Papa Francisco e Caetano Veloso

Papa abençoou Caetano Veloso, que pediu orações para o Brasil

Vatican Media

O cantor e compositor Caetano Veloso se encontrou com o papa Francisco nesta quinta-feira (28/9), no Vaticano. O brasileiro aproveitou a visita para entregar uma carta com um “pedido de socorro” sobre a insegurança no Brasil, especialmente na Bahia, seu estado natal.


No documento, o cantor disse que “a violência tomou conta da Bahia”. Em outro trecho, ele ressaltou que, só no mês de setembro, foram registradas 46 mortes em confrontos policiais em território baiano. “A proporção é de quase duas mortes por dia neste mês", escreveu.


Caetano destacou ainda que os casos aconteceram principalmente em bairros periféricos de Salvador, capital do estado. Na carta, o baiano pede que o papa volte seu olhar e suas orações para o Brasil. “Tenho certeza de que sua mensagem de paz será ouvida no país que tem como padroeira Nossa Senhora Aparecida”, encerra. 


O cantor visita a Itália para sua agenda de shows no país.

 


Leia a carta na íntegra:


"Vaticano, 28 de setembro de 2023


Vossa Santidade, Papa Francisco,


É com alegria especial que chego aqui, na Santa Sé, para este encontro. Sou da cidade de Santo Amaro da Purificação. E desde menino acompanhava encantado a minha mãe, Dona Canô, com seus gestos de simplicidade, afeto e sabedoria.


Ela lutava em defesa da despoluição do Rio Subaé e fazia campanhas pela restauração da igreja de Nossa Senhora da Purificação, da qual sempre foi ardorosa devota.


Em 2007, na festa do centenário dela, a família, amigos e a cidade de Santo Amaro promoveram durante o ano uma série de homenagens à dona Canô. E o que nela provocou maior emoção foi a Igreja da Purificação receber a imagem peregrina de Nossa Senhora Aparecida.


É com esses ensinamentos de paz que chego aqui, diante de Vossa Santidade.


Nesses 10 anos de pontificado do primeiro Papa da América Latina, jesuíta e de nome Francisco, tenho acompanhado suas posições denunciando injustiças, alertando para a situação dos migrantes e sendo o autor da primeira encíclica ambiental: Laudato si – Sobre o cuidado da casa comum. O texto é uma advertência necessária sobre as responsabilidades humanas nas alterações climáticas.


Santo Padre, onde moro, na cidade do Rio de Janeiro, a violência atingiu índices iguais aos das grandes guerras pelo mundo. E o pior: vitimando cada vez mais crianças. A lista de meninos e meninas mortos por armas de fogo na Região Metropolitana do Rio assombra. Só este ano, 10 crianças morreram dessa forma.


Recentemente, entrou nesta estatística a menina Eloah da Silva dos Santos, de 5 anos, atingida por um tiro quando estava em casa, no Morro do Dendê, comunidade da Ilha do Governador, Zona Norte do Rio.


As vítimas têm em comum o fato de terem tido uma morte repentina enquanto viviam seus cotidianos. Com idades entre 9 e 13 anos. A chamada "guerra às drogas" até hoje não reduziu o comércio ou o uso delas. Mas o número de jovens, em sua maioria negros, mortos a bala não para de crescer.


Esse destino trágico também vitimou: Juan Davi de Souza Faria, 11 anos; Rafaelly da Rocha Vieira, 10 anos; Maria Eduarda Carvalho Martins, 9 anos; Ester de Assis Oliveira, 9 anos; Jhenyfer Luz Silva de Souza, 12 anos; Lohan Samuel Nunes Dutra, 11 anos; Yan Gabriel Marques, 12 anos; Dijalma de Azevedo, 11 anos; Thiago Menezes Flausino, 13 anos.


A violência também tomou conta da Bahia, estado em que nasci há 81 anos. Estou assustado ao constatar que - apenas nestes primeiros 24 dias de setembro - já foram registradas pelo menos 46 mortes em confrontos policiais em todo o estado. A proporção é de quase duas mortes por dia neste mês. Essas mortes aconteceram principalmente em bairros periféricos de Salvador, como Alto das Pombas, Calabar, Valéria e Águas Claras.


Diante dessa situação de agravamento da violência no Brasil peço que Vossa Santidade volte o seu olhar e suas orações para o nosso país. Tenho certeza de que sua mensagem de paz será ouvida no país que tem como padroeira Nossa Senhora Aparecida.


Com profunda admiração, meu abraço fraterno e meu pedido de socorro.


Caetano Veloso"