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Estado de Minas POLÊMICA

O preconceito por trás da sensibilidade de 'A Baleia'

Filme estrelado por Brendan Fraser é acusado de gordofobia e de perpetuar estereótipos negativos de pessoas gordas


27/02/2023 14:47 - atualizado 27/02/2023 16:15

Brendan Fraser com próteses para parecer um homem de 270Kg para o filme 'A Baleia'
O filme "A Baleia" é acusado de gordofobia nas redes sociais (foto: Reprodução)

Apesar da indicação de Brendan Fraser ao Oscar de melhor ator, o filme “A Baleia” vem dividindo opiniões dos espectadores. Enquanto muitos veem o filme como um drama tocante, a parte do público composta por pessoas gordas e obesas se sentiu violentada e desrespeitada com a representação do personagem principal, Charlie.


“Fui ver o filme, e era pior do que eu esperava. As pessoas não entendem que o filme expôs a gente ao ridículo, como um ser nojento, fedido e sujo", afirma Erick Cuzziol, nutricionista e especialista em comportamento alimentar. “O filme é sensível, mas por trás da sensibilidade dele tem um preconceito”, completa.

As críticas vão desde o título do filme, que é apontado como uma forma de animalização dos corpos gordos, passando pela escalação de um ator que está longe de ser obeso e o uso de “fatsuit” ao invés da escalação de um ator gordo, até o próprio roteiro, que refroça estereótipos negativos.

Poster do filme 'A Baleia'
Cartaz de "A Baleia" desumaniza o personagem obeso ao praticar "headless fatty" (foto: Reprodução )


Um dos cartazes de divulgação do filme já gerou polêmicas. A peça mostra o corpo de Charlie de lado, na água, cortando quase toda sua cabeça. Essa prática, de não mostrar o rosto da pessoa gorda, é chamada de “headless fatty” e promove a desumanização dessa parcela da população.

Obesidade na tela

No filme, o espectador acompanha Charlie, um professor de 270kg que vive recluso em seu apartamento e, ao receber a notícia de que irá morrer em breve, tenta se reconectar com a filha que abandonou ao assumir um relacionamento com outro homem. O filme intencionalmente passa a sensação de claustrofobia e mostra dificuldades que Charlie enfrenta no dia-a-dia.

Entretanto, é frisado ao longo do filme a negativa do personagem em buscar ajuda, sob uma suposta justificativa de que não teria dinheiro para o tratamento, uma vez que não existe um sistema público de saúde nos Estados Unidos. Diversos personagens insistem para que Charlie busque ajuda, mas ele sempre recusa.

“Eu acho que foi um filme que usou da tristeza para falar que nós pessoas gordas temos condições de nos tratarmos, mas nós não queremos”, diz Erick.

Além disso, o filme reforça o estereótipo de que pessoas gordas são gordas por opção, sendo um reflexo de falta de autocuidado, por serem relaxadas e por isso também seriam nojentas. “A Baleia” aponta que Charlie também sofre com depressão, mas não é mostrado uma preocupação com a saúde mental, como a procura por um psicólogo ou terapeuta.

Erick explica que um dos principais eixos da gordofobia é acreditar que a pessoa engorda por vontade própria. Uma vez que a obesidade foi classificada como uma doença, ainda há uma falta de preparo do sistema de saúde de se entender causas e tratamentos além de um atendimento respeitoso. “As pessoas olham para a obesidade como uma falta de caráter, e não como uma questão  fisiológica que precisa ser auxiliada, analisada e controlada”, afirma Erick.

Reações e percepções

 

Pessoas gordas, em especial influencers e ativistas pelos direitos e pelo respeito aos corpos gordos, usaram as redes sociais para denunciar a gordofobia presente na obra. Rayane Souza, criadora de conteúdo digital e fundadora do Gorda na Lei, projeto de ativismo jurídico de combate à gordofobia, usou o instagram para postar um vídeo sobre “A Baleia”.

Na postagem, Rayane afirma que a forma o corpo do personagem principal se movimenta na tela e a forma que a câmera passa ao espectador a sensação de desconforto, reforça que aquele corpo precisa ser visto como um grande fracasso. Ela declara ainda que a obra não gera empatia alguma, e reforça o estereótipo de que pessoas gordas são pessoas tristes, mal resolvidas e indignas de afeto.

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“Infelizmente a gente pode estar diante de uma das produções mais cruéis da história do cinema em relação às pessoas gordas e isso está a beira de receber uma estatueta de melhor filme do ano. É isso que a gordofobia faz e é assim que o mundo olha pra gente”, disse a influencer no vídeo.




A influencer e ativista corporal mexicana Priscila Arias também criticou a produção em suas redes sociais. “Certamente para os amantes do cinema é um bom drama, mas da minha perspectiva como ativista do corpo, como uma pessoa gorda, que teve distúrbios alimentares, que experimentou gordofobia internalizada durante a maior parte de sua vida, posso dizer que há muito mais do que é distorcido dentro da mensagem do filme”.

*Estagiária sob supervisão de Vera Schmitz

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Além disso, muitos dos comentários mostram o receio de algumas pessoas ao assistirem “A Baleia” devido aos gatilhos que podem surgir da tela. A psicóloga e ativista Gabriele Menezes não sente vontade de assistir o filme por identificar gordofobia e estereótipos já no material de divulgação.


“Eu penso no privilégio das pessoas magras, que elas não precisam pensar nessas questões que a gente tem levantado, que inclusive chama de mimimi, porque as pessoas não têm empatia pelas pessoas gordas quando elas reclamam ou apontam uma coisa que não é legal para elas”

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