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Estado de Minas NOVOS TEMPOS

Adeus, amadorismo. Músico agora tem de saber gerir a própria carreira

Cantores, compositores e produtores dão aulas de gestão para artistas da cena independente. 'É negócio e tem nota fiscal envolvida', avisa Maíra Baldaia


20/02/2022 04:00 - atualizado 20/02/2022 09:23

O cantor e compositor Octavio Cardozzo sentado numa varanda, com o pé sobre um globo formado por espelhos, tendo ao fundo paisagem de montanhas
O cantor e compositor Octavio Cardozzo vai ensinar técnicas de gestão e comunicação na Escola Itinerante de Música (foto: Lucca Mezzacappa/divulgação )
Foram abertas, na última quarta-feira (16/2), as inscrições para a segunda edição da Escola Itinerante de Música, projeto que tem o objetivo de contribuir para a formação profissional de jovens artistas, não apenas tecnicamente, mas principalmente na inserção desses profissionais no mercado.

Na sexta-feira (18/2), fechou-se a terceira turma do programa Formação de Estrategista Musical, ministrado por Nathy Faria. Nos próximos dias, será lançada a edição deste ano do curso Nosso Negócio é Música, oferecido pelo Sebrae-MG. No início deste mês, Alex Contri ministrou curso de discotecagem e marketing para DJs nos centros culturais do Bairro das Indústrias e do Alto Vera Cruz.

"As pessoas começam de forma muito artesanal, sem conhecer os meandros, as ferramentas disponíveis ou mesmo a legislação, então a carreira vai à deriva"

Leo Moraes, músico e empresário



Tantas ofertas comprovam que já não basta saber cantar e/ou tocar para iniciar e sustentar uma trajetória profissional no cenário da música pop. Tão importante quanto esses requisitos básicos, o conhecimento sobre desenvolvimento e gestão da carreira artística começou a se impor em meados da primeira década deste século, com a quebra do monopólio das grandes gravadoras, a expansão do mercado independente, o crescimento do streaming e a democratização dos meios de produção e distribuição musical.

A "EMPRESA"

O novo contexto gerou aumento notável da oferta de cursos e consultorias com foco na música independente como negócio e no artista como empreendedor capaz de fazer sua “empresa” girar.

Com a primeira edição realizada de forma remota em 2020, a Escola Itinerante de Música – projeto da Peleja Lab, fundada em 2016 pelo cantor e compositor Octavio Cardozzo e pela produtora cultural Yara Mourthé – segue com inscrições abertas até o próximo dia 27, pelo link bit.ly/escolaitinerante2. Serão selecionados 18 artistas solo ou bandas representantes de todas as regionais de Belo Horizonte.

Eles vão participar de workshop intensivo ministrado por reconhecidos profissionais do cenário musical da capital: a cantora e compositora Maíra Baldaia, o baterista Gabriel Bruce, a baixista Camila Rocha, o guitarrista PC Guimarães, a artista visual Camila Buzelin, o músico e produtor Leonardo Marques e o próprio Octavio Cardozzo.

O curso presencial ocorrerá entre os dias 19 de março e 10 de abril, nos centros culturais Urucuia e Usina da Cultura. Será oferecida ajuda de custo de R$ 400. “O que motivou a criação da Escola Itinerante de Música, em 2020, foi o boom de cursos de gestão e prática musical. Havia muitos e com variados temas, mas a gente notava que boa parte tinha foco apenas teórico, distante da realidade de artistas e bandas que estavam começando”, diz Cardozzo.

Responsável por lecionar sobre gestão e comunicação, ele pretende transmitir a ideia de que a carreira funciona como empresa, o que implica em trabalhar com parceiros e adotar a divisão clara de funções.

“No meu trabalho como cantor, faço a gestão inteira. Então, sei desde como funciona a gravação até a parte financeira, cuidando de cada centavo que chega na minha conta. A parte administrativa é toda por minha conta”, diz Cardozzo.

Professores oferecerão subsídios teóricos sobre a área que dominam, além da vivência prática com base em sua própria trajetória. Alunos podem transitar de uma cátedra a outra, conforme seus interesses. “Esse é o diferencial. A Camila, por exemplo, já dá cursos de contrabaixo no YouTube, mas aqui ela também vai passar sua experiência de vida. O Gabriel vai falar sobre a parte teórica de ser baterista, mas também sobre a experiência com o Graveola, as viagens, os festivais internacionais de que participou”, aponta.

Convidada a participar da Escola Itinerante de Música, Maíra Baldaia esteve à frente, no ano passado, do Revoada, ao lado de Amorina e Débora Costa. O projeto estimulou novos artistas de BH a construírem o próprio caminho por meio do processo de qualificação, fortalecimento da carreira e da troca de experiências.

Olhando para a câmera, a cantora Maíra Baldaia está sentada de perfil, usando vestido de linho cinza e com tatuagem no braço esquerdo
A cantora e compositora Maíra Baldaia aponta acesso à informação e às novas tecnologias como principal lacuna na formação de artistas iniciantes (foto: Lorena Zschaber/divulgação )

ECOSSISTEMA DINÂMICO

Maíra identifica o acesso à informação e às novas tecnologias como principal lacuna na formação de artistas iniciantes. “O ecossistema musical está o tempo todo se atualizando. Não adianta só cantar, é preciso entender de distribuição, produção, direitos autorais. A Escola Itinerante e outros projetos pretendem mostrar as várias etapas de uma carreira: é trabalho, é negócio, tem nota fiscal envolvida”, aponta.

Ela ressalta a necessidade do olhar prático, não romantizado, sobre a carreira. “Você tem que ver o palco, mas também o que está em volta dele. O cenário digital é positivo, democrático, mas pode ser muito cruel se você não estiver pesquisando, se atualizando, entendendo o que está acontecendo. Aí é que o calo aperta”, diz.

Uma das ações pioneiras na área em BH foi o curso Nosso Negócio é Música, do Sebrae-MG, criado em 2010 sob supervisão do produtor e gestor cultural Romulo Avelar. Aluno da primeira turma, o músico e empresário Leo Moraes – um dos sócios da casa de shows A Autêntica – hoje é um dos coordenadores e professores do projeto.

“A primeira turma foi muito marcante, tinha como alunos Marku Ribas, Pedro Morais, Érika Machado, o Roger Deff, gente muito atuante”, recorda. Depois de formado, ao longo dos anos Leo foi convidado para dar palestras sobre produção musical e gerenciamento de casa de shows. “Erick Krulikowski assumiu o curso e, em 2019, me convidou para fazer o programa com ele, dividir a coordenação e dar aulas. Estou lá desde então”, conta.

A ideia é evitar o amadorismo. “O curso abrange a formatação de um conceito artístico, o que passa pela presença de palco e transformar isso em produto para o mercado, falando de circulação digital, marketing, redes sociais”, detalha Leo. “As pessoas começam de forma muito artesanal, sem conhecer os meandros, as ferramentas disponíveis ou mesmo a legislação, então a carreira vai à deriva. A gente dá aos artistas as rédeas da própria carreira.”

Realizado em BH até 2019, o Nosso Negócio é Música iniciou o processo de descentralização a partir de 2020, quando migrou para Sete Lagoas. Em 2022, chega a Nova Lima, com 200 horas de conteúdo e aulas ministradas presencialmente.

“A cada ano o curso é um pouco diferente, porque os participantes influenciam muito o seu direcionamento. Há pessoas que desistem da música durante o processo, porque o curso obriga a pessoa a ter olhar mais crítico para a própria carreira. Todas as trajetórias saem transformadas”, aponta.

Nathy Faria fez seu trabalho como cantora e compositora reverberar na cena local no início da década passada, com lançamento de disco e shows dentro e fora do estado. Porém, não levou a carreira adiante porque, naquele momento, não compreendia o negócio da música. Ela entrou para o curso do Sebrae em 2013, capacitou-se e desde 2014 atua como consultora de music business.

Usando camiseta preta onde estão escritas as palavras Boy London, a cantora e estrategista Nathy Faria sorri, tendo ao fundo estruturas de ferro de uma antiga construção
Nathy Faria trocou a carreira de cantora pelo trabalho como estrategista musical (foto: Cohen/divulgação )

MERCADO PROMISSOR

Em 2021, Nathy criou o curso para formação de estrategista musical – termo cunhado por ela para seu próprio ofício. “Com a chegada da pandemia, artistas passaram a ter que se virar no ambiente digital. Vi essa oportunidade de mercado. Muita gente ama marketing e ama música, mas não sabe como uni-los. Tenho essa formação, a ideia foi ensinar a minha profissão”, explica.

Atualmente morando na Espanha, Nathy explica que o curso é totalmente on-line, dividido em 10 módulos. “São aulas práticas, passo planilhas, PDFs, para a pessoa ir acompanhando e aplicando aquilo na carreira dela. Já vi gente com muita teoria, mas sem enxergar na prática como aquilo se encaixa no dia a dia da carreira. O foco do estrategista é esse: aprender e ir fazendo simultaneamente”, aponta.

A atividade inclui consultoria semanal, para dirimir dúvidas, e conta com a orientação de profissionais do mercado. A terceira turma, recém-formada, vai aprender com Anita Carvalho, que cuida da carreira do cantor Diogo Nogueira, e Carol Jafet, empresária do rapper Rincón Sapiência.


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