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Mostra Vertentes, que começa hoje, reage a sucateamento imposto à cultura

Evento da Associação Campo das Vertentes reúne 10 artistas que apostam em projetos autorais, apesar da pandemia e do boicote do governo federal


24/06/2021 04:00 - atualizado 24/06/2021 07:36

Titane diz que mostra da Associação Campo das Vertentes é reação ao sucateamento do setor cultural(foto: Luiza Palhares/divulgação)
Titane diz que mostra da Associação Campo das Vertentes é reação ao sucateamento do setor cultural (foto: Luiza Palhares/divulgação)

A partir desta quinta-feira (24/06), a Associação Campo das Vertentes realiza a primeira “Mostra Vertentes”, evento virtual e gratuito que irá apresentar 10 artistas da música e do teatro de Belo Horizonte. Até domingo (27/06), sempre às 20h, quatro programas se voltarão para a trajetória e o trabalho de cantores, atores, compositores e instrumentistas que iniciaram suas carreiras nas oficinas e espetáculos da associação criada por Titane, João das Neves, Irene Ziviani e Sérgio Pererê.

Nos quatro vídeos disponibilizados via YouTube, o público conhecerá Bia Nogueira, Kátia Aracelle, Irene Bertachini, Rodrigo Jerônimo, Rubens Aredes, Jardel Rodrim, Michelle Ferreira, Amorina, Larissa Horta e Vânia Silvério. As produções mostram como cada um desenvolve seu trabalho.

''A associação é mais do que um CNPJ ou um suporte administrativo para artistas. Ela funciona como um coletivo marcado por troca de ideias e estratégias de sobrevivência''

Titane, cantora



A cantora Bia Nogueira prepara o segundo disco autoral(foto: Associação Campo das Vertentes/divulgação)
A cantora Bia Nogueira prepara o segundo disco autoral (foto: Associação Campo das Vertentes/divulgação)

PERSONALIDADE

Idealizadora do projeto, Titane explica que a ideia da mostra surgiu durante a pandemia. “A iniciativa marca a nova fase da associação. Estamos num momento em que a produção individual dos artistas tem ganho cada vez mais destaque. Todos os 10 já têm personalidade artística forte e trabalho significativo para apresentar”, afirma.

Todos integraram o corpo cênico de algum dos espetáculos desenvolvidos pela Associação Campo das Vertentes. “Neste contexto da pandemia, o projeto tem o objetivo de movimentar a carreira dos convidados e também de outros profissionais da música, do audiovisual e da produção. É a nossa contribuição para uma cena muito prejudicada pela paralisação das atividades no último ano.”

Devido à COVID-19, cada vídeo foi gravado separadamente em dois locais, seguindo protocolos de segurança: no estúdio Engenho e no Parque Lagoa do Nado, onde ocorreram as primeiras oficinas da associação.

Roteirizados por Brisa Marques e Irene Bertachini, com direção de arte assinada por Lucas Bois, os vídeos trazem apresentações musicais e cênicas, além de entrevistas com os artistas, canções e poemas de João das Neves, Sérgio Pererê e Eduardo Galeano.

Criada em 2004 como desdobramento de oficinas e espetáculos realizados por Titane, João das Neves, Irene Ziviani e Sérgio Pererê, a Associação Campo das Vertentes desenvolve processos coletivos de criação, realizando formação artística integrada à montagem de espetáculos.

Entre as obras mais conhecidas do grupo estão a peça “Madame Satã” (2007) e o show “Titane e o Campo das Vertentes” (2010).

“A associação é mais do que um CNPJ ou um suporte administrativo para artistas. Ela funciona como um coletivo marcado por troca de ideias e estratégias de sobrevivência”, explica Titane. “Pensamos questões como o aperfeiçoamento profissional e a compreensão de políticas públicas. Participam artistas que têm o mínimo de afinidade. Somos um coletivo integrado”, pontua.

Por conta da crise de saúde, o coletivo quase perdeu sua sede, no Bairro Cachoeirinha, na Região Nordeste de BH. Fechada desde o início da pandemia, a casa estava sempre ocupada por um dos associados. O que possibilitou a sobrevivência do Campo das Vertentes foi o apoio emergencial da Prefeitura de Belo Horizonte e, agora, a captação, por meio da Lei Aldir Blanc, para a realização da mostra.

“A Lei Aldir Blanc, fruto da mobilização dos trabalhadores da cultura, criou condições para a continuidade da nossa produção. É uma conquista, enquanto o governo federal insiste em sucatear a cultura brasileira”, avalia Titane.

Com a pandemia, a associação também expandiu sua presença on-line. Apesar de manter canal no YouTube há mais tempo, utilizava a plataforma apenas para questões internas. A partir de agora, a ideia é alimentá-la com a divulgação da produção artística e intelectual que desenvolve.

Desde a criação de sua conta no Instagram, em maio, a Associação Campo das Vertentes tem divulgado os projetos desenvolvidos ao longo dos últimos anos. Segundo Titane, há planos de promover cursos e oficinas virtuais.

“Como nossa associação surgiu a partir de uma experiência de formação artística, temos vontade de compartilhar os métodos desenvolvidos ao longo de todos esses anos. Não só compartilhar, mas adaptá-los para o on-line”, explica a cantora.

Larissa Horta será um dos destaques de domingo (foto: Lorena Zchaber/divulgação)
Larissa Horta será um dos destaques de domingo (foto: Lorena Zchaber/divulgação)

Plataforma de talentos

O primeiro dia da “Mostra Vertentes” será protagonizado por Bia Nogueira e Kátia Aracelle, que participaram do espetáculo “Madame Satã”. Bia é cantora e gestora cultural, além de integrante do coletivo Imune. Kátia é atriz e atuou nos longas “Arábia” (2018), de João Dumans e Affonso Uchoa, e “Baixo Centro” (2018), de Ewerton Belico e Samuel Marotta, além do curta “Plano controle” (2018), de Juliana Antunes.

No vídeo, as duas apresentam músicas e textos do espetáculo “Dandara para todas as mulheres”, do Grupo dos Dez, companhia que nasceu na associação.

oficina “Eu e Kátia somos parceiras de cena há muitos anos em espetáculos dirigidos pela Titane e pelo João das Neves”, conta Bia. A relação da cantora com a Associação Campo das Vertentes começou há 16 anos, durante a oficina “A voz como expressão do corpo em movimento”.
 
Na época, Bia cursava geografia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e se inscreveu por conta de seu interesse no universo musical. Posteriormente, a cantora abandonou a graduação para cursar música na mesma universidade.

“Se hoje sou artista, é por causa da Associação Campo das Vertentes. E era para ser. Cheguei atrasada para fazer a inscrição na oficina, no último dia e no último horário. Pedi pelo amor de Deus para me inscreverem. Toda a ementa da oficina era pensada para levantar o espetáculo 'Rosa dos ventos'. Foi uma experiência muito impactante, porque a metodologia era muito específica”, diz.

Apesar de não ser oficialmente associada por questões burocráticas, Bia sempre manteve relação muito próxima com a Campo das Vertentes. Tanto é que, antes da pandemia, ela frequentava a casa da Cachoeirinha periodicamente por conta de outros projetos.

“Estávamos no meio do processo de montagem de um espetáculo, já no processo de imersão, criando cenas. Mas tivemos de parar tudo”, relembra. “Eu também estava produzindo o Festival Imune, que pela primeira vez contaria com um patrocínio grande e aconteceria em São Paulo, no Rio de Janeiro e em BH, com a presença da Elza Soares e do Djonga.”

Voltado para a promoção do protagonismo de artistas musicais negros, esse evento ganhou edição virtual e Bia foi eleita Profissional do Ano pelo Prêmio SIM. Segundo ela, 2020 foi um ano intenso de trabalho, o que a levou a pisar no freio e rever a quantidade de projetos que estava desenvolvendo.

Um deles era o EP inédito com singles lançados separadamente. Bia Nogueira chegou a lançar três canções desse trabalho –  “Ignomínia”, “Retrovisor” e “Dandara” –, voltadas para o universo da eletrônica, mas decidiu pausar os lançamentos para retomá-los em momento mais oportuno.

“Antes da pandemia, tinha planos de morar entre BH e São Paulo. Agora, estou entre BH e Mario Campos, onde busquei uma cura emocional. Estamos vivendo um problema sanitário e político seriíssimo, atingindo números altíssimos de mortos por causa de uma política que não colocou a vida humana em primeiro lugar. Por outro lado, este momento possibilitou o movimento de me rever e tentar entender quais seriam os próximos caminhos a serem trilhados”, avalia.

O ator e cantor Rodrigo Jerônimo participa do vídeo de sexta-feira(foto: Flávio Patrocínio/divulgação)
O ator e cantor Rodrigo Jerônimo participa do vídeo de sexta-feira (foto: Flávio Patrocínio/divulgação)

NOVO DISCO

Atualmente, ela está gravando seu segundo álbum de estúdio, sucessor de “Diversa” (2018), que deve refletir as mudanças estéticas presentes nos singles lançados ao longo de 2020.

“Estou gravando a voz, mas já tenho muita coisa registrada. Fiz imersão em Macacos e saiu um disco que tem muito a ver com o momento que estamos vivendo”, adianta.

Segundo Bia, o trabalho está 80% pronto e terá duas participações especiais que ainda serão gravadas. Ainda não há previsão de lançamento.


“MOSTRA VERTENTES”

» Quinta (24/06)
. Com Bia Nogueira e Kátia Aracelle

» Sexta (25/06)
. Com Irene Bertachini e
Rodrigo Jerônimo

» Sábado (26/06)
. Com Rubens Aredes, Jardel Rodrim e Michelle Ferreira

» Domingo (27/06)
. Com Amorina, Larissa Horta e Vânia Silvério

Sempre às 20h, no canal da Associação Campo das Vertentes no YouTube. Mais informações no Instagram (@campodasvertentes)


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