Muito se tem falado da nova classe média brasileira, um contingente de mais de 30 milhões de pessoas que saiu das camadas mais baixas e se tornou a base de sustentação do consumo no país. Essa é a face mais badalada da mobilidade social vivida pelo

Trata-se de uma das maiores taxas de mobilidade vistas no mundo em um prazo tão curto de tempo, acima dos registrados em países como a Suécia (51,5%), Canadá (50,1%) e Estados Unidos (48%). São 143,8 milhões de brasileiros que passaram a viver melhor e a satisfazer demandas reprimidas ao longo de anos, como a casa própria, o primeiro veículo, a televisão LCD, a internet em casa, a TV a cabo, a viagem de férias com toda a família para a praia — e, acima de tudo, educação e saúde. "O controle da inflação, a formalização do mercado de trabalho e o acesso facilitado ao crédito empurraram os brasileiros para o consumo. Não à toa o país retomou o ciclo sustentado de crescimento, com excelentes perspectivas", analisa Marco Pazzini, diretor da Consultoria IPC Maps.
O resultado é que a participação de famílias na base da pirâmide, a classe E, encolheu: pelo menos 20,5 milhões de pessoas deixaram a zona da pobreza, pois viviam com renda familiar de, no máximo, R$ 705, e passaram a ocupar os extratos de renda logo acima, da classe D e C, conforme reforça estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV). Seguindo o mesmo movimento, outras 2,5 milhões que já estavam na D galgaram os degraus até a C — que hoje totaliza 103 milhões de cidadãos, mais da metade da população do Brasil. Com isso, o orçamento engordou e ficou mais folgado. Mas o maior crescimento em termos percentuais ocorreu nas classes B e A, nas quais os rendimentos mensais estão acima de R$ 4.854 e de R$ 6.329, respectivamente. Cerca de 6,6 milhões de pessoas passaram a integrar o topo da pirâmide.
Muito esforço As estatísticas já destacam um segundo movimento mais forte, desta vez da classe C em direção à B. De 2010 para cá, enquanto a primeira cresceu 7,3%, a turma do segundo grupo mais alto da pirâmide social engordou 10,2%. “Agora, a nova onda de migração é para a classe B”, garante Pazzini. “Isso vai ocorrer por ser o grupo melhor qualificado profissionalmente para defender renda maior em um ambiente de continuidade do crescimento econômico", diz.
O mercado está de olho na classe C, pelo seu tamanho e potencial de consumo, com poder de compra estimado em R$ 700 bilhões, maior que os dos segmentos do topo, A e B. "É a maioria da população e já pode eleger sozinha um presidente da República", lembra o economista Marcelo Neri, professor da FGV. Deve-se, principalmente, à nova classe C a mudança do formato da pirâmide social, que passou do histórico triângulo invertido para um losango.
Na classificação da FGV, já está no degrau mais alto da pirâmide, ocupando a classe A, quem tem rendimento acima de R$ 6.329. Neri diz que as faixas de renda adotadas pela FGV retratam a classe média mundial. "Não é de fato a norte-americana, que tem dois carros na garagem", avisa. De qualquer forma, diz ele, ser classe média é mais um estilo de vida. "É esperar um futuro melhor, querer subir na vida", afirma. Talvez isso explique por que o bilionário empresário Eike Batista, com fortuna avaliada em US$ 30 bilhões e sempre em busca de novas oportunidades, se diz classe média.
