Glória Maria foi exemplo de profissional que soube aliar talento, rigor técnico e empatia
E a cada experiência que você vivia, era como se estivéssemos lá. Ah! Aquele banho gelado em um fiorde na Noruega! Como você conseguiu? E a viagem à Jamaica, na comunidade rastafári... “Tem que fumar a ganja sagrada. Eu não sabia o que era aquela ganja sagrada”, relembrou no “Roda viva”.
Você mostrou aos brasileiros a magia da TV. Foi a primeira a entrar ao vivo, em cores, no "Jornal Nacional". Emprestou seu carisma ao “Fantástico”! Recentemente, estava no “Globo Repórter”! Mas, Glória, você contava histórias de um jeito só seu. Aliás, o seu jeito de contar, a maneira de interagir com as pessoas te tornava também parte da história.
Mulher da pele preta! Espelho de um país negro, que mal se reconhecia. O cabelo black power nos primeiros anos da carreira era uma coroa! Estava ali uma rainha que não reivindicava títulos ou fazia discursos, mas fazia revolução e desbravava. A imagem à frente na tela inspirou tantas e tantas meninas negras e não só elas.
Quem um dia não sonhou ser Glória Maria? Quem um dia não te imitou? Mulher preta moveu estruturas, tudo de maneira elegante, confiante. Deu resposta ao racismo brasileiro: foi quem quis ser, trabalhou como desejava, amou como quis, não entrou em nenhuma caixinha.

A carreira de Glória Maria inspirou gerações e se tornou modelo de jornalismo no Brasil
Globo/DivulgaçãoEntão, não quero saber sua idade, não vou olhar a data do seu nascimento. Entendo o dia 2 de fevereiro, como o dia em que você parte para outra viagem, daquelas incríveis, viagem de Glória Maria.
Podemos ouvir sua voz, seu sorriso, o cruzar das mãos ao apresentar uma notícia! Você agora é ancestral e, nas culturas africanas, ancestral é futuro. Você está em cada menina preta deste Brasil que sonha em ser repórter, que sonha viajar o mundo, que sonha ser mulher dona de si e da própria história.
Não tem como escrever essa carta para você sem chorar! Mas você nos fez assim, cada um dos seus telespectadores, nos fez sensíveis às histórias, nos fez ouvi-las de maneira afetuosa. E a sua história não poderia ser contada por nenhuma outra jornalista que não Glória Maria. Você mesma fez isso. Reportou a vida de uma mulher preta que abriu caminhos: você!
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