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Estado de Minas REVISITANDO O PASSADO

Pesquisadores mapeiam memória das africanidades em BH

Revisitando documentos que registram os quase 125 anos de Belo Horizonte, pesquisadores remontam a história invisibilizada do povo preto


06/06/2022 12:31 - atualizado 06/06/2022 16:30

Grupo de quatro pessoas, sendo três mulheres e um homem, todos negros, tirando uma selfie
Grupo Africanidades BH composto por Josemeire Alves,Cristiano Cezarino, Lisandra Mara e Karla Danitza (foto: Arquivo pessoal)


O grupo de pesquisadores Africanidades BH dedica-se ao projeto de pesquisa “Percursa - Uma Cartografia das Africanidades em Belo Horizonte”. O objetivo é estudar a história da população negra na capital partindo da pergunta “quem são as pessoas pretas que constroem BH e onde estão as africanidades na cidade?”. 

 

Muito além de focar  no passado, a investigação é também um movimento para entender a BH do presente. “A gente está falando de perspectivas históricas que estão no passado, no presente e construindo um entendimento de futuro. São dados, informações e construções de imaginários de uma série de outras percepções que contribuem para formação de políticas públicas para formação de pensamento críticos e questionamentos”, conta Karla Danitza, proponente, coordenadora e produtora executiva do projeto.

 

Além de Karla, o projeto é realizado pela pesquisadora e doutora em história Josemeire Alves, pelo pesquisador doutor em arquitetura e urbanismo Cristiano Cezarino e pela gestora pública e doutoranda em arquitetura e urbanismo Lisandra Mara. Cada um dos integrantes desenvolvia projetos individuais sobre a negritude e participam do coletivo. O projeto envolve interpretações da história da capital mineira, das ocupações urbanas, arte e cultura, e também uma pesquisa do que é a arquitetura, não só física, mas social, que a cidade propõe e como a mesma inclui a negritude.

Karla Danitza, mulher negra com cabelos trançados na altura do ombro, usando óculos de grau e camisa rosa forte, sorri para câmera
Karla Danitza, proponente, coordenadora e produção executiva do projeto "Percursa: uma cartografia das africanidades em Belo Horizonte" (foto: Leonardo Ramos)

Como fio condutor foi escolhida a literatura da mulher negra na cidade, que perpassa principalmente a produção de Conceição Evaristo, como o livro Beco das Memorias, que apresenta várias perspectivas sobre os espaços que estão sendo construídos e destruídos dentro da cidade.

 

“Quando olhamos para essa construção a partir da literatura feminina, entendemos a mulher como uma referência do acolhimento, no sentido comunitário, no cuidado com a família", diz Karla. Ela lembra que as mulheres negras costumam ser as chefes de famílias.

Construção a partir da desconstrução

Belo Horizonte foi uma cidade planejada construída dentro da Avenida do Contorno, e  as ruas formam ângulos retos e as avenidas criam ângulos de 45º. Com status de uma cidade moderna, foi inspirada em Paris e Washington. A história da capital tem início com a desocupação do antigo Curral del Rey.

 

Karla conta que a Praça da Liberdade era uma região ocupada por pessoas negras e que, ao se projetar o centro de poder da cidade, elas foram expulsas . A movimentada Rua Sapucaí era habitada por uma comunidade negra que, com a expansão urbana, foi expulsa.

 

Esse padrão se repete também no alto da Avenida Afonso Pena, onde as comunidades Pindura Saia e Vila Santa Isabel resistem como Remanescentes de um passado ocupado pela população negra da capital. E é essas narrativas que estão sendo resgatadas  nos registros de Belo Horizonte, mas que foram invisibilizadas.

O direito da narrativa histórica

Atualmente, a população negra tem conseguido contar as próprias histórias. “São contribuições que dizem de nossas liberdades e emancipações, como que a gente fala sobre a gente, principalmente”, reflete Karla.

 

Porém documentos da Fundação de Belo Horizonte foram produzidos por quem tinha o direito narrativo em um determinado momento. O projeto então trabalha com a releitura de documentos que cumpriram um determinado papel. Karla conta que grande parte da pesquisa trabalha com a perspectiva de entender quem são as populações em Belo Horizonte a partir de obituários, pela falta de censos oficiais com dados da população negra brasileira.  

 

 

“É um desafio de interpretação, um desafio de buscar e fazer o levantamento desses documentos. Um outro desafio, que se apresenta quando a gente está falando de memória da população negra, é a oralidade. São histórias orais que, ao longo do tempo, não são reconhecidas como documentos, como histórias de uma população”, afirma Karla.

 

*Estagiária sob a supervisão de Márcia Maria Cruz.

 

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