Em seu trabalho, A cantora Fabiana Cozza chama a atenção para a riqueza das mitologias negras e das raízes africanas do Brasil

Em seu trabalho, a cantora Fabiana Cozza chama a atenção para a riqueza das mitologias negras e das raízes africanas do Brasil

José de Holanda/divulgação
 

A mitologia africana, a diáspora negra no Brasil, o candomblé e a umbanda inspiraram o álbum “Dos santos”, de Fabiana Cozza. Lançado em 2020, durante a pandemia, só agora a cantora paulistana apresentará esse repertório ao vivo para o público de BH. Neste domingo (24/9), às 14h30, ela faz show no Parque Ecológico da Pampulha.

 

A turnê roda o país desde 2021. “Já fizemos as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Agora faremos Brasília, por conta do projeto da Caixa Cultural, no qual fui aprovada. Vamos nos apresentar também em Salvador ainda este ano”, comenta Fabiana.

 

“‘Dos santos’ traz 19 faixas, mas devo cantar cerca de 14, além de mais três temas de outros trabalhos que lancei com a mesma temática. Como é palco de rua em BH, a gente precisa dar uma misturada no sentido de contemplar a plateia com o repertório do qual ela possa participar de alguma forma”, afirma.

Pererê e Donato

Fabiana já tem público cativo na capital, onde se apresentou várias vezes. “Vou cantar ‘Senhora negra’, do mineiro Sérgio Pererê”, adianta. Outra do repertório de hoje, “Emoriô”, é um dos sucessos de João Donato, que morreu em julho. “O objetivo é homenagear esses dois grandes músicos brasileiros”, diz.

 

No palco estará o baixista Fi Maróstica, de 37 anos, diretor do disco “Dos santos”. “Ele é um dos grandes músicos da sua geração, um cara que tem feito muita coisa bacana”, conta Fabiana, que estará acompanhada também do baterista Cleber Almeida e do guitarrista Fábio Leal.

 

O show faz parte do 3º Circuito Cultural Pampulha, que comemora os 80 anos do importante complexo paisagístico e arquitetônico de Belo Horizonte.

 

 

 

Em novembro, Fabiana Cozza lança álbum com inéditas de Nei Lopes. O carioca, além de ser cantor, compositor e escritor, é especialista em diásporas negras africanas. Em outubro, sai o single da cantora, uma parceria de Nei com Wilson Moreira.

 

“O disco está bem bonito e também muito informativo”, diz Fabiana, afirmando que Nei Lopes “tem o samba como patente”. 

 

Aos 81 anos, o carioca é referência nacional em cultura afro-brasileira. Em 2016, ele ganhou o Prêmio Jabuti com o livro “Dicionário social do samba”, escrito com Luiz Antônio Simas (outro especialista em matrizes africanas). É também autor do “Dicionário banto do Brasil” (1996).

Racismo estrutural

Nei Lopes lançou vários discos, é doutor honoris causa em diversas universidades e uma das principais vozes do país na luta contra o racismo estrutural.

 

“Acredito que a gente tem de aproveitar bastante esses mestres que ainda estão por aqui e gravar suas obras”, afirma Fabiana, ressaltando a contribuição de Nei Lopes, “que está no nível daqueles que estão no panteão da MPB”.

 

Com trabalho profundamente marcado pelas mitologias negras, Fabiana lançou, além de “Dos santos”, os álbuns “Canto da noite na boca do vento”, “Ay amor!”, “Partir”, “Canto sagrado: Uma homenagem a Clara Nunes”, “Fabiana Cozza”, “Quando o céu clarear” e “O samba é meu dom”.

 

Formada em jornalismo, a artista paulistana escreveu o livro de poemas “Álbum duplo” e ganhou duas vezes o Prêmio da Música Brasileira, nas categorias de melhor cantora de samba e melhor álbum em língua estrangeira (por “Ay, amor!”, inspirado na obra do cubano Bola de Nieve). n

FABIANA COZZA E TRIO

Neste domingo (24/9), às 14h30, no Parque Ecológico Promotor Francisco Lins do Rego (Av. Otacílio Negrão de Lima, 6.061, 

Pampulha). Entrada franca.

 

Músico Cliver Honorato

Cliver Honorato apresenta o show 'Indolente malandragem' na tarde deste domingo

Felipe de Oliveira/divulgação
 

OUTRAS ATRAÇÕES DO CIRCUITO PAMPULHA

A programação gratuita do Circuito Cultural Pampulha vai das 10h às 17h, no Parque Ecológico. Uma das atrações deste domingo será o DJ Thales Dusares, que comandará as picapes durante todo o dia.

 

Outro destaque é Cliver Honorato, que mistura rock noventista, música brasileira contemporânea e crítica social no show “Indolente malandragem”.

 

Também subirá ao palco o Grupo Teresa, banda de samba e pagode formada só por mulheres. A proposta delas é chamar a atenção para a resistência feminina presente nas manifestações de matriz africana.