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Estado de Minas PÉ NA PROFISSÃO

Conheça três jovens atrizes que acabaram de se formar no Palácio das Artes

Iniciando a carreira num momento de crise instaurada pela pandemia, elas contam por que escolheram essa profissão e o que esperam dela


13/07/2021 04:00 - atualizado 13/07/2021 11:27

As atrizes no cenário do espetáculo ''...Incomoda, incomoda, incomoda...'', dirigido por Rita Clemente, que marcou a formatura da turma do Cefart e foi concebido para apresentação virtual(foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press)
As atrizes no cenário do espetáculo ''...Incomoda, incomoda, incomoda...'', dirigido por Rita Clemente, que marcou a formatura da turma do Cefart e foi concebido para apresentação virtual (foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press)

Quando as luzes do palco do Grande Teatro, no Palácio das Artes, se apagaram na noite do último domingo (11/07), foi encerrada a curta temporada de “...Incomoda, incomoda, incomoda...”, espetáculo de formatura dos alunos do curso técnico de teatro do Centro de Formação Artística e Tecnológica (Cefart) da Fundação Clóvis Salgado.

A montagem, com dramaturgia e direção de Rita Clemente, encerra um ciclo, mas marca também o início de outro. Onze novos atores chegam agora a um mercado de trabalho que sempre viveu de criatividade e poucos recursos. O espetáculo também traz outros significados. Foi a primeira montagem teatral a receber plateia em meio à nova abertura das atividades culturais em Belo Horizonte. E ainda marca os 35 anos do curso.

Rita Clemente foi escolhida para trabalhar com o grupo pelos próprios formandos. Atriz, diretora e dramaturga com franca dedicação à pesquisa, ela é egressa do mesmo curso. Formou-se na primeira turma, em 1989, época em que o Centro de Formação ainda atendia pelo nome de Cefar. Integrou o elenco do espetáculo de formatura, “A flor da obsessão – Fragmentos”, de Nelson Rodrigues, com direção de Eid Ribeiro.

FAZER

Nesse período, já dava aulas na escola, onde passou quase uma década como professora. “Em uma escola técnica, o processo pedagógico precisa principalmente da experiência do fazer. E é aí que mora a questão: fazer o quê, para quem e para quê?. As responsabilidades são muito grandes. Para mim, a coisa mais importante para um professor é discernir do que é que ele gosta, prefere, da linguagem. A linguagem, em uma escola, não precisa ser a do professor, senão ele tira do aluno a possibilidade da escolha.”

Há muitos anos sem dar aulas no Cefart, mas volta e meia dirigindo espetáculos de formatura, Rita comenta que, a partir do momento em que é convidada, ela busca levar para os alunos a experimentação com quem trabalha. 

“...Incomoda, incomoda, incomoda...” é resultado disso, pois trata da relação dos animais, humanos e não humanos, segundo a própria Rita. “Não acho que é o ponto de que todas as pessoas têm que ser veganas. A questão é a crueldade de um sistema que envolve comercialização. E há ainda nossa relação com os humanos, de encarceramento, exploração.”

O título da montagem é facilmente explicado quando vemos, em cena, um boneco de um elefante, bastante realista e em tamanho real (criado por Eduardo Félix e Antônio Lima), dominar o palco do Grande Teatro. Hari, o nome do personagem, é solto do zoológico de Belo Horizonte por ativistas e vai parar na Avenida Assis Chateaubriand, na altura do Viaduto de Santa Tereza. É ali, em meio ao trânsito da cidade, que o caos se instala.

Todo o elenco está praticamente o tempo todo em cena. A policial interpretada por Mariana Babeto mostra o despreparo das pessoas que vivem sob regras e nunca tiveram interesse (ou inteligência) para contestá-las. A criança de nome Mônica (a referência é a personagem de Mauricio de Sousa) vivida por Helena Correa tem personalidade forte e posição questionadora. Já a jornalista sensacionalista criada por Sara Silva atua como uma espécie de narradora – os escrúpulos, que somem quando ela está em frente às câmeras, a fazem pagar um preço caro quando ela sai do ar.

“...Incomoda, incomoda, incomoda...” nasceu como um formato virtual. A dois dias da estreia, a equipe soube da autorização para a plateia. Mesmo terminada a temporada, ele segue disponível por mais uma semana em formato on-line. E o elenco segue unido, já pensando em novas temporadas e numa possibilidade de virar grupo.  

(foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press)
(foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press)

LIBERDADE PARA EXPERIMENTAR

. Mariana Babeto

Aos 21 anos, ela conhece bem o Palácio das Artes. Tinha 12 quando entrou para o Coral Infantojuvenil da Fundação Clóvis Salgado. Ficou só um tempinho, pois já naquele tempo havia se encantado pelo teatro. Fez o curso básico de teatro até 2017 e, um ano mais tarde, entrou para o curso técnico. 

“O teatro me encantou justamente pela liberdade que ele te dá para experimentar”, comenta Mariana, que vem de uma família de muitos músicos, “curiosos”, não profissionais. Assídua, como boa estudante de artes cênicas, na plateia traz como referência duas companhias mineiras que surgiram também com o encontro de ex-alunos do Cefart: a Luna Lunera e a Miúda.
Neste ano, além do teatro, Mariana terá outra formatura. Vai se graduar no fim de 2021 em ciências biológicas pela UNA.

Ainda que sejam duas carreiras absolutamente distintas, ela pretende seguir em frente com as duas. “Não quis abrir mão de nenhuma”, comenta ela, que sabe que o futuro não será fácil. “A gente escuta muita coisa, mas tento aprender com as histórias que ouvi . Vou ter que ralar muito como atriz, mas estou preparada.”

(foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press)
(foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press)

ATRAÇÃO PELA IDEIA DA REDE

. Sara Silva 

O teatro faz parte da vida de Sara desde os 12 anos, quando entrou para a Escola do Sesc. Foram idas e vindas e uma passagem mais intensa pelo curso livre do Galpão Cine Horto, até que se formasse na FCS. Hoje, aos 28, também formada em jornalismo pela PUC-Minas, ela tem consciência de que não consegue ficar longe dos palcos.

“Quero investir na carreira. Sentia falta de estar em cena, de ensaiar, do calor que sinto no fazer teatral”, conta ela, que pensa no teatro coletivamente. “Gosto muito da ideia de ter uma rede, de fazer tudo junto, algo que o teatro propõe.” Como espectadora ela se interessa por montagens que ativam suas emoções. “Quando entro na história que está sendo transmitida, entro na ficção junto com o ator. É isso que busco como atriz.”

Fã da dramaturgia de Rita Clemente – “que traz reflexões e críticas” –, Sara cresceu no Sagrada Família. Então, desde muito nova teve o Galpão, com sede no Horto, bairro vizinho, como referência. Outros grupos que ela admira são Luna Lunera, Zula e o Morro Encena, nascido no Aglomerado da Serra. 

(foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press)
(foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press)

TROCAS DE EXPERIÊNCIA

. Helena Correa

Assistir a uma apresentação de “Os gigantes da montanha” (2013), do Grupo Galpão, na Praça do Papa, marcou profundamente Helena, de 26 anos. “Ali foi a primeira vez que o teatro me deixou emocionada”, diz ela. Tanto que ela pensa o fazer teatral sempre em grupo. “A convivência te permite trocar com pessoas mais experientes e com aquelas que estão no mesmo nível que você”, diz.

Estudante de pedagogia na UFMG, antes de chegar à FCS Helena passou pelo Galpão Cine Horto. Sua primeira experiência como atriz foi na montagem infantil “O firme soldadinho de chumbo”, com direção de Simone Ordones, atriz do Galpão. Ela sabe que o mais difícil começa agora. “Um dos desafios é a inserção do ator no mercado de trabalho. E para quem está saindo da escola, é complicado entrar no meio.”

Mas Helena já tem projetos em vista. Em setembro, vai apresentar, com uma amiga, em formato de radionovela, uma cena curta na A.Mostra-LAB, dedicada a formatos breves de teatro. E há ainda a intenção de continuar com a carreira de “...Incomoda, incomoda, incomoda...”, inscrevendo o projeto do espetáculos em editais e festivais.


ESPETÁCULO DISPONÍVEL

O vídeo com a apresentação de “...Incomoda, incomoda, incomoda...” ficará disponível no canal do YouTube da FCS até as 11h da próxima segunda-feira (19/07). 


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