Poucos setores em Belo Horizonte andam tão aquecidos quanto o de estacionamentos particulares, que cobram até R$ 10 pela hora e R$ 480 de mensalistas. A explosão da frota da capital na última década – o número de veículos cresceu 88%, saltando de 706,4 mil, em 2001, para 1,32 milhão em 2010 – e o déficit de vagas nas vias públicas garantiram aos empreendimentos, principalmente aos do Hipercentro, um voo em céu de brigadeiro. Empresários do ramo revelam que o faturamento de uma empresa com capacidade para 100 carros é de aproximadamente R$ 360 mil por ano. A mina de dinheiro impulsionou o mercado: o total de estacionamentos privados na cidade chegou a 440 em 2011, segundo a Junta Comercial do Estado de Minas Gerais (Jucemg).
E a estatística deve crescer. Fernando Nogueira, dono do BH Park, explora quatro unidades e planeja expandir os negócios. “Abrimos uma em 2008 e outra em 2009. Pretendemos inaugurar mais algumas. O problema é a falta de áreas disponíveis.” Esse déficit ajuda a entender o porquê de até pátio de templos religiosos ser transformado em estacionamento particular. Os alvos dos
“Não há vagas disponíveis para mensalistas. É preciso enfrentar a lista de espera. Há dias em que sou obrigado a recusar horistas”, diz Antônio Miranda, gerente do Guaratã, na Rua Guarani. Das 150 vagas do lugar, 140 são de mensalistas. Eles garantem, em média, R$ 26 mil aos caixas da empresa – a cifra não inclui as tarifas dos horistas. “Os clientes mais antigos pagam R$ 180. Os mais novos, R$ 200”, acrescenta o funcionário. Perto dali, na Rua Curitiba, o Santo Antônio, que comporta 50 carros, também cobra R$ 200 dos clientes fixos e não tem vaga disponível para novos mensalistas. No Agnel, na Rua Tupis, o preço é R$ 180 e a falta de vagas para novos mensalistas é antiga.
Já na Rua Curitiba, em frente ao Shopping Oiapoque, a mensalidade é uma das que mais doem no bolso: R$ 480. “E o chefe já disse que não baixa o preço”, revela um empregado que se protege no anonimato. Poucos quarteirões adiante, na Rua Tamoios, quase esquina com Tupis, a placa é clara: R$ 10 a hora. Os preços assustam, mas alguns empreendimentos já planejam aumentá-los em março. “A mensalidade (R$ 200) será reajustada, mês que vem, para R$ 230”, adianta Alana Daniele, gerente do Augusto de Lima Estacionamento, com abrigo para 120 veículos.
“Na prática, devido à quantidade de veículos na cidade, não há concorrência entre os estacionamentos. Cobram os preços que querem. A tendência, infelizmente, é piorar, uma vez que o transporte coletivo é um caos. Dependendo de quanto tempo a pessoa ficará no Hipercentro, é vantajoso ir de táxi”, avalia Feliciano Abreu, diretor do site Mercado Mineiro, responsável pela última pesquisa do segmento em BH. O estudo, de outubro de 2010, constatou diferença de 486,67% na chamada fração de 15 minutos – o preço mais baixo foi de R$ 0,75 e o mais alto, de R$ 4,40.
No bolso
Pelo Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o valor dos estacionamentos em BH aumentou 18,58% no acumulado de 2010. É o maior índice entre as cinco capitais pesquisadas pela entidade. Em São Paulo, dona da maior frota do país (6,3 milhões de veículos), o percentual foi de 6,71%. A disparidade entre as capitais pode ser comprovada, em parte, pelo aumento do número de veículos. Em Belo Horizonte, a frota cresceu, proporcionalmente, mais do que as das outras capitais.