
Trilhos de fabricação chinesa, sem similar nacional, começam a chegar neste mês a Minas Gerais dando início às obras de duplicação e modernização da linha férrea que liga o Bairro do Horto, em Belo Horizonte, a General Carneiro, em Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Orçado em R$ 138 milhões, o projeto vai eliminar o maior gargalo no escoamento dos grãos produzidos no Centro-Oeste do país, em São Paulo e Noroeste de Minas, do aço fabricado nas usinas mineiras e da distribuição de combustíveis, produtos que passam diariamente por esse trajeto de 8,3 quilômetros. A região do gargalo é o ponto de interligação de três das maiores ferrovias, a Centro-Atlântica e a Estrada de Ferro Vitória a Minas, controladas pela Vale, e a da MRS Logística, responsáveis pelo transporte de carga até os portos de Vitória, do Rio de Janeiro e do litoral paulista.

Durante os próximos 30 meses, o trabalho será o de corrigir todo o traçado, desfazer os cruzamentos entre a linha dos trens e ruas e avenidas – as chamadas passagens de nível – , que serão substituídas por viadutos. A travessia se tornará mais segurança e contará com passarelas. Enquanto confere detalhes do início das obras, o gerente geral da área de logística da Vale, Maurício Maia Cretella, afirma que o projeto já prevê viadutos e outras intervenções urbanas compatíveis com o futuro planejamento da expansão da região, outro ganho importante.
“A ferrovia deixará de passar no mesmo nível do asfalto, será vedada com muro e acessos próprios. Haverá um complexo viário para garantir a fluidez do trânsito, o que repotencializa a região para o desenvolvimento econômico”, afirma o executivo da Vale, empresa encarregada do projeto e de sua implantação. As obras são resultado de acordo firmado entre a companhia, o Ministério dos Transportes e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), como parte do acerto de contas relativo ao contrato de concessões da malha da extinta Rede Ferroviária Federal ao setor privado.
O projeto é considerado fundamental para o transporte ferroviário e o despacho de mercadorias de diversas regiões do país e contribuiu para o desenvolvimento da Zona Leste de BH, mas são necessárias outras iniciativas para atração de investimentos à área, na avaliação de Lincoln Gonçalves, presidente do Conselho de Política Econômica e Industrial da Federação das Indústrias do Estado de Minas (Fiemg). “Sem dúvida, haverá impacto positivo no escoamento de produtos agrícolas, que ganhará velocidade e terá um custo menor na transposição da capital em direção aos portos”, afirma. Um dos programas que prometem impulsionar a região é a construção da Via 710, idealizada pela Prefeitura de BH, como uma espécie de anel rodoviário ligando a Avenida dos Andradas aos corrredores da Cristiano Machado, Antônio Carlos, Carlos Luz e Pedro II até a Tereza Cristina, na Zona Oeste da cidade. Esse anel faz parte dos projetos para a Copa’2014.
Segurança O transporte de carga entre a região do Horto e General Carneiro ganha, da mesma forma, em eficiência e segurança. Maurício Cretella estima um aumento de 50% na velocidade das locomotivas e diz que cai a possibilidade de ocorrência de acidentes, sem contar a estrutura melhor à disposição dos técnicos em caso de se tornar necessário isolar trechos da linha. A capital mineira abriga a menor parte do trajeto em que as obras serão feitas, de 3 km, no entanto é onde as áreas são mais populosas.
Para execução do projeto, 174 famílias serão realocadas em BH, onde 70% das negociações com os moradores já foram concluídas. Em Sabará, que concentra 5,3 km de linha férrea, 299 famílias terão de ser reassentadas. A discussão fundiária está na etapa inicial. A modernização da linha férrea promete a melhora das condições de mobilidade urbana e segurança nos bairros do Horto, Esplanada, Boa Vista, São Geraldo, Vera Cruz, Alto Vera Cruz, Caetano Furquim e Casa Branca, na capital; e Marzagão, Nações Unidas e General Carneiro, em Sabará.
Trabalho forte nos trilhos
Em Belo Horizonte, as obras começam pela construção de um viaduto férreo sobre a Avenida Itaituba, no Bairro São Geraldo, e de um viaduto rodoviário ligando a Avenida dos Andradas ao Bairro Caetano Furquim, com o erguimento de passarelas. Responsável pelo projeto na Vale, Luciano Almada de Oliveira informou que haverá frentes de trabalho simultâneas no percurso entre a capital e Sabará. O serviço de transporte na ferrovia não vai parar. Na cidade histórica, será feita a maior obra de arte do projeto, um viaduto ferroviário de 30 metros de altura e 150 metros de extensão.
Os serviços vão empregar 1 mil trabalhadores no pico das obras, previsto para meados de 2012. Cerca de 10% desse quadro são profissionais do corpo técnico, incluindo engenheiros de obras, de segurança e meio ambiente. A Vale está bancando um programa de capacitação para 300 trabalhadores, dos quais metade já concluiu os cursos de pedreiro, carpinteiro e armador. A intenção, segundo Luciano Oliveira, é desenvolver a mão de obra local.
Toda a linha férrea será renovada com 2 mil toneladas de trilhos importados da China, além do material restante de fabricação nacional: 30 mil dormentes de aço, substitutos modernos do material feito em madeira, acessórios de fixação e parafusos. Área necessária ao projeto de duplicação e modernização da linha férrea, o campo do Pompeia Futebol Clube será realocado para as vizinhanças do atual endereço, com a construção de instalações modernas. O novo traçado contempla obras de lazer na Região Leste de BH e em Sabará. (MV)

