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Estado de Minas

Daquele grão de amor

E rolou love story em meio a leveduras e cervejas mágicas...


postado em 14/06/2019 04:06





Tudo ali tinha ar de recomeço naquela manhã de domingo. Caras novas. Ingredientes inéditos. Palavras que pela primeira vez emergiam. Mas não era difícil constatar o que movia aquela gente: paixão. Cada um ao seu modo, a maioria declarava como hobby a conexão ao mundo cervejeiro. Mas havia quem planejasse literalmente uma guinada. Então, duas respostas concentraram a atenção após a pergunta simples, ainda que cheia de significados:

– Por que, afinal, estão aqui?

Depois de boa parte falar da sincera e dedicada entrega à produção nas panelinhas caseiras, a garota ruiva meio que desconcertou o grupo.

– Vim pra mudar minha vida.

Uauuuu!! Falou de um jeito tão espontâneo, que todos os rostos se voltaram a ela. Alguns atônitos. Outros, incrédulos. Uma das coordenadoras quebrou o gelo.

– Mas como exatamente? Conta pra gente.

Ela não titubeou

– Quero produzir cervejas mágicas, que encantem o mundo.

Fez-se silêncio. Um aluno brincou:

– Mas só isso?

Ana não teria mais que 18 anos. Determinada desde sempre. Aos 12, sonhava ser arquiteta para trabalhar com projetos solidários em comunidades carentes. E não se desviou. A atmosfera de surpresa ainda pairava por lá, quando foi a vez de outro candidato a cervejeiro deixar a turma sem chão.

– Vim aqui em busca de uma história de amor.

Opsss!!! Como assim? A mestre esperou as gargalhadas cessarem.

– Agora fala sério.

– É isso mesmo. Quero uma namorada. E se der pra aprender um pouquinho sobre cerveja, beleza.

A galera sem levar a sério, uns julgando até heresia, a mestre intercedeu de novo.

– Tem certeza de que não errou o endereço?

A reação meio tosca, meio “me pega no colo”, acabou por descontrair o ambiente:

– Tenho não. Nunca tenho. Mas deixa eu contar um caso rapidinho?

Gente com a mão no queixo.

– Levei umas artesanais pra casa de uma amiga. Bebemos. Conversamos. Ela colocou as cartas de tarô...

Aí, o burburinho impediu que ele prosseguisse. E a coordenadora já suplicando:

– Bora, pessoal, concentrar no essencial.

Pareceu filme. Grupinhos se diluindo pro contato inaugural com o malte, a apresentação do lúpulo, as introduções preliminares sobre leveduras, quem fica lado a lado? E conferindo textura e composição naquela saca de grãos, eis que as mãos se cruzam, num roteiro quase novelesco. A ponto de sentirem o calor mútuo da pele. Ah, pele!! Estilo câmera lenta, olho no olho, sorrisos trocados. Cumplicidade.

– Prazer. Sou Beto. E já sei. Você é a garota da carta do tarô. Adivinhei?

Era um instante em que, em meio a tanta gente, rolava a sensação de terem se metido num mundo só deles, semicongelados. Um mirando o outro.

Foi a mestre cervejeira quem, bem-humorada, quebrou o encanto:

– Os pombinhos autorizam o recomeço da aula?

Um leve desconcerto, e logo mergulharam no universo em que reinavam enzimas, aminoácidos... Entre um e outro respiro, foram se descobrindo. Ela amava as Witbier. Ele, as Porter. Ela adorava o Caraça. Ele, Bonito. Ela se dobrava ao blues. Ele, ao samba raiz. Ela, caminhada. Ele, pedal.

Mas algumas verdades só vieram à tona alguns anos depois. Ela com suas cervejas mágicas e projetos de arquitetura a pleno vapor. Ele ricamente inventivo nas receitas. Véspera de Dia dos Namorados, entre um brinde e outro, ambos adoravam recontar sobre a manhã em que se conheceram. Até que Beto finalmente revelou:

– Sabe aquela história de estar ali no curso em busca de amor? Era charme. Só pra te atrair. Tinha certeza, desde o primeiro momento, de que era você.
Piegas? Jeito nenhum. Ela se deixou emocionar, tascou-lhe um beijo quente. Abriram mais uma artesanal.

– Ah, amor, viu aquela taça linda que eu trouxe de Londres? Tá sumida faz tempo.
Ela, recolhida como quem escondesse um segredo.
– Posso te contar um pequeno desastre?

A coluna Espuma essencial é publicada quinzenalmente.
eduardomurta.mg@diariosassociados.com.br


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