estética, cooperativa de transportes, Correios, mais bancos e por aí vai", disse Júlio César.

"Somos a cidade do progresso, mas também das montanhas, das cachoeiras, dos lobos, da onça jaguatirica. Isso não queremos mudar", diz o produtor rural João Emídio Dias.


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