atriz Myriam Nacif

Myriam Nacif afirma que Maria Margarita, "A contadora de filmes, é uma personagem inspiradora

Guto Muniz/DIVULGAÇÃO

Quando terminou de ler “A contadora de filmes”, romance do chileno Hernán Rivera Letelier, a atriz Myriam Nacif, do Grupo Atrás do Pano, falou para si mesma: “Nossa, que vontade de fazer essa personagem no teatro”. Começou, então, a planejar a adaptação do livro para os palcos, que estreia nesta quinta-feira (26/10), no Teatro João Ceschiatti, do Palácio das Artes, e segue em cartaz até domingo.

O interesse em interpretar a protagonista de Letelier se deu pela identificação de Nacif com o livro. Ambientado em uma pequena cidade no deserto chileno, o romance acompanha Maria Margarita, uma menina de 11 anos, que vive só com o pai e cinco irmãos.

A única diversão da família é o cinema. É lá que Medardo Castillo, pai de Maria, tem um mínimo de lazer. Contudo, depois que ele se acidenta e fica em uma cadeira de rodas, o dinheiro vai minguando, a ponto de Medardo não conseguir mais levar os filhos ao local.

Para não privar os pequenos da diversão, ele propõe uma competição: quem melhor contar a história de algum filme, ganha dinheiro para ir ao cinema.

Maria ganha o concurso e chama atenção por sua eloquência. Em pouco tempo, ela passa a usar essa aptidão para arrumar alguns trocados, contando histórias para os moradores.

“Tem umas coincidências divertidas entre eu e Maria”, diz. “Quando era criança, eu tinha uns disquinhos que traziam umas historinhas infantis. Eu decorava essas histórias e contava para todo mundo”, diverte-se ela.

Mas, independentemente disso, revela a atriz, outro aspecto que despertou seu interesse em montar “A contadora de filmes” é o processo de desenvolvimento de Maria como mulher, que ocorre em paralelo com acontecimentos históricos e políticos do Chile – mas que também são familiares aos brasileiros, como o escalonamento da violência ao longo dos anos e a instauração de uma ditadura militar no país.

“Ela passa por situações delicadíssimas como mulher”, destaca Nacif. “A mãe foge com o circo quando ela era pequena, ela precisa lidar com a exploração por parte das pessoas que trabalham nas minas da região. E, depois, com a ditadura, vê o lugar onde vive virar um campo de concentração”.

Com direção de Fábio Furtado e transposição do romance para a linguagem teatral feita pelo dramaturgo e escritor Francisco Falabella Rocha, o espetáculo se mantém muito próximo ao texto original de Letelier.

O chileno, aliás, foi uma espécie de consultor do grupo. Nacif e Furtado foram até o país vizinho para se encontrar com o escritor. Lá, ele apresentou aos brasileiros o povoado onde se inspirou para ambientar seu romance e fez suas considerações a respeito da trama que criou.

“Essa viagem foi muito boa, porque, para além da nossa conversa com o Letelier, ela ajudou na concepção do nosso cenário, que é totalmente inspirado no que vimos lá”, conclui a atriz. 

"A CONTADORA DE FILMES"
Adaptação do livro homônimo de Hernán Rivera Letelier pelo Grupo Atrás do Pano. Com Myriam Nacif. Tradução: Francisco Falabella Rocha. Direção: Fábio Furtado. Nesta quinta-feira (26/10), às 20h; sexta a domingo, às 19h, no Teatro João Ceschiatti do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). Ingressos à venda por R$ 30 (inteira), na bilheteria do teatro ou pelo Eventim. Informações: (31) 3236 -7400.