Cantora Paula Santoro

Paula Santoro interage com obras do escultor Advânio Lessa, de Lavras Novas, no clipe de 'Coisa maior de grande', canção de Gonzaguinha

Márcia Charnizon/divulgação

Reunir um time de bambas do naipe de João Donato, Raul de Souza, Toninho Horta e João Bosco, entre outros grandes, não é para qualquer um. Paula Santoro conseguiu uma turma da pesada para acompanhá-la nas gravações de seu novo álbum, “Sumaúma”, o sétimo de sua carreira.

Finalizado antes da pandemia, ele só vem a público agora. Quatro das 10 faixas já estão disponíveis nas plataformas digitais, que deverão lançar o álbum completo até o fim deste mês. Mas o disco cheio, em formato CD, estará disponível esta noite, quando Paula faz o show de lançamento no teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas.
 
“Como é um disco comemorativo de carreira, queria colocar neste trabalho pessoas importantes, que me influenciaram e que admiro”, comenta a cantora, que fez uma grande imersão para definir o repertório. “Ouço geralmente umas 400 músicas para fazer um disco”, acrescenta.

No palco, ela estará acompanhada do pianista e arranjador gaúcho Rafael Vernet, que produziu o álbum e dirigiu o show, do baterista Léo Pires, da contrabaixista Camila Rocha e da percussionista Débora Costa.
 
Paula Santoro

Paula Santoro

Márcia Charnizon/divulgação
 

('E daí') É música de não sei quanto tempo atrás e fala muito dessa distopia em que o mundo atual está. Ruy Guerra é um grande letrista e ninguém se lembra disso

Paula Santoro, cantora

Homenagem à mãe

Os singles já lançados são “Ê lala lay ê” (João Donato e Lysias Ênio), “Coisa mais maior de grande” (Gonzaguinha), “Sassaô” (João Bosco) e “Yê melê” (Chico Feitosa e Luis Carlos Vinhas). Tanto Donato quanto Bosco participaram de suas respectivas canções.

“Ê lala lay ê” é homenagem que Donato e Lysias fizeram à mãe, apelidada de Lalay. “Acabei homenageando a minha mãe (morta em 2020) através da deles”, diz Paula.

Maurício Tizumba tocou tambor em “Coisa mais maior de grande”, canção gravada com os também mineiros Fred Heliodoro (baixo acústico) e Felipe Continentino (caixa), além de Vernet, que assinou o arranjo. A música inspirou o primeiro vídeo do álbum, já disponível, registro feito em Lavras Novas, lugarejo a 127 km de Belo Horizonte.

No clipe, que gerou as fotos de Márcia Charnizon que ilustram esta página, Paula aparece entrelaçada com trabalhos do escultor Advânio Lessa, natural daquele distrito de Ouro Preto, que criou obras a partir de árvores secas.
 
 

O aspecto visual tem relação próxima com o conceito do disco. Sumaúma é árvore gigantesca, podendo atingir 70 metros, tida como sagrada pelas civilizações pré-colombianas. A canção-título é de autoria de Alexandre Andrés e Bernardo Maranhão.

“Ela resume muito o que é o disco, pois fala de natureza, do feminino, da urgência da preservação. Bernardo ainda me explicou que a sumaúma, com raízes muito profundas, une os três mundos, de acordo com os povos maias: o subterrâneo, o terreno e o celestial”, explica Paula.

A pandemia teve muita coisa ruim, mas algumas boas. Uma delas foi a aproximação com o Ruy (Guerra)

Paula Santoro, cantora


Parceria com Arthur Verocai

O disco conta também com faixa de autoria da cantora, “Skindô”, parceria dela com o maestro, arranjador e compositor Arthur Verocai. Paula, que canta na banda dele, gravou outra de Verocai, “Na boca do sol” (parceria com Vitor Martins). “É o grande clássico dele, que DJs do mundo inteiro sampleiam”, observa.

O baterista Mamão, morto em abril, que integrou o célebre Azymuth, gravou esta e outras faixas do disco. Já o trombonista Raul de Souza, morto há dois anos, fez um solo em “Skindô”.

O álbum também celebra uma amizade recente de Paula. A cantora mineira há muito se divide entre Belo Horizonte e o Rio de Janeiro. Na capital fluminense, vive muito próxima do cineasta Ruy Guerra. Paula gravou “E daí (A queda)”, parceria de Guerra e Milton Nascimento gravada originalmente no disco “Clube da esquina 2” (1978).

“É música de não sei quanto tempo atrás e fala muito dessa distopia em que o mundo atual está. Ruy Guerra é um grande letrista e ninguém se lembra disso”, ressalta.

Os dois se aproximaram em 2019, quando se encontraram na festa de 80 anos de Francis Hime. No início da crise sanitária, Paula e Guerra começaram a trocar mensagens via whatsapp.
 

“Um dia perguntei a ele se estava precisando de alguma coisa, e o Ruy me pediu para comprar frutas. Comecei a visitá-lo, mostrei o disco e fomos nos aproximando.”

Paula foi convidada para a festa de aniversário do cineasta, atualmente com 91 anos. Em decorrência da crise sanitária, a lista era restritíssima: apenas a família e uma ex-namorada de Guerra, além da cantora mineira. 

“A pandemia teve muita coisa ruim, mas algumas boas. Uma delas foi a aproximação com o Ruy”, ela conta.
 
Mamão, baterista do Azimuth, Paula Santoro e o maestro Arthur Verocai

Mamão, baterista do Azimuth, Paula Santoro e o maestro Arthur Verocai

Reprodução
 

Inédita de Badi Assad

Mesmo que se debruce em parte do novo repertório, Paula Santoro vai passear por sua trajetória musical. Neste sábado, interpretará canções dos discos anteriores e algumas novidades, como “Feminina” (Badi Assad e Luedji Luna), que nunca havia cantado.

Como boa filha da terrinha, ela não deixará as raízes de lado. Standards do movimento Clube da Esquina como  “O sal da terra” (Beto Guedes e Ronaldo Bastos) e “Ponta de Areia” (Milton Nascimento e Fernando Brant) estão no repertório do show.

PAULA SANTORO

Show de lançamento do álbum “Sumaúma”. Neste sábado (6/5), às 21h, no Centro Cultural Unimed BH-Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Ingressos: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia-entrada). À venda na bilheteria e no site eventim.com.br