A alta do preço com a manutenção de veículo dita o dia a dia de João Antônio de Souza, de 57 anos. Como motorista, ele avalia que o gasto, considerado “inevitável”, compromete a renda mensal. Como chefe de transporte, precisa a todo tempo criar uma alternativa para não estourar o orçamento. “Não é só o álcool e a gasolina que subiram. Peças para manutenção e pneus também”, reclama.
O gasto do brasileiro com transportes foi um dos principais responsáveis pelo aumento da inflação no mês passado, informou nessa sexta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, usada como base para as metas do governo, fechou julho em 0,16%, ante variação de 0,15% em junho. Até julho, o indicador acumula alta de 4,04%. Em 12 meses, o aumento de 6,87% rompeu o teto da meta determinada pelo Banco Central (6,5%) e é o maior desde junho de 2005.
“A falta de investimentos do setor sucroalcooleiro nos últimos anos resultou hoje em uma oferta de álcool menor que a demanda dos motoristas. Isso pressiona os preços”, explica Thiago Curado, analista da consultoria Tendências. Segundo ele, o período de entressafra, iniciado em setembro, pressionará ainda mais o reajuste dos combustíveis.
De acordo com o IBGE, os preços do grupo de transportes passaram de uma queda de 0,61% em junho para uma alta de 0,46% em julho. Na mesma base de comparação, os preços dos combustíveis voltaram a subir, saindo de uma variação de -4,25% para 0,47%. O etanol, após a forte queda de 8,84% em junho, registrou 4,01% no mês passado. Já o preço do litro da gasolina passou de -3,94% para 0,15%.
O grupo teve ainda a influência do aumento das tarifas dos ônibus interestaduais, de 0,55% em junho para 5,80% em julho, por causa do reajuste médio de 5% vigente a partir de 1º de julho. Também houve impacto no aumento de itens de conserto de automóveis, de 0,95% para 1,52%, do pedágio (de zero para 4,62%) e passagens aéreas (de 12,83% para 3,20%).
Do outro lado, o grupo alimentação foi o responsável pelo maior impacto negativo. Registrou variação de 0,16% em julho. Entre os produtos que ficaram mais baratos estão o tomate (-15,32%) e carnes (-1,12%).
Perspectivas
Para Curado, o resultado não representa melhora no cenário inflacionário e medidas macroprudenciais não alterarão o quadro. “É o segundo mês com inflação mais reduzida, mas é preciso olhar com cuidado para não gerar otimismo”, disse. O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, prevê que o pico da inflação em 12 meses deverá ser em agosto e, depois disso, entrará em trajetória de queda, caindo dois pontos percentuais até abril de 2012.
Na avaliação do analista da Tendências, os reajustes salariais previstos para o segundo semestre significarão ganho real para os trabalhadores. E a renda maior estimula consumo e aumento de preço. Em razão disso, Curado estima uma inflação de 6,6% ao ano, distante do centro da meta, de 4,5% ao ano.
Peculiaridades
A Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) apresenta peculiaridades, aponta o analista do IBGE Antonio Braz. De junho para julho, o preço do açúcar, por exemplo, subiu 0,77% enquanto caiu igualmente 0,77% no país. O índice de reajustes de chocolates e bombons foi de 4,06% na Grande BH e 0,21% no Brasil; o de roupas masculinas, 2,13% e 0,19%, respectivamente. No caso de ingressos para jogos, o indicador baixou 3,38% na Grande BH e apenas 0,55% no país.
Alívio na semana
O preço do combustível caiu em Minas Gerais nesta semana em relação a passada, segundo pesquisa divulgada nessa sexta-feira pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Petróleo (ANP). O preço mínimo do litro do álcool passou de R$ 1,897 no período entre 24 e 30 de julho para R$ 1,797 de 31 de julho a 6 de agosto; e o máximo de R$ 2,499 para R$ 2,480. Assim, o valor médio baixou de R$ 2,122 para R$ 2,110. Já o preço mínimo do litro da gasolina caiu de R$ 2,510 para R$ 2,499; e o máximo de R$ 3,099 para R$ 3,090. Com esse resultado, o motorista pagou pelo combustível uma média de R$ 2,763 ante R$ 2,770.
Palavra de especialista
Salários: ganhos reais aquém de 2010
. Regina Camargos
. Economista do DIEESE-MG
“As negociações salariais do segundo semestre vão começar e envolvem as categorias e sindicatos mais organizados do país, como metalúrgicos, bancários, petroleiros e eletricitários. No cenário econômico em que ocorrerão essas negociações, uma das apreensões se relaciona ao comportamento da inflação no segundo semestre. Desde o final de junho, nota-se uma desaceleração, entretanto, os sindicatos enfrentarão taxas de inflação relativamente elevadas – algo em torno de 7,5% – para os atuais padrões da economia brasileira. Como se sabe, a inflação alta acirra a "disputa distributiva" entre capital e trabalho, ou seja, nenhum dos lados aceita passivamente reduzir poder de compra e margens de lucro. Por isso, a negociação salarial será mais complexa neste segundo semestre e os ganhos reais de salário podem ser mais modestos que os obtidos em 2010. Outra fonte de preocupações é o grau de desaceleração da economia após meses consecutivos de elevação da taxa Selic. A indústria já dá sinais claros de redução no ritmo de atividade, o que pode afetar o comportamento do emprego.”
O DRAGÃO AO VOLANTE DO SEU VEÍCULO