(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Fabricantes de sacolas plásticas começam a demitir funcionários

Legislação que proíbe a distribuição de embalagens plásticas pelo comércio em BH vai levar fabricantes a perdas de R$ 360 mi ao ano. Setor já começou a demitir funcionários


postado em 05/05/2011 06:00 / atualizado em 05/05/2011 06:12

Nélson Avelar Júnior, dono de quatro lojas na Savassi, não sabe o que fazer com o estoque de 10 mil sacolinhas reforçadas que ofereceria à clientela(foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
Nélson Avelar Júnior, dono de quatro lojas na Savassi, não sabe o que fazer com o estoque de 10 mil sacolinhas reforçadas que ofereceria à clientela (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)


Fabricantes de sacolas plásticas de Minas Gerais e do Brasil deverão deixar de faturar R$ 360 milhões ao ano com a paralisação da produção das sacolinhas, que tiveram sua distribuição proibida em Belo Horizonte desde 18 de abril. A estimativa é da Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas (Abief). Os mais prejudicados serão os pequenos fabricantes e fornecedores instalados em Belo Horizonte e região metropolitana da capital (RMBH), que registram queda de pedidos e de até 30% na produção e já começaram a demitir funcionários. Por outro lado, o comércio de pequeno porte convive com os estoques de sacolas plásticas que já tinham sido compradas e reluta em encomendar o produto biodegradável, de papel ou de TNT, que é mais caro e onera os custos das lojas. Já há quem torça para que a Lei 9.529/08, que dispõe sobre o uso de sacolas plásticas, e o Decreto 14.367, que a regulamenta, não pegarem.

Existem na Grande BH cerca de 40 fábricas de sacolas plásticas de pequeno porte, que empregam aproximadamente 800 funcionários e faturam perto de R$ 3 milhões ao mês, ou R$ 36 milhões ao ano. A ABG Embalagens e Sacolas Impressas é uma delas. O proprietário da empresa, Geraldo Senna, que em janeiro empregava nove funcionários, explica que Belo Horizonte respondia por 90% das suas vendas. Desde que a lei entrou em vigor, segundo ele, foram enviados 50 orçamentos, todos sem resposta. “Já demiti seis funcionários e, se as coisas continuarem como estão, vou dispensar os outros três. Sempre fiz questão de pagar impostos, minha empresa é registrada, tem CNPJ. Mas agora penso em partir para a economia informal”, desabafa.

Segundo o vice-presidente do Sindicato das Indústrias de Material Plástico de Minas Gerais (Sinplast), Wagner Andrade, ainda não há cálculos precisos sobre quanto essas empresas vão deixar de faturar. Segundo ele, esses empresários já trabalhavam com material reaproveitado das sobras de produção, o chamado plástico reciclado, e esperavam que ele pudesse continuar a ser vendido. “No mês passado saiu o decreto da prefeitura que proibiu o uso das sacolinhas recicladas. Se outras prefeituras adotarem o mesmo sistema, as empresas do segmento vão perder ainda mais mercado”, diz. Segundo ele, com a saída do produto reciclado do varejo na capital mineira cerca de 800 toneladas mensais de material reaproveitável deixarão de ser usados e poderão ir parar no aterro sanitário.

Perdas

Dono de uma fábrica de sacolas plásticas em Ibirité, L. F. A. tem 200 clientes, 40 funcionários e produzia 25 toneladas ao mês. Ele calcula que seus clientes pagarão um preço três vezes maior pelas sacolas de plástico biodegradável que passou a produzir e reclama ter perdido 70% das vendas na capital mineira. “Estamos correndo atrás do prejuízo e enfatizando nossa atuação em outras cidades do estado e fora de Minas. O problema é que o custo é maior e o lojista não quer comprar.” Segundo ele, para piorar a situação, falta matéria-prima para a produção da sacola biodegradável. “Não posso revelar onde consegui porque senão meus concorrentes vão atrás. A perda é grande para os produtores que trabalham com o pequeno varejo. O comércio também está passando aperto”, diz.

Levantamento realizado pelo Estado de Minas entre os principais fornecedores do produto em atividade em Belo Horizonte mostra que a Embol, maior distribuidora local, vende o milheiro de sacolas plásticas de 40 centímetros por 50 centímetros por R$ 1,90. O preço para o comerciante sai a R$ 0,19. O mesmo valor pelo qual a sacolinha compostável vem sendo vendida ao consumidor nos supermercados e hipermercados da capital. Mesmo assim, as vendas na Embol se limitam a 2 mil sacolas por cliente. Na Eldorado não há sacolas compostáveis para pronta-entrega porque a matéria-prima, fabricada pela Basf, na Alemanha, acabou. “Há 15 dias disseram que o material chegaria em 90 dias, mas agora o prazo foi prorrogado para 120 dias”, explicou uma atendente.

 

Um problema para lojistas

 

Para o pequeno varejo da capital, a proibição das sacolas plásticas e a necessidade de comprar produtos mais caros para substituí-las virou um verdadeiro imbróglio. Por um lado, algumas lojas continuam a usar as sacolas plásticas retornáveis amparadas no prazo de 120 dias dado pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) para a adequação à lei em casos como o da utilização de sacola de material reciclado e do uso de saco de lixo e sacola confeccionados em material biodegradável que não atendam às normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Por outro, ainda há estoques que muitos comerciantes não querem usar por medo de serem multados. Além disso, lojas que vendem produtos que pedem sacolas reforçadas para serem transportados estudam a fabricação de sacolas de papel, mas reclamam que os preços ficarão muito mais salgados.

Geraldo Senna, dono da ABG Embalagens e Sacolas Impressas, explica que boa parte de seus clientes é de lojistas que compram sacolas plásticas especiais. “As peças saíam a R$ 0,50. Agora, se o lojista quiser, terá que comprar a sacola de papel ou TNT, que custam entre R$ 1,80 a R$ 2,20.” O problema, segundo ele, é que os clientes não querem migrar, mas já pararam de comprar as sacolas de plástico, o que tem impacto negativo nas vendas e na produção da fábrica. “Fui obrigado a encomendar uma média de 70 mil caixas de papelão e quase 120 mil sacolas recicláveis. Os custos são altos e temos que repassar o preço de qualquer maneira”, admite David Malamud, de 71 anos, proprietário da loja Baby, que vende roupas de crianças na Savassi. “Na nossa loja, as vendas são grandes e não tem como fornecer uma sacola que não suporta peso. Ainda estou usando as sacolas antigas, mas logo vou ter que repassar os custos da reciclável”, avisa.

Nélson Avelar Júnior é proprietário de quatro lojas em BH: Bazzar (loja de presentes), Belatrix (papelaria), Radar (presentes na linha de decoração) e Glass (decoração). Ele tem nada menos do que 10 mil sacolas de plástico mais encorpado do que as que eram vendidas nos supermercados e não as está oferecendo aos clientes por medo de ser multado. “Ainda estou buscando uma solução. Meus fornecedores não fabricam a (sacola) biodegradável. Além disso, ela não tem resistência e não aguenta produtos pesados.” Outro problema é o custo. “Não estou preparado para pagar mais caro. Acho que vou deixar de usar sacolas, só não sei como fazer.”

João Paulo Azevedo, gerente da livraria João Paulo II, afirma também que tem sacolas no estoque, porém argumenta que os consumidores já estão mais conscientes da nova lei. “Muitos já nem pedem mais”, diz. (ZF e LA)


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)