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Estado de Minas ARTES CÊNICAS

Monólogo homenageia mulheres guerreiras que não se renderam à opressão

Figuras femininas que deixaram legado da coragem para o mundo inspiraram 'Para não morrer', em cartaz nesta quinta (24/11), no Galpão Cine Horto


24/11/2022 04:00 - atualizado 23/11/2022 23:29

Com longos cabelos negros, atriz Nina Inoue está de olhos fechados e levanta o braço em cena da peça Para não morrer
Nena Inoue defende a importância de reverter o apagamento da trajetória de mulheres pretas, guerrilheiras e vítimas do feminicídio (foto: Lidia Ueta/divulgação)

"Incluí falas sobre as ditaduras latino-americanas, ilustrando com o fato de nenhum torturador ter sido julgado no Brasil, o que turva nossa memória ao ponto de um parlamentar prestar homenagem ao coronel Brilhante Ustra e ainda ser eleito presidente da República"

Nena Inoue, atriz


A partir da leitura “com o lápis na mão” do livro “Mulheres” (1977), de Eduardo Galeano, nasceu o espetáculo “Para não morrer”, que estreou em 2017, em Curitiba. Protagonizada pela atriz curitibana Nena Inoue e gestada em Belo Horizonte, só agora a peça tem sua primeira apresentação na capital, como atração da Mostra de Monólogos do Galpão Cine Horto.

Vencedora do Prêmio Shell de Melhor atriz com o monólogo que ocupa o palco do Teatro Wanda Fernandes, nesta quinta-feira (24/11), às 20h, Nena diz que a direção, assinada por Babaya, explica a conexão da montagem com Belo Horizonte.

“Queria muito fazer em BH, mas nunca dava certo, tinha problemas com datas, veio depois a pandemia. Já tinha até desistido”, diz. A partir do encontro com a atriz mineira Kelly Crifer, no Rio de Janeiro, surgiu a possibilidade de participar, como espetáculo convidado, da Mostra de Monólogos,  evento voltado para os alunos do Galpão Cine Horto.

Biografias resgatadas

Nena afirma que no livro “Mulheres”, Eduardo Galeano (1940-2015) recuperou a biografia de personagens históricas cuja importância foi reduzida, deturpada ou ignorada pelos donos do poder. Trazendo à memória feitos contra a opressão, a atriz dá vida à narradora limitada fisicamente, mas que insiste em falar e conecta vivências e aprendizados, evocando muitas presenças.

“São histórias verídicas de mulheres de vários lugares do mundo, de épocas distintas, que tiveram ressonância forte em mim. Fui contaminada por essas histórias e quis transmitir isso para as pessoas. Chamei o Francisco Mallmann, um jovem dramaturgo, para fazer a adaptação, falei com Babaya, minha parceira há muitos anos, e vim ensaiar em Belo Horizonte”, conta a atriz.

“Para não morrer” transcende a pauta do feminismo, afirma Nena. De acordo com ela, trata-se de espetáculo para todos os públicos, que pode ressoar para além da cena teatral. Passados cinco anos da estreia, o monólogo se adensou, segundo a atriz. Exemplo disso é a inclusão no texto do caso Marielle Franco, vereadora carioca assassinada em 2018.

“Também incluí falas sobre as ditaduras latino-americanas, ilustrando com o fato de nenhum torturador ter sido julgado no Brasil, o que turva nossa memória ao ponto de um parlamentar prestar homenagem ao coronel Brilhante Ustra e ainda ser eleito presidente da República”, diz, referindo-se ao militar que comandou sessões de tortura, inclusive da ex-presidente Dilma Rousseff, no governo militar. 

“Também falo do isolamento, porque passei por ele, fomos atravessados pela reclusão. Mas é bom ressaltar: nada disso é colocado de forma didática.”

Paralelamente ao viés histórico, “Para não morrer” dialoga com o mundo de agora. “A peça está aberta às coisas que estão acontecendo. A história da coragem e do apagamento de mulheres fortes, a figura do opressor, do oprimido e daquele que contesta, isso vem desde sempre. Tratamos de questões históricas, das mulheres pretas, de escravidão, de guerrilheiras, de mulheres assassinadas”, destaca.

"A história da coragem e do apagamento de mulheres fortes, a figura do opressor, do oprimido e daquele que contesta, isso vem desde sempre"

Nena Inoue, atriz


Seminário de geografia

O desejo de que “Para não morrer” reverberasse além do palco se concretizou, segundo a atriz. Ela conta que apresentou o monólogo em seminário de geografia em Curitiba, cuja programação trazia apresentações de grupos de alunas em trabalhos relativos à violência imposta à mulher.

“Um grupo de meninas assistiu ao espetáculo. Naqueles trabalhos, várias deram depoimentos sobre quando foram abusadas ou sofreram violência doméstica. Nós, mulheres, sabemos que lugar é este de que a peça fala”, diz.

O público masculino também é impactado, revela Nena Inoue. “Durante a temporada em São Paulo, o comum era virem mais homens que mulheres conversar comigo ao final da apresentação. Agradecidos, porque muitas pessoas simplesmente não têm noção de que estão sendo machistas ou racistas”, afirma.

“PARA NÃO MORRER”

Monólogo com Nena Inoue. Nesta quinta-feira (24/11), às 20h, no Teatro Wanda Fernandes do Galpão Cine Horto (Rua Pitangui, 3.613, Horto). Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia), à venda na plataforma Sympla. Informações: (31) 3481-5580.






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