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Estado de Minas CINEMA

Filme protagonizado por Bárbara Colen estreia amanhã no Festival de Berlim

"Fogaréu", da goiana Flávia Neves, se baseia em história real e será exibido nesta terça (15/2) na mostra Panorama. Brasil não disputa o Urso de Ouro


14/02/2022 04:00 - atualizado 13/02/2022 18:51

a atriz Bárbara Colen caminha em rua de Goiás Velho, em cena de Fogaréu
Bárbara Colen é Fernanda, a protagonista de "Fogaréu", cuja história é baseada na trajetória familiar da diretora e roteirista (foto: ArtHouse/Divulgação)

 

Protagonizado pela atriz mineira Bárbara Colen, “Fogaréu”, primeiro longa-metragem da diretora goiana Flávia Neves, terá sua primeira exibição no Festival de Berlim, nesta terça-feira (15/2). O filme tem outras três sessões previstas na mostra alemã, que teve início no último dia 10 e prossegue até o próximo domingo (20/2). 

 

Incluído na mostra Panorama, paralela à disputa pelo Urso de Ouro, o filme tem inspiração em fatos reais e é focado em Fernanda, jovem que retorna à sua terra natal, a histórica Cidade de Goiás, antiga capital do estado, disposta a confrontar fatos obscuros de seu passado.

 

Bárbara conta que foi procurada pela produtora mineira radicada no Rio de Janeiro Vânia Catani, que a convidou para uma conversa com a diretora. A atriz, que já estrelou produções como “Bacurau”, de Kléber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, que disputou o Festival de Cannes, e “No coração do mundo”, de Gabriel e Maurílio Martins, exibido no Festival de Roterdã, conta que se dispôs a participar do projeto,  assim que ouviu de Flávia a história que tinha em mente.

 

O contexto em que “Fogaréu” se baseia é o das relações sociais estabelecidas durante 100 anos na Cidade de Goiás com pessoas com transtornos mentais, denominadas de “bobas”, oriundas de regiões vizinhas ou das próprias famílias do lugar, que eram “adotadas” para prestar toda sorte de serviços domésticos. Ainda hoje, encontram-se reminiscências desse passado na comunidade.

 

"O filme é ficcional, mas tem um pouco de documental. Eu não tinha noção dessa história, das crianças deficientes que trabalhavam nas casas das famílias mais abastadas. As mulheres eram muitas vezes violentadas, tinham muitos filhos e, quando ficavam velhas, eram levadas para asilos. Fiquei muito impressionada. Eu, como artista, principalmente no cinema, tenho o desejo de contar essas histórias, de pessoas que são silenciadas, que são cobertas por uma cortina de invisibilidade" Bárbara Colen, atriz

Bárbara Colen, atriz

 

 

“O filme é ficcional, mas tem um pouco de documental. Eu não tinha noção dessa história, das crianças deficientes que trabalhavam nas casas das famílias mais abastadas. As mulheres eram muitas vezes violentadas, tinham muitos filhos e, quando ficavam velhas, eram levadas para asilos. Fiquei muito impressionada. Eu, como artista, principalmente no cinema, tenho o desejo de contar essas histórias, de pessoas que são silenciadas, que são cobertas por uma cortina de invisibilidade”, diz Bárbara.

 

VOZ FEMININA

Ela destaca que também se interessou pelo roteiro e pela personagem pelo fato de Fernanda ser “uma mulher que fala, que incomoda, que põe o pé na porta e está disposta a se fazer ouvir”. A atriz considera que, ainda hoje, muitos diretores têm dificuldade para colocar voz nas personagens femininas, e diz que “Fogaréu” evita muito bem essa falha. “É um filme roteirizado e dirigido por uma mulher, então tem ali um conjunto de subjetividade feminina que me interessa muito. São nossas histórias.”

 

“Fogaréu” contou com equipe majoritariamente feminina, o que, na opinião de Bárbara, redundou numa produção efetivamente coletiva. “A fotógrafa, Luciana (Basseggio); a primeira assistente, Débora; a continuísta, Raquel, todas nós estávamos contando a história junto com a Flávia, cena a cena. Todas estávamos, de fato, pensando em como aquilo podia ser feito. Acho que esse espaço, essa fluidez de fala e de escuta é muito maior quando a gente está com uma equipe de mulheres”, comenta.

 

“Por melhores que tenham sido as pessoas com quem já trabalhei – e nisso eu dei sorte – o universo dos homens não chega, não consegue entender determinadas coisas. Mesmo diante de uma escuta aberta, era difícil eu dizer, expressar algum incômodo que por ventura eu sentia na cena. Era difícil para eles entenderem. Numa equipe feminina, esse incômodo já está automaticamente absorvido por todo mundo”, assinala.

 

vestida de preto, a diretora Flávia Neves sorri
A goiana Flávia Neves estreia no formato longa-metragem com "Fogaréu" que terá quatro sessões na Berlinale (foto: Divulgação)
 

 

MEMÓRIA FAMILIAR


Filmado entre outubro e dezembro de 2019, em Goiás Velho, “Fogaréu” tem uma trama que se desenrola, segundo a sinopse, na fronteira entre o real e o fantástico, entre o passado colonial e a modernidade avassaladora do agronegócio. Flávia Neves diz que o longa espelha uma memória familiar recalcada. “A questão da adoção de pessoas em condições de vulnerabilidade para submetê-las é uma prática, infelizmente, comum no interior do Brasil até hoje. Minha mãe foi uma dessas pessoas ‘adotadas’ para ser uma criada”, diz.

 

Bárbara Colen conta que já esteve em Berlim participando de um workshop, mas que esta é a primeira vez que vai ao festival com um filme. Ela diz nutrir uma expectativa grande quanto à recepção de “Fogaréu”. “Gosto muito do Festival de Berlim, tem filmes muito interessantes, com uma curadoria com uma visão bem aberta. Fico feliz porque ‘Fogaréu’ vai estrear num festival que tem a ver com ele, que entende a proposta do filme. E estrear em Berlim abre muitas portas. Mais do que a questão da premiação, pesa o quanto essa história pode chegar às pessoas. Berlim aponta esse caminho”, diz.

Além da sessão de amanhã, “Fogaréu” volta a ser exibido na quarta-feira (16/2), na sexta-feira e no sábado. Flávia Neves, Bárbara Colen, a produtora Vânia Catani e o ator Eucir de Souza, que dá vida ao personagem Antônio, estarão presentes nas sessões.

 

Em 2022, a mostra competitiva do Festival de Berlim traz, ao lado de veteranos como François Ozon, Paolo Taviani, Claire Denis, Hong Sang-soo e Rithy Panh, uma quantidade expressiva de estreantes em longas-metragens, especialmente cineastas mulheres. Além de “Fogaréu”, o Brasil está representado por outros cinco filmes, alguns em coprodução. São eles os longas-metragens "Mato seco em chamas", de Adirley Queiroz e Joana Pimenta; "Três tigres tristes", de Gustavo Vinagre; e os curtas-metragens "Se hace el camino al andar", de Paula Gaitán; "Manhã de domingo", de Bruno Ribeiro; "O dente do dragão", de Rafael Castanheira Parrode.

 
ENFRENTAMENTO À COVID-19


O Festival de Cinema de Berlim está realizando sua 72ª edição presencialmente, mas com um formato reduzido e seguindo estritos protocolos de enfrentamento da COVID-19. Segundo a revista “Variety”, diferentemente do que se viu em Cannes e Veneza no ano passado, a Berlinale está exigindo que convidados e membros do público realizem testes diários para acessar as exibições, caso tenham sido vacinados apenas duas vezes.

 

“Os ônibus de teste, disponíveis tanto para credenciados quanto para o público, fizeram aproximadamente 2.700 testes e tiveram apenas 54 testes positivos”, disse o porta-voz do festival. Ele apontou que há 2% de testes positivos, o que é “menos que a porcentagem média de testes positivos em Berlim”. 

 

Além dos testes diários e máscaras obrigatórias em ambientes fechados, outras medidas de controle da COVID-19 implementadas na Berlinale incluem a redução  pela metade da capacidade de assentos dentro dos cinemas. 

 

 


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