Cena do espetáculo 'Café não é só uma xícara'

A coreógrafa e bailarina Flávia Tápias diz que imagens feitas pelo fotógrafo mineiro em fazendas de café foram o ponto de partida da pesquisa para a montagem

Fernanda Valois/Divulgação

"O café define as estações do ano, o ritmo do trabalho, sua renda, seu bem-estar”, disse certa vez Sebastião Salgado. Foi também o café que, de certa maneira, definiu-lhe a profissão.

Então economista, entre o final dos anos 1960 e o início dos 1970, Salgado trabalhava para a Organização Internacional do Café, em Londres. Viajou muito para a África, acompanhando o cultivo em Ruanda, Burundi, Congo e Uganda. Em uma destas incursões, e com uma câmera emprestada, começou a fotografar. E mudou radicalmente o curso de sua vida.

A gênese do espetáculo "Café não é só uma xícara", do Grupo Tápias, está precisamente na trajetória de Salgado. "A pesquisa inicial partiu das fotografias dele em fazendas de café", comenta a coreógrafa e bailarina Flávia Tápias, que dirige (e está em cena ao lado de seis bailarinos) a montagem, que será apresentada nesta sexta (21/7), no Sesc Palladium. 
 
A passagem do grupo carioca por Belo Horizonte integra a programação do projeto Dança em Trânsito, que apresenta uma série de espetáculos na capital mineira e em Casa Branca, Brumadinho, até o próximo domingo (23/7). 

As fotografias de Salgado foram só o ponto de partida, comenta Flávia. "Como as fotos dele têm muito movimento, elas me inspiraram. A partir das fotografias, comecei a pensar no café e na relação dele com o país, pois a história dele é permeada pela do Brasil”, diz a bailarina e coreógrafa. 

Casa da avó

“Longe de mim querer contar a história do Brasil em uma hora de espetáculo, mas tratamos do café na natureza, como semente, do plantio, até chegar à mesa. Os encontros são feitos em cima do café, que remete à memória, ao cheiro da casa da avó, ao vício, energia."
 
 
A companhia de dança carioca formada em 1994 por Giselle Tápias e, desde 2009, dirigida por Flávia, sua filha, tem uma ponte com a França. Foi na Europa que "Café não é só uma xícara" foi montada, por sinal. 

"O espetáculo foi criado em 2019 na França. Com a pandemia, só conseguimos estreá-lo no Brasil no ano passado", conta Flávia, que também é autora dos textos que são apresentados na montagem. E hoje traz outra formação. Na versão inicial, os bailarinos eram franceses, brasileiros e um africano. Agora, é outro corpo de bailarinos em cena, com brasileiros e um africano.

Desde a crise sanitária, Flávia está vivendo no Brasil - mas ainda mantém alguns projetos na França. Além do grupo, o Tápias conta hoje com um espaço cultural, inaugurado no ano passado, na Barra, no Rio de Janeiro. A sede do grupo abriga também uma série de cursos livres na área da dança.

O Tápias também está por trás do projeto Dança em Trânsito, um circuito nacional de espetáculos de dança com companhias brasileiras e internacionais. Criado há 21 anos, e realizado anualmente sem interrupções desde então - não parou nem mesmo durante a crise sanitária, promovendo o Desfronteiras, sua primeira edição 100% on-line, em 2020 - o projeto está em sua maior edição.

Companhias

Desde fevereiro, e até outubro, o Dança em Trânsito vai circular por 33 cidades das cinco regiões do país. "São 29 companhias, além de 18 residências, mais oficinas, workshops e projetos de criação com coprodução do festival", comenta Flávia. 

Cada região tem um grupo de atrações. De Governador Valadares, onde estava no início desta semana, o Dança em Trânsito chegou a BH. Aqui, além do próprio "Café não é só uma xícara", o projeto vai apresentar cinco montagens.

Amanhã, as apresentações serão concentradas na Praça da Liberdade, na parte da manhã. Entre elas está o solo "Formigueiro", com Bruno Duarte, que discute as relações interpessoais nos grandes centros. 

Já "Ou 9 ou 80", com a Clarin Cia de Dança, trata da violência urbana. Os números que dão título ao espetáculo referem-se aos nove jovens mortos durante uma ação da Polícia Militar na favela de Paraisópolis, em São Paulo, em 2019, e aos 80 tiros (também vindos de PMs) que mataram, naquele mesmo ano, em Guadalupe, no Rio de Janeiro, o músico Evaldo dos Santos Rosa. 

À tarde, o auditório do Memorial Minas Vale (localizado também na Praça da Liberdade), vai receber o solo "Toujours de 3/4 face!", com a belga Loraine Dambermont. No domingo, este mesmo espetáculo - ao lado de  "Você deveria ficar", com Christian Moyano (Uruguai) e "Olha pra mim", com a Sutil Cia de Dança (PR) -, será apresentado na Praça Jardim, em Casa Branca, na região de Brumadinho.

Desde a sua criação, em 2002, o Dança em Trânsito já realizou mais de 650 apresentações de dança contemporânea, abrangendo 103 companhias nacionais e 59 internacionais de 18 países. Até a edição atual, o projeto passou por 26 cidades no Brasil e no exterior, para um público de mais de 48 mil pessoas. 


DANÇA EM TRÂNSITO*

. Sábado (22/7)

» 10h30 - Praça da Liberdade
"Ou 9 ou 80", com a Clarin Cia de Dança (RJ/SP); "Olha pra mim", com a Sutil Cia de Dança (PR);  "Formigueiro", com Bruno Duarte (RJ)
Cena do espetáculo formigueiro

"Formigueiro" participa do Dança em Trânsito

Dança em trânsito/Divulgação


» 16h30 - Memorial Minas Vale (Praça da Liberdade) 
"Toujours de 3/4 face!", com Loraine Dambermont (Bélgica)

. Domingo (23/7)

» 10h30 - Praça Jardim, em Casa Branca
"Você deveria ficar", com Christian Moyano (Uruguai); "Toujours de 3/4 face!", com Loraine Dambermont (Bélgica); "Olha pra mim", com a Sutil Cia de Dança (PR)

*Todas as apresentações têm entrada franca

Cena do espetáculo Angelina

"Angelina" estreia nesta sexta

Makely Ka/Divulgação

“Angelina” estreia hoje

Espetáculo solo de Rosa Antuña, "Angelina" estreia nesta sexta (21/7), às 19h30, no Centro Cultural Unimed-BH Minas Tênis Clube (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes).

Na montagem, a bailarina, coreógrafa, diretora e atriz interpreta uma palhaça, que "traz um mundo poético e sensível; é uma peça para adultos, faz reflexões filosóficas sobre a sociedade em que vivemos, sobre a mulher e sobre a existência."

A montagem também marca o lançamento da Cia. Rosa Antuña, que já vem se preparando para estrear, no ano que vem, sua primeira montagem de grupo, "As 7 mulheres da Lua". Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia), à venda na bilheteria e no site Eventim.