chuva de poesia

A "Chuva de poesia" foi uma ação criada por Guilherme Mansur, um dos fundadores do Fórum das Letras

Alexandre Martins/Divulgação

"O Fórum das Letras voltou a ter o brilho que tinha antes." Com essas palavras, a professora Guiomar de Grammont, curadora do evento literário realizado em Ouro Preto, sintetiza o que foi a 18ª edição, cuja programação chegou ao fim neste sábado (21/10). Ela diz que, passada a pandemia e os "anos de obscuridade", pode-se dizer que o Fórum retomou seu curso com toda a força.

O fato de ter celebrado a memória do poeta e tipógrafo ouro-pretano Guilherme Mansur, que morreu no último dia 27, aos 65 anos, conferiu uma carga afetiva grande ao evento, de acordo com Guiomar.

Ela aponta que todos os autores convidados se reuniram em torno da imagem e da obra de Mansur. "Foi uma edição com nostalgia, mas sem melancolia, porque sabemos que ele gostaria de estar entre nós, festejando", diz.

Ela destaca que o Fórum das Letras 2023 foi palco tanto para debates de alto nível intelectual quanto um encontro descontraído de amigos em torno da literatura. Entre os convidados, estiveram presentes o escritor Ricardo Lísias, o jornalista Leonardo Sakamoto e Bruno Meyerfeld, correspondente do diário francês "Le Monde" no Brasil.

"Guilherme dizia se tratar da poesia vista como um sentimento do mundo, como escreveu Drummond, com todas as coisas eivadas de poesia"

Guiomar de Grammont, curadora do Fórum das Letras



"Tivemos uma mesa redonda incrível sobre produção editorial de livros infantojuvenis na abertura, e também debates muito interessantes sobre poesia, edição e tipografia, que foram os temas centrais do evento, por causa do Guilherme", diz a curadora.

Com o tema "Materialidades da poesia", a programação do Fórum, que é uma realização da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), também contou com espetáculos, oficinas para crianças, peças de teatro, shows e exposições.
chuva de poesia no fórum das letras

Público do Fórum das Letras sob a 'Chuva de poesia', que encerrou a edição 2023 neste sábado

Alexandre Martins/Divulgação

Duas delas seguirão em cartaz até o próximo dia 29: "Cantando a pedra", sobre a obra de Mansur, e "La maison de Clarice", focada em Clarice Lispector.

Hoje também o público de Ouro Preto e visitantes da cidade histórica puderam conferir a tradicional "Chuva de poesia", em que milhares de folhas de papel colorido com tipografias especiais são lançadas ao vento do alto das torres das igrejas, sobretudo a de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.

Criada ainda nas primeiras edições do evento por Mansur, que é cofundador do Fórum das Letras, ela enche as ruas e praças da cidade de beleza e sensibilidade, segundo Guiomar.

Ela se recorda que o poeta e tipógrafo a repreendia quando falava no plural, "Chuva de poesias". "Guilherme dizia se tratar da poesia vista como um sentimento do mundo, como escreveu Drummond, com todas as coisas eivadas de poesia", diz.

Ela destaca que o homenageado desta edição - ao lado de Cecília Meireles (1904-1964), que o Fórum das Letras também celebrou - pensava a "Chuva" como uma antologia de poemas, muitas vezes dedicada a um tema, homenageando um poeta ou artistas que tenham "cantado" Ouro Preto. "Ele fez 'Chuvas' para mulheres, para crianças, para Drummond", situa.

A exposição 'Cantando a pedra'

A exposição "Cantando a pedra", sobre a obra de Guilherme Mansur, fica em cartaz até 29/10

Mila Damasceno/Divulgação

Em função da doença degenerativa de que sofria, Mansur começou, num dado momento, a não poder lançar os poemas, então formou um grupo de jovens, batizado Tupã na Torre, que cumpria essa missão, além de fazer o trabalho na gráfica e cuidar da logística do evento, de acordo com Guiomar. Ela salienta que, ainda hoje, é uma ação muito estimada pelos moradores da cidade, que segue tendo desdobramentos importantes.

"Percebo o carinho que Ouro Preto tem pelo Fórum das Letras quando vou pedir apoio. Mesmo com a cidade lotada, todas as pousadas me concedem dois apartamentos para hospedar os convidados. O mesmo com os restaurantes, que são parceiros. É um evento muito querido e muito democrático. Efigênia Carabina, uma figura conhecida pelos moradores daqui, quase folclórica, diz que voltou para a escola para poder ler os poemas dos autores que vêm participar do Fórum", conta.

Diferentemente do que vinha acontecendo nos últimos anos, o Fórum das Letras contou, para esta 18ª edição, com um aporte financeiro do poder público.

"A universidade nos deu apoio no transporte, com as passagens aéreas para os convidados que vieram de fora. Também contamos com um suporte importante do comércio local e com a parceria da Embaixada da França, que possibilitou a exposição 'La maison de Clarice' e a presença do Bruno Meyerfeld. O resultado é que tivemos uma atenção maior do grande público", diz Guiomar.