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Estado de Minas

Álcool já está quase tão caro quanto a gasolina

Com alta de 14% no ano, etanol fica longe de ser vantajoso para motoristas de BH. Diferença entre combustíveis é a menor em 20 anos


postado em 26/03/2011 07:17

(foto: ANP)
(foto: ANP)
O preço do litro do álcool combustível em Belo Horizonte subiu 14,2% entre janeiro e 19 de março, apontam os dados mais recentes da Agência Nacional de Petróleo (ANP). O aumento é quatro vezes maior do que a inflação medida pela Fundação Ipead no período. Em algumas revendas de combustível da capital mineira, o litro do álcool já custa 90% do litro da gasolina. É o que vem ocorrendo no posto Duas Pátrias, onde o litro do etanol custa R$ 2,279 e o da gasolina R$ 2,529. Os preços dos dois combustíveis nunca estiveram tão próximos como agora. Segundo o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados do Petróleo do Estado de Minas Gerais (Minaspetro), Paulo Miranda, essa é segunda maior crise vivida pelo programa do álcool no Brasil, desde os anos 1990.

O avanço nos preços do combustível provocou uma migração em massa dos consumidores, que deixaram de abastecer seus carros com etanol para usar gasolina. Isso acontece porque o uso do álcool só é vantajoso quando seu preço é até 70% do valor do litro da gasolina. De acordo com Alísio Vaz de Melo, vice-presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom), só na semana passada a demanda por etanol nas associadas da entidade caiu entre 30% e 40% em relação a fevereiro. “Nesta semana a queda é ainda maior. O consumidor está fazendo um movimento racional ao trocar o álcool pela gasolina”, observa.

O frentista José do Carmo, que trabalha no posto Duas Pátrias, diz que nos últimos meses raramente os clientes abastecem com álcool. “Quando me perguntam, não tem como negar. Não está compensando mesmo”. O gerente do estabelecimento, Fábio Caetano Cruz, conta que há seis meses costumava receber carregamento de 5 mil litros de etanol por dia. Hoje, recebe mil litros. E nem sempre vende tudo. “Nunca vi o preço do álcool se aproximar tanto da gasolina. Não muda minha margem de lucro, mas é complicado ficar ouvindo o cliente reclamar”. No posto Alex, em 15 de março, foi emitida uma nota fiscal de R$ 19.398 referente à aquisição de 10 mil litros de etanol. Ontem, o estabelecimento pagou R$ 21.226 pela mesma quantidade do combustível, uma diferença de R$ 1.800 em apenas 10 dias.

Reclamação generalizada

Entre os consumidores, a reclamação em relação aos preços do combustível é generalizada. A professora Eli Gurgel questiona as vantagens de abastecer seu carro com álcool e afirma que só vai voltar a usar o combustível quando o preço abaixar. “O governo fala que vai incentivar (o uso do etanol), mas na prática não vemos isso. Os preços estão impraticáveis”. Valdirene Aparecida, que trabalha como vigilante, costumava abastecer seu carro flex com etanol, mas há cerca de um mês tem optado pela gasolina por causa da comparação dos preços na bomba. “Sempre faço as contas para ver se compensa, se baratear, volto para o álcool. Mas nas últimas semanas só tenho colocado gasolina”.

Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a inflação do álcool combustível no varejo atingiu o maior patamar em quatro anos para um mês de março. Levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que usou como base informações apuradas para o Índice Geral de Preços – 10 (IGP-10) do mês, mostra que o preço do combustível na ponta do consumo subiu 4,05%, acima das variações registradas para o mesmo mês em 2010 (1,53%), 2009 (1,58%), 2008 (-1,86%) e 2007 (-0,9%). “Os preços estão num patamar inviável e vão continuar altos”, diz Alísio Vaz de Melo. Segundo ele, em estados como Santa Catarina e Rio Grande do Sul já há estabelecimentos nos quais os preços do álcool estão mais caros do que os da gasolina.

Produção

A crise do álcool está ligada à queda da produção da cana na última safra (2010-2011), quando o setor sucroalcooleiro deixou de produzir 4 bilhões de litros de álcool na Região Centro-sul do país. “Por causa da forte seca, não atingimos a produção esperada no Brasil. A demanda continuou a aumentar e a oferta diminuiu”, explica o presidente do Sindicato do Açúcar e do Álcool, Luiz Custódio Cotta Martins. Além disso, os preços do açúcar no mercado internacional subiram, tornando a exportação mais atrativa e lucrativa para o segmento.

A migração do etanol para a gasolina já obrigou a Petrobras a partir para a importação de gasolina. Em abril serão comprados fora do Brasil cerca de 1,5 milhão de barris do combustível, disse ontem o diretor de Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa. O volume equivale à metade do total importado em todo o ano passado. Em nota oficial, o Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocumbustíveis chamou todos os associados a acelerar a reforma das usinas que ainda não começaram a moagem de cana e anteciparem o início da safra.

Análise da notícia

Misturado à gasolina no Brasil desde a década de 1930, o álcool ganhou fôlego com o Proálcool, em 1975. Desde então, oscila entre ser alternativa aos derivados do petróleo ou o vilão do desabastecimento. Nos anos 1990, motoristas formaram filas para abastecer carros a álcool com a escalada dos preços e o desabastecimento. Na época, o preço do petróleo estava em baixa e o do açúcar em alta. Depois de o ex-presidente Lula rodar o mundo como garoto propaganda do etanol, o país descobriu o pré-sal e o valor do açúcar voltou a disparar. Outra vez, o álcool vira coadjuvante. A diferença é que os carros são flex. O álcool sobe, vai gasolina no tanque. O consumidor e o Brasil não podem ficar à mercê de oscilações e interesses de momento de governos e empresas, sob pena de o álcool virar apenas subproduto para usinas e aditivo para distribuidoras. (Marcílio de Moraes)


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