Jeffrey Hunter é Jesus em "O rei dos reis", filme de Nicholas Ray lançado em 1961
Na fé cristã, a Sexta-feira da Paixão marca a morte de Cristo no Calvário. “Naquele momento, o véu do santuário rasgou-se em duas partes, de alto a baixo. A terra tremeu, e as rochas se partiram. Os sepulcros se abriram, e os corpos de muitos santos que tinham morrido foram ressuscitados”, escreveu o evangelista Mateus.
Diante de data tão importante, o que as pessoas gostariam de ver – ou rever – no cinema durante este período? Essa foi a pergunta que Vitor Miranda, gerente do Cine Humberto Mauro, se fez ao montar a programação da mostra “Épicos de fé”, que entra em cartaz amanhã, Sexta-feira Santa (7/4), e segue até dia 16 deste mês.
“Pensamos em filmes que, de certa forma, têm um papel na história do cinema ou discutem artisticamente a religiosidade. Trouxemos títulos icônicos que são incontornáveis, como ‘Os dez mandamentos’, de Cecil B. DeMille, e 'Ben-Hur', de William Wyler”, explica.
H.B Warner como Jesus em "O rei dos reis", dirigido por Cecil B. DeMille, que estreou em 1927
Desenho animado sobre libertação dos judeus
“Épicos de fé” será aberta com a animação “O príncipe do Egito” (1998), de Brenda Chapman, Steve Hickner e Simon Wells. O desenho conta a história do profeta Moisés, de sua conversão ao judaísmo à liderança na libertação do povo judeu e consequente fuga do Egito.
'O príncipe do Egito': saga bíblica vira animação
“É um clássico que marcou muitas pessoas”, observa o gerente do Cine Humberto Mauro. “Vamos fazer duas sessões para que mais gente possa ter a oportunidade de vê-lo no cinema.”
Em seguida, vai passar “A paixão segundo Ouro Preto” (2001), de Cininha de Paula e Rogério Gomes. Adaptação da peça “A rua da amargura – 14 passos lacrimosos sobre a vida de Jesus”, do Grupo Galpão, o filme fez parte de projeto especial da Rede Globo que buscava integrar o teatro brasileiro à televisão.
Por meio de folguedos e tradições do interior mineiro para celebrar o Natal, a trama narra nascimento, vida, morte e ressurreição de Jesus.
Duas versões para o mesmo clássico
Por fim, a Sexta-feira da Paixão termina no Cine Humberto Mauro com a sessão dupla de “O rei dos reis”, filme sobre a vida de Cristo. Serão exibidas as versões do cineasta Cecil B. DeMille, lançada em 1927, e Nicholas Ray, que estreou em 1961.
Vitor Miranda afirma que o objetivo da exibição de diferentes versões da mesma história é mostrar ao público as mudanças do fazer cinematográfico ao longo dos anos. Também ficará evidente como a visão do diretor influencia o resultado final da produção.
No sábado (8/4), haverá a exibição de “Francisco, arauto de Deus” (1950), de Roberto Rossellini, e sessão dupla de “Os dez mandamentos”, de DeMille (versões de 1923 e 1956).
Para o domingo de Páscoa, o Cine Humberto Mauro programou “A paixão de Joana d'Arc” (1928), de Carl Theodor Dreyer, e o clássico “Ben-Hur” (1959), de William Wyler.
“Épicos de fé” segue em cartaz ao longo da próxima semana com filmes que tratam a religiosidade, mas sem se limitarem à perspectiva cristã da fé.
Integram a programação “Tradição no Serro do Frio” (1978), de Schubert Magalhães, sobre a cultura mineira; “O porteiro da noite” (1974), de Liliana Cavani, a respeito da vida de nazistas e judeus após o Holocausto; “Fé e fúria” (2019), de Marcos Pimentel, que aborda a intolerância religiosa; e “A rainha Nzinga chegou” (2019), de Júnia Torres e Isabel Casimira, sobre rito de passagem em que a nova soberana, herdeira da angolana Nzinga, assume o reinado.
Charlton Heston como Moisés em "Os dez mandamentos" (1956), atração de sábado (8/4)
Em 1923, Theodore Roberts fez o papel de Moisés no filme mudo "Os dez mandamentos", que será exibido no sábado (8/4)
Religiosidade pauta o diálogo
Também fazem parte da programação títulos que dialogam com a religiosidade, como “A madona de cedro” (1968), de Carlos Coimbra (disponível apenas no streaming da Fundação Clóvis Salgado); “O sétimo selo” (1957), de Ingmar Bergman; e “A carruagem fantasma” (1921), de Victor Sjöström.
“A gente escolheu filmes de diretores reconhecidos pela cenografia. Estamos fazendo uma coisa interessante: exibir não apenas os clássicos religiosos, mas também filmes que inspiraram esses clássicos”, afirma Miranda.
• Leia também: Documentário 'Fé e fúria' investiga a relação entre tráfico e perseguição por motivos religiosos
“O sétimo selo”, por exemplo, traz diversos questionamentos e reflexões a respeito dos mistérios da vida. Será exibido junto de “A carruagem fantasma”, que acompanha a discussão entre três homens alcoolizados. O trio sustenta o argumento de que se a última pessoa que morrer no ano estiver em estado de pecado, ela será designada a guiar a carruagem que conduz as almas para o mundo dos mortos.
“Falar sobre religião no cinema é muito difícil, pois existem muitos filmes. Foi difícil abrir mão de vários títulos que gostaríamos de exibir. Mas se fossemos colocar todos, a mostra teria que durar o ano inteiro”, brinca Vitor Miranda.
Leonardo Villar e Leila Diniz em "A madona de cedro", filmado em Minas e disponível no site da mostra
FIQUE DE OLHO
• Na primeira versão de “Os dez mandamentos” (1923), Moisés (Theodore Roberts) conduz os judeus à Terra Prometida. Neste filme mudo em preto e branco, há também dois irmãos, nos EUA, cuja vida é influenciada pelas Escrituras. A versão de 1956, em cinemascope, ressalta avanços tecnológicos da sétima arte. O galã Charlton Heston é Moisés,
herói do Êxodo.
• O documentário “Fé e fúria”, do mineiro Marcos Pimentel, registra o avanço das igrejas evangélicas e conflitos motivados pela religião em favelas e periferias de BH e do Rio de Janeiro. A intolerância influencia a guerra por territórios, discriminando adeptos de religiões afro-brasileiras. Os chamados “traficantes evangélicos” impõem sua lei, processo que modifica até os cultos.
• Disponível on-line, “A madona de cedro”, de Carlos Coimbra, dialoga com a religiosidade de Minas. Como ocorre no romance homônimo de Antônio Callado, um pacato mineiro rouba a imagem de Nossa Senhora esculpida por Aleijadinho. Leonardo Villar, Leila Diniz e Sérgio Cardoso fazem parte do elenco.
PROGRAMAÇÃO
» SEXTA-FEIRA (7/4)
• 14h30 – “O príncipe do Egito” (1998), de Brenda Chapman, Steve Hickner e Simon Wells. Dublado em português
• 16h30 – “A paixão segundo Ouro Preto” (2001), de Cininha de Paula e Rogério Gomes
• 17h15 – “O rei dos reis” (1927), de Cecil B. DeMille
• 20h15 – “O rei dos reis” (1961), de Nicholas Ray
» SÁBADO (8/4)
• 14h – “Francisco, arauto de Deus” (1950), de Roberto Rossellini
• 16h – “Os dez mandamentos” (1923), de Cecil B. DeMille
• 19h – “Os dez mandamentos” (1956), de Cecil B. DeMille
» DOMINGO (9/4)
• 17h30 – “A paixão de Joana d'Arc” (1928), de Carl Theodor Dreyer
• 19h30 – “Ben-Hur” (1959), de William Wyler
» 11 DE ABRIL
• 14h – “A paixão segundo Ouro Preto” (2001), de Cininha de Paula e Rogério Gomes
• 15h – “Os dez mandamentos” (1956), de Cecil B. DeMille
• 19h –“Barrabás” (1961), de Richard Fleischer
» 12 DE ABRIL
• 14h30 – “Sansão e Dalila” (1949), de Cecil B. DeMille
• 17h – “O sinal da cruz” (1932), de Cecil B. DeMille
• 19h30 – “Fé e fúria” (2019), de Marcos Pimentel. Sessão com presença da equipe do filme e do crítico Gabriel Araújo
» 13 DE ABRIL
• 15h – “A carruagem fantasma” (1921), de Victor Sjöström
• 17h – “O sétimo selo” (1957), de Ingmar Bergman
• 19h30 – “Francisco, arauto de Deus” (1950), de Roberto Rossellini
» 14 DE ABRIL
• 14h – Curtas “Tradição no Serro do Frio” (1978), de Schubert Magalhães, e “Sinais de pedra” (1980), de Paulo Augusto Gomes
• 15h – “A paixão de Joana d'Arc” (1928), de Carl Theodor Dreyer
• 17h – “Barrabás” (1961),
de Richard Fleischer
• 19h30 – “O porteiro da noite” (1974),
de Liliana Cavani
» 15 DE ABRIL
• 14h – “Ben-Hur” (1959), de William Wyler
• 18h30 – “O príncipe do Egito” (1998), de Brenda Chapman, Steve Hickner e Simon Wells. Dublado em português
• 20h30 – “Sansão e Dalila” (1949), de Cecil B. DeMille
» 16 DE ABRIL
• 18h – “A rainha Nzinga chegou” (2019), de Júnia Torres e Isabel Casimira
• 19h30 – “O rei dos reis” (1961), de Nicholas Ray
MOSTRA “ÉPICOS DE FÉ”
Desta sexta-feira (7/4) até 16/4, no Cine Humberto Mauro do Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro). Entrada franca. Informações e programação completa no site fcs.mg.gov.br.
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